28 abr, 2017 - 17:30
A discussão sobre a dívida pública portuguesa voltou à ordem do dia com a publicação de um documento elaborado pelo grupo de trabalho formado pelo Partido Socialista e o Bloco de Esquerda. A proposta de reestruturação da dívida, segundo os cálculos do grupo, é de 31%, ou seja para 91,7% do Produto Interno Bruto (PIB).
O Governo subscreve algumas das ideias dos economistas convidados e dos deputados, mas não o documento.
O que propõe o grupo de trabalho de reestruturação da dívida?
Há quatro grandes propostas:
Quais os principais objectivos?
Quais seriam as poupanças?
No total, com estas quatro medidas, o relatório calcula uma poupança de 451 milhões de euros este ano e de 410 milhões de euros em 2018, subindo até aos 1.162 milhões em 2023.
Todas dependem apenas da gestão nacional?
Não. A proposta de definir uma taxa de juro média de 1%, mais baixa que a actual e aumentar o prazo de pagamento de 15 para 60 anos, mais 45 que o actual prazo para reembolsar os empréstimos europeus, depende dos parceiros europeus.
O grupo pede que haja um perdão de dívida?
O grupo de trabalho não sugere nenhum “haircut”, ou seja, uma redução do valor nominal da dívida. Essa foi uma solução muitas vezes avançada pela esquerda. A reestruturação abrange apenas 31% da dívida. A dívida detida pelos privados fica de fora desta reestruturação.
O que diz o Governo?
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, definiu o grupo de trabalho sobre a dívida, formado por deputados do PS e do BE, como "credível e qualificado", mas reiterou que o relatório não vincula o Governo. "Obviamente que não estamos vinculados enquanto Governo" ao texto, disse Pedro Nuno Santos.
O secretário de Estado do Orçamento, João Leão, sublinha que o Governo não assina o relatório, mas concorda "até certo ponto" com três propostas: mais dividendos do banco central, amortizações antecipadas ao FMI e alongamento das maturidades dos empréstimos europeus, mas não de forma unilateral.
Por que é que não o PCP não esteve envolvido?
Pedro Nuno Santos lembrou que a posição assinada entre PS e BE era a única que previa um grupo sobre a dívida, não estando em causa a presença ou não do PCP.
"A única posição conjunta [para formação de uma maioria que sustentasse o Governo] que previa a constituição de um grupo de trabalho" sobre a dívida "era a assinada entre o PS e o BE".
E o Presidente da República gosta das propostas?
"É um relatório interessante que se divide em três partes, uma parte de medidas imediatas, que são talvez aquelas mais importantes, porque dizem respeito à gestão da dívida este ano e nos próximos anos, à emissão de dívida, quando se deve emitir, os juros, a redução de juros, a redução dos prazos e o pagamento da dívida ao Fundo Monetário Internacional, que tem os juros mais elevados", disse Marcelo Rebelo de Sousa.
O grupo de trabalho acredita que estas medidas resolvem o problema da dívida portuguesa?
“É evidente que só as quatro medidas pontuais propostas pelo grupo de trabalho são insuficientes para alterar de forma estrutural a actual dinâmica da dívida pública portuguesa”, lê-se no relatório.