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​Crise dos refugiados do Mediterrâneo é "o novo Holocausto" europeu

30 mar, 2017 - 07:55

Médico que prestou serviço durante 26 anos na ilha de Lampedusa diz que as medidas tomadas para evitar as mortes no mar não foram suficientes.

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O fenómeno dos refugiados do Mediterrâneo é "o novo Holocausto" europeu, considera Pietro Bartolo, médico na ilha de Lampedusa e co-autor, juntamente com a jornalista Lídia Tilotta, do livro "Lágrimas de Sal", que é apresentado esta quinta-feira em Lisboa.

Natural de Lampedusa, onde serviu como médico durante 26 anos, Bartolo prestou os primeiros cuidados médicos - e muitas vezes os últimos, limitando-se a certificar a morte - a muitos milhares de refugiados que chegaram à ilha italiana que serve de porta de entrada para a Europa.

De acordo com os dados mais recentes da Organização Internacional para as Migrações (OIM), pelo menos 481 migrantes ou refugiados morreram ou desapareceram ao tentar fazer a rota do Mediterrâneo Central (entre a Líbia e a Itália) este ano, um número mais de três vezes superior aos 159 do mesmo período do ano passado.

Já foram resgatados mais de 20 mil migrantes nesta rota desde o início do ano.

"As medidas que a Europa tomou para evitar as mortes destas pessoas no Mediterrâneo, evidentemente, não foram suficientes. Na verdade, até acções louváveis - como a Mare Nostrum, a Triton ou a Frontex - tornaram-se numa vantagem para os traficantes de homens, que em vez de comprar barcos duráveis, como faziam antes, começaram a usar barcos de borracha baratos que se afundam facilmente, aumentando assim os naufrágios e as mortes", disse à agência Lusa Pietro Bartolo.

O médico - que narra no seu livro as histórias cruéis contadas pelos muitos refugiados que tratou - considera que os líderes europeus "devem tomar medidas imediatas" para travar este fenómeno, até como forma "evitarem ser acusados, no futuro próximo, de ser responsáveis por este novo Holocausto".

Apesar de o fenómeno das mortes de refugiados no Mediterrâneo entrar pelas casas dos europeus adentro, ciclicamente, nos noticiários das televisão e através dos jornais e da Internet, os autores consideram que o formato do livro ajuda a contar a história com um maior fôlego.

A jornalista Lidia Tillota sublinha que os autores decidiram "contar as [várias] histórias para contar 'a história'" global", escolhendo "testemunhos concretos". "Escolhemos não embelezar nada", disse Tillota, acrescentando que se trata de uma narrativa "que não traz qualquer honra à Europa".

Pietro Bartolo e Lidia Tillota consideram que "Lágrimas de Sal" é um livro "pensado e escrito para contar a verdade sobre o que acontece com aqueles que são forçados a deixar o seu país para escapar à guerra e à fome". E ambos têm a esperança de que este possa "servir para agitar a consciência daqueles que ainda hoje, apesar de terem o poder de intervir, não o fazem".

"O nosso objectivo é 'infectar' tantas pessoas quantas for possível com os 'vírus' do acolhimento e da solidariedade. Gostamos de dizer que este é um livro 'político' e, de facto, é isso que ele é", afirmam os autores.

O livro "Lágrimas de Sal" é apresentado esta quinta-feira às 19h00 em Lisboa, no espaço Nimas, com a presença dos dois autores e de Rita Sacramento Monteiro, da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).

Comentários
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  • vaca voadora
    30 mar, 2017 Santarém 21:58
    Muitos deles vêm de África onde o paraíso comunista prometido parece não ter resultado bem pelo contrário!
  • CAMINHANTE
    30 mar, 2017 LISBOA 15:16
    Comparação totalmente descabida... e sempre a culpabilizar os Europeus... os "outros" são todos uns desgraçados, uns perseguidos, uns santos, uns anjinhos... os Europeus é que são mesmo os maus da fita...
  • tuga
    30 mar, 2017 lisboa 10:04
    Levem a tribunal quem provocou as guerras por interesses económicos, estratégicos, etc. a fundação hillary clinton intermediou um negócio de armas EUA/Arábia saudita de 2 biliões de dólares!! durão barroso, bush, etc que destruíram o Iraque nada lhes acontece??? somos nós que temos de levar com os refugiados?? enquanto quem fez as guerras passeia-se a gozar de milhões ganhos com as guerras???
  • Seguidismos
    30 mar, 2017 Lisboa 09:01
    Foram atrás do Bush e dos "cámones" que só queriam aventuras militares porque estavam chateados com os ditadores na altura, no Poder. Pensaram estar a fazer as "Primaveras Árabes". No final, depuseram ditadores que apesar de tudo, mantinham uma certa ordem nos Países, Países esse que agora estão arrasados, envolvidos em guerras fraticidas, sem sombra de ordem ou governo estabelecido. Os "cámones" retiraram para o seu País, e os naturais desses países, sem nada e em risco de vida, vêm todos para "cá". Excelente táctica, essa do seguidismo ao Bush. Como é que os políticos Europeus se lembram destas coisas?

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