22 mai, 2017 - 15:17 • Filipe d'Avillez
D. Pio Alves disse esta segunda-feira que para além de tentar apresentar boas notícias, os jornalistas têm o dever de tentar encontrar leituras positivas mesmo das notícias aparentemente más.
Exemplo disto é o próprio Evangelho, considera o bispo que ainda preside ao secretariado das Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Portuguesa, mas que em breve será substituído por D. João Lavrador.
“Não se trata, como é óbvio, de falsear ou inventar a realidade. Trata-se de ler a realidade ‘com os óculos certos’”, refere o bispo, citando termos usados pelo Papa Francisco na sua mensagem para o dia das Comunicações Sociais, que já foi divulgado Janeiro, mas que foi oficialmente apresentado esta segunda-feira, dia das Comunicações Sociais, no auditório da Renascença, em Lisboa.
Na sua mensagem, o Papa fala da responsabilidade e de cultivar as boas notícias, diz D. Pio, citando novamente a mensagem oficial: “Em Jesus Cristo), afirma o Papa Francisco, as próprias trevas e a morte tornam-se lugar de comunhão com a Luz e a Vida. Nasce, assim, uma esperança acessível a todos, precisamente no lugar onde a vida conhece a amargura do falimento”.
“E se até a morte não tem que ser má notícia o que é que não pode ter leitura positiva?”, conclui D. Pio.
Para o bispo auxiliar do Porto uma mensagem importante a reter do pontificado de Francisco é de que as imagens valem mais que as palavras, e dá exemplo. “O Papa Francisco fala do que sabe e do que pratica. Ainda há dias, entre nós, em Fátima, pontuou a sua mensagem com palavras – certamente! – mas, mais ainda, com gestos. Por exemplo: no dia 12, na Capelinha das Aparições, com um silêncio de cerca de oito minutos, trouxe muitas centenas de milhares de pessoas da euforia sensível ao recolhimento orante; no dia 13, na celebração da Eucaristia, o comovido abraço com a criança miraculada penetrou sensivelmente no coração da imensa assembleia.”
Graça Franco abriu o debate, sublinhando que os “óculos” a que o Papa se refere na sua mensagem não devem ser uma espécie de “spin” católico. “Estes óculos são para nós. Quem tem de rever a graduação somos nós. Parece que o Papa está a dizer que sofremos de alguma miopia que se resolve tendo bem presente comunicando que Deus morreu, ressuscitou, mas realmente está connosco. Nós temos realmente uma boa notícia a dar à nossa audiência.”
Recordando o exemplo de São Francisco de Salles, padroeiro do jornalismo, “Temos em cada tempo de ser suficientemente criativos, se a mensagem não passa de uma maneira, temos de a fazer passar de outra. Pequenas histórias. Foi assim que Jesus fez passar a sua mensagem.”
Em relação ao dilema entre transmitir boas ou más notícias e como as transmitir, Graça Franco diz que às vezes vale a pena educar a audiência e apontou para a capa do jornal “Público” de 14 de Maio, cuja primeira página era composta unicamente por boas notícias.
Júlio Isidro concluiu as intervenções, recordando que é necessário também dar más notícias quando elas são de facto notícia mas que “há uma coisa que nunca se deve fazer, é escarafunchar a dor”, considerou o veterano da comunicação em Portugal.
Júlio Isidro criticou ainda a noção de que os meios de comunicação devam dirigir-se ao “gosto médio” pois este, do seu ponto de vista, “é sempre o gosto abaixo da média”.