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Opinião

Vais a Fátima?

09 mai, 2017 - 15:05 • Inês Dias da Silva

A beleza do próximo dia 13 de Maio e do povo que ali se vai reunir não depende do números de fieis, nem se vai chover ou fazer sol, mas apenas do “sim” que cada um de nós for capaz de dar.

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Inês Dias da Silva tem 35 anos. O seu filho Pedro tem quatro e sofre de deficiência profunda. Pedro está inscrito para a bênção dos doentes em Fátima, mas, devido ao agravamento do seu estado de saúde, não se sabe se poderá estar presente.


Acontece-me com frequência perguntarem-me “vais à festa deste?” ou “vais à apresentação daquele?”. Por mais vezes que me perguntem fico sempre nervosa a pensar se terei recebido um convite ao qual não respondi ou a pensar que não fui considerada para algum evento interessante. Seja qual for a situação, fico sempre com a impressão estranha de que a minha adesão ao dito convite possa ter alguma influencia na adesão do outro.

Nos próximos dias 12 e 13 de Maio, o Papa Francisco vem a Fátima, celebrar o centenário das aparições e canonizar o Francisco e a Jacinta.

“Vais a Fátima?”

"Claro que sim! Afinal, é um momento histórico. Na verdade, são três momentos históricos num só - a primeira visita do Papa Francisco a Portugal; o centenário da primeira aparição de Nossa Senhora e a canonização das duas crianças portuguesas. Vou e tenho que libertar alguma memória no telemóvel para tirar muitas fotografias e, quem sabe, uma selfie com o Papa no cenário. Espero que não haja nenhum blackout nas comunicações para poder postar em real time.”

Aos pastorinhos foi-lhes feito um convite há 100 anos, que através deles é-nos feito hoje também a nós: “Quereis oferecer-vos a Deus?”

“OK... Mas no dia 13 de Maio quero mesmo estar em Fátima…”

No livro “O Mistério dos Santos Inocentes”, Charles Peguy capta bem este espírito quando escreve: “Quereis muito oferecer-me grandes sacrifícios, desde que possais escolhê-los. Preferis oferecer-me grandes sacrifícios, desde que não sejam aqueles que vos peço a fazer-me outros que eu vos pediria.”

Há algum tempo que, por razões de doença na família, é difícil responder “sim, claro!” a qualquer convite que seja. A minha resposta tende a ser mais “Obrigada pelo convite, posso confirmar mais perto da data? Tipo… cinco minutos antes?” A minha vida é imprevisível assim. Mas cada imprevisto é um convite. Cada imprevisto é, na verdade, este convite: “Quereis oferecer-te a Deus?”.

Porque o que Ele pede, eu não escolho. Como os pastorinhos não escolheram. O que posso escolher é dizer "sim" ou "não" a esse pedido, seja ele qual for. E esse pedido é pessoal e intransmissível. Não é uma adesão em massa, mas uma massa de adesões individuais, que são as pedras vivas da Igreja de hoje, construída sobre aquela primeira pedra que foi o primeiro "sim" do primeiro Pedro e, depois, sobre o "sim" da Jacinta, o "sim" do Francisco, sobre o "sim" deste Pedro que no ano 2017 vem a Fátima.

A verdade é que o “estar lá” tornou-se o valor das coisas, desde que o “lá” seja para onde o mundo esteja voltado: o concerto tal, a final do tal campeonato ou mesmo Fátima, no centenário. Pode-se muito facilmente ir a Fátima este fim-de-semana menos como peregrino e mais como um fã que o que quer é voltar a casa e poder dizer: “Eu estive lá!”.

A poucos dias de distância, o meu desejo é aprofundar a consciência de porque é que afinal se vai a Fátima. Dizia o meu pai que se vai a Fátima, em primeiro lugar, para responder ao pedido de Nossa Senhora e que, “depois, por muitas razões que nem nós sabemos. (…). É uma verdadeira experiência, porque nela descobrimos a inteligência do sentido das coisas”.

A beleza do próximo dia 13 de Maio e do povo que ali se vai reunir não depende do números de fieis, nem se vai chover ou fazer sol, mas apenas do “sim” que cada um de nós for capaz de dar, cada um no seu lugar, cada um na sua circunstância. Possamos assim descobrir a inteligência do sentido das coisas, como ela foi revelada em Fátima, a cada momento dos últimos 100 anos.

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