17 mai, 2017 - 12:35
Anabela Góis foi distinguida esta quarta-feira com a Ordem de Timor, atribuída pelo governo de Díli. A jornalista foi uma das repórteres da Renascença que, sobretudo, na segunda metade da década de 90 esteve várias vezes em Timor, dando conta dos problemas e desenvolvimentos do país.
“Foi uma cerimónia carregada de emoção”, descreve Anabela Góis, esclarecendo que “foram homenageada pessoas que deram contributos muitos diversos, mas sem os quais Timor não teria concretizado o sonho de ser um país independente”.
“Foi particularmente tocante o momento em que foram distinguidos os estafetas, pessoas simples mas com muita imaginação e que durante a ocupação e com risco da própria vida levavam as mensagens entre os guerrilheiros, mantendo viva a resistência à Indonésia”, sublinha.
Quanto aos jornalistas, o presidente referiu o “papel de divulgação sobre o que se passava em Timor, a começar pelo massacre de Santa Cruz - cujas imagens foram conhecidas graças à coragem dos jornalistas e foi a imprensa que alertou o mundo para o que se passava neste pequeno território”.
Timor é um dos países mais jovens do mundo. Em 1975, durante o período de descolonização portuguesa, a presença de Portugal foi afastada do país por forças internas de Timor. Nesse mesmo ano, a Indonésia acabou por invadir Timor onde permaneceu até ao fim da década de 90.
Dili, antes e depois
Agora de regresso a Timor, Anabela Góis nota claras diferenças no país.
“Logo à saída do aeroporto... há tantos carros e motos na estrada de Comoro, que vai para o centro da cidade, que parece estarmos em permanente hora de ponta. Mesmo a Avenida de Portugal - uma estrada marginal onde ficam muitas embaixadas e a residência do embaixador português - que antes era praticamente deserta, agora tem sempre muito movimento”, descreve.
A repórter da Renascença refere ainda a existência de “muitos negócios abertos ao longo da estrada, hotéis novos e até alguns de cinco estrelas”, bem como os “primeiros prédios com vários andares e até um centro comercial”. No entanto, permanecem os contrastes: “é possível ver um prédio ao lado de uma casa de madeira com telhado de zinco e bem perto um esgoto a céu aberto”.
No resto do país, está em marcha um plano de estradas para ligar todas as cidades que “vai mais ou menos a meio. Ou seja, a esta altura já é possível viajar por quase todo o país de uma forma relativamente rápida”.
A subida do nível de vida também é notório dado que há relatos de existirem “muitas famílias com possibilidades de mandar os filhos para estudarem no estrangeiro”.
Ainda se fala o português?
Questionada sobre o que resta da ligação a Portugal, Anabela Góis dá conta de um cenário desolador ao nível da presença da língua portuguesa.
“Como é que temos tantos professores de português neste país e como é que se fala tão mal português?”, questiona a jornalista, considerando ser decepcionante pensar no investimento que Portugal fez ao longo de todos estes anos.
“Estive cá na altura em que esse programa [de ensino do Português] foi lançado e fui às escolas onde as crianças de seis anos cantavam em português e já diziam algumas palavras. Havia um grande esforço para que todas as pessoas falassem em português”, garante.
Passados 15 anos, a presença da língua nas camadas mais jovens é praticamente inexistente. “Há muitos jovens que era natural que já falassem português porque já não viveram tanto no tempo de ocupação da Indonésia e já fizeram parte deste programa de ensino de português e continuam a não falar português. Falam tétum, falam inglês, dizem algumas palavras em português mas muito pouco”, remata.