28 mar, 2017 - 20:04 • Susana Madureira Martins
Paulo Rangel é vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE), vice-presidente do grupo parlamentar da maior família política europeia e é o autor das teses que vão ser discutidas e aprovadas nos dois dias de congresso do PPE em La Valetta, Malta.
O congresso do PPE contará com a presença de diversos dirigentes europeus, incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, estava agendado para discursar esta quarta-feira, mas cancelou, invocando razões pessoais.
O eurodeputado, em entrevista à Renascença, admite que o Partido Social Democrata (PSD) tem uma “influência grande” no PPE, maior do que certamente tem o país no contexto europeu”, sublinhando que é a única pessoa a ocupar dois cargos de vice-presidência no PPE. “Para Portugal e para o PSD são boas notícias”, acrescenta.
Questionado sobre se consegue mexer no xadrez europeu, Rangel responde: “conseguimos influenciar”. E detalha como: “Pelo diálogo com os países que são afins”. “Não actuamos sozinhos, procuramos ter aliados nas várias posições que defendemos e temos uma influência que, diria, é uma representação superior àquela que era devida.”
Paulo Rangel explica que os dois cargos que ocupa dão a Portugal uma capacidade de intervenção e de acesso à informação “antes mesmo dos dados jogados, que permitem minimizar e influenciar algumas das desvantagens”.
O social-democrata diz ter tido “um papel que tem ajudado muito o Governo” português, socialista, dando o exemplo das sanções. “Penso que tivemos um papel muito importante, que, aliás, foi reconhecido pelo Governo – no início não, mas depois sim.”
Turquia na União Europeia? Não, obrigado
Paulo Rangel é autor das teses que o Congresso do PPE discute a partir desta quarta-feira. No documento final negociado pelos partidos que constituem esta família política do centro-direita europeu fica escrita a exclusão da Turquia como membro da União Europeia.
Esta foi uma imposição no texto por parte da “França e da Alemanha, que são claramente contra a integração da Turquia”. Rangel afirma que este país “não tem quaisquer condições de ser integrada”, mas também considera que “não era necessário dizê-lo desta forma e isolar este caso".
“Penso que isso pode criar algum ressentimento até justificado por parte da opinião pública turca”, argumenta.
“As perspectivas de uma integração da Turquia são praticamente zero”, diz o social-democrata. “Já era muito difícil antes”, mas, com a actual “deriva autoritária e ditatorial contrária aos direitos fundamentais e à democracia de [Recep Tayyip] Erdoğan”, a Turquia afasta-se da UE “em vez de se aproximar”.
François Fillon, o fragilizado
Muitas das atenções no congresso do PPE estarão voltadas para François Fillon. O candidato do centro-direita às eleições presidenciais de França participa no congresso do PPE como membro dos Republicanos e surge em Malta não “fragilizado”, mas “muito fragilizado”, considera Paulo Rangel.
O vice-presidente do Partido Popular Europeu diz que “há noção clara de quase todos os partidos do PPE de que François Fillon, perante as acusações que foram feitas, independentemente de serem verdadeiras ou não, a partir do momento que têm chancela das autoridades francesas para uma investigação, não deveria ter prosseguido com a corrida”.
Fillon “está com isso a prejudicar o seu partido e a prejudicar a França”, acrescenta. Esta é a opinião “que muitos dos participantes do Congresso têm”. Estes “não terão a indelicadeza de confrontar Fillon no terreno do congresso”, pensa Rangel, mas o francês “terá de enfrentar a imprensa europeia”, diz.
[Notícia actualizada com cancelamento de Pedro Passos Coelho às 23h39]