Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

​Teleconsultas entram na rotina dos centros de saúde

04 abr, 2017 - 06:30 • Dina Soares

Mais de 10% das consultas de dermatologia do SNS já são feitas à distância. Os meios digitais estão a entrar em força na área da saúde e as suas potencialidades estão a ser debatidas por estes dias em Lisboa.

A+ / A-

Ficar meses à espera de uma consulta de dermatologia ou ter de andar quilómetros até ao hospital mais próximo para ser visto por um especialista começa a ser coisa do passado. Actualmente, mais de 10% das consultas desta especialidade no Serviço Nacional de Saúde já são dadas à distância através de meios digitais.

Nestas teleconsultas, o doente e o seu médico de família estão no centro de saúde e partilham o consultório com o dermatologista, que pode estar a centenas de quilómetros, num hospital. A experiência começou já a ser alargada às consultas de acompanhamento do pé diabético e a algumas consultas de neurologia.

“Estamos a assistir a uma fenómeno muito recente, talvez do último ano ou menos, em que o desejo de serem mais eficazes e mais rápidos na detecção e tratamento está a fazer com que os profissionais de saúde ultrapassem os seus receios e desconfianças relativamente às teleconsultas”, diz o director dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, Henrique Martins.

Os doentes “sentem-se mais seguros ao saberem que o seu centro de saúde pode ter mais valências e não valorizam minimamente o facto de o especialista não estar fisicamente presente”.

Poupar levando o hospital para casa

A entrada em força do digital na área da saúde é o grande tema da Portugal eHealth Summit, que começa esta terça-feira e termina na quinta, na Sala Tejo da Meo Arena, em Lisboa.

A iniciativa junta mais de oito mil pessoas – segundo a organização – entre profissionais da saúde, empresários, autarquias e organismos públicos. Em debate vão estar muitas experiências em curso um pouco por todo o mundo, mas também muito do que já está a ser feito em Portugal.

É o caso do programa piloto de telemonitorização. Começou há dois anos e envolve 75 doentes, que são acompanhados em casa por profissionais de cinco hospitais. Uma das áreas de maior sucesso está na resposta à doença pulmonar obstrutiva crónica, que é já a quarta causa de morte em Portugal.

“Esta monitorização em casa significa que nós conseguimos perceber se o doente está a piorar e intervir antes de ele ir às urgências. Investir nesta tecnologia sai mais barato ao Estado português do que pagar consultas de urgência, internamentos, antibióticos, além de evitar os riscos das infecções hospitalares”, explica Henrique Martins.

SNS sem papéis já esteve mais longe

Outro dos objectivos do Governo passa por optimizar a gestão dos hospitais e centros de saúde, tornando realidade o programa “SNS sem papéis”.

De acordo com o director dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, os hospitais públicos já estão bastante bem equipados, mas ainda há muitos circuitos que não estão bem coordenados entre si. “As administrações hospitalares já perceberam que têm que investir, não tanto na compra de mais software, mas sobretudo na revisitação e simplificação dos processos. É uma espécie de programa Simplex da saúde.”

A agilização destes procedimentos vai permitir – acredita Henrique Martins – que em breve acabem os exames em papel, os doentes possam pedir credenciais pelo telefone, os boletins de vacinas passem a ser digitais para toda a população ou que os médicos de família passem a receber os resultados das análises por via electrónica.

O valor dos dados

O caminho da digitalização conduz, inevitavelmente, à recolha de uma quantidade imensa de dados, o que levanta novos problemas.

O Governo está a equacionar a aprovação de uma nova lei de dados da saúde e um reforço na segurança, privacidade e confidencialidade dos dados.

Por outro lado, é importante tirar benefícios do valor económico e científico desses dados. Henrique Martins dá exemplos da importância destes dados: “Em Portugal, já se faz muita investigação nas universidades e alguma dessa investigação começa a impor-se a nível internacional. Há universidades que geram empresas, que geram patentes, que geram valor económico para o país.”

Por todas estas razões, é importante fazer uma boa síntese entre os dados recolhidos e a sua utilização de forma correcta. A nível dos cuidados de saúde primários, Portugal é um dos países com maior quantidade de dados recolhidos, que podem ajudar a promover estratégias de saúde pública e a desenvolver novos medicamentos e novas estratégias terapêuticas. Uma vantagem competitiva que o director dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde considera que não pode ser desperdiçada.

Cuidado com as “apps” estrangeiras

A digitalização na área da saúde passa também pelas aplicações para telemóvel. Neste momento, o Ministério da Saúde tem duas: a “MySNS”, uma aplicação com informações gerais sobre o Serviço Nacional de Saúde, que conta com 56 mil “downloads”; e a “MySNS Tempos”, que permite ver os tempos de espera para consultas, cirurgias e atendimento nas urgências. No último Inverno, três milhões de pessoas acederam a este serviço.

Henrique Martins lembra que a esmagadora maioria das outras aplicações são criadas nos estrangeiro, sobretudo nos Estados Unidos, o que não permite às autoridades portuguesas controlar o destino dos dados que ali são inseridos pelos utilizadores. Além disso, são aplicações baseadas em culturas, hábitos e calendários muito diferentes dos portugueses, podendo induzir em erro os seus utilizadores – por exemplo, se as pessoas confiarem nelas para controlar a vacinação dos filhos.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+