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Antigo primeiro-ministro espanhol diz que Europa “vive crise existencial”

28 mar, 2017 - 00:20

A solução para a situação actual da Europa passa por recuperar o “espírito fundacional” da união, considera o europeísta José Maria Aznar.

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O antigo primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar defendeu esta segunda-feira que a União Europeia vive uma “crise existencial”, após a saída do Reino Unido, admitindo o cenário de contágio noutros países europeus, pondo em risco a própria UE.

“Esta crise não é de crescimento, é existencial. Porque houve um país, o Reino Unido, que decidiu sair da União Europeia. E isso pode ser contagioso para muitos outros países, e nas circunstâncias atuais do mundo, em que há forças distintas que empurram de vários lados, isso põe em risco a própria existência da União Europeia”, disse Aznar, durante a conferência: “Portugal e Espanha: oportunidades e ameaças num contexto global”, realizada em Lisboa.

O ex-governante espanhol entende que a resposta europeia perante esta nova realidade não pode ser a resposta clássica de “mais Europa”, pois “não é essa a resposta que os cidadãos querem, as sociedades aguentam, nem é necessária nem conveniente”.

Europeísta convicto, José Maria Aznar aponta que a outra resposta possível para enfrentar o momento actual seria “terminar com a Europa”, como defendem os partidos populistas. “Essa seria a pior resposta possível”, vincou o antigo presidente do Governo espanhol.

Segundo o ex-primeiro ministro espanhol, a solução passa pela recuperação do “espírito fundacional” da União Europeia.

“Recuperação do espírito fundacional para a construção da Europa possível, da Europa viável, de uma Europa concentrada nas suas competências, que respeita a identidade dos estados nacionais, que se dedica à união bancária, ao mercado interior, que é um dos nossos activos mais importantes, que se dedica a fomentar o livre comércio no mundo e a ter uma política energética comum, que garanta a nossa capacidade de influência”, vincou Aznar, apelando a que se faça um esforço para que se mantenha a viabilidade da Aliança Atlântica.

Perante uma plateia de várias dezenas de presentes, no Museu do Oriente, o antigo primeiro-ministro de Espanha frisou que este não é a ocasião para se discutir quantas velocidades tem a Europa.

“Não é o momento para discutir quantas velocidades há na Europa, porque já existem distintas velocidades. Quando agora se fala de velocidades diferentes na Europa, o que se está a falar é de quantas Europas distintas vão existir no futuro e não de quantas velocidades vão existir”, alertou o antigo governante espanhol.

José Maria Aznar salientou que é essencial a prática de “uma política séria, fundamentada numa Europa viável” com decisões profundas para que haja união.

Quanto ao Brexit, Aznar considera tratar-se de um “capítulo fundamental para a Europa, para Espanha e para Portugal”, que vai causar muitos impactos adversos na economia europeia.

“Penso que perdemos na Península Ibérica um aliado natural e que essa perda é uma descapitalização seria da União Europeia e uma perda de equilíbrio importante”, afirmou o ex-governante.

Agora, mais do que nunca, defende José Maria Aznar, é essencial que Portugal e Espanha aprofundem o “vínculo do Atlântico” e “adoptem políticas claras mas muito importantes”.

“Liderar dentro da União Europeia a aposta no livre comércio é uma aposta forte para o Atlantismo como garantia de futuro e é aprofundar aquilo que está no nosso ADN, aquilo que também nos interessa e aquilo que pode ser mais útil na construção da Europa possível”, exemplificou o antigo primeiro-ministro de Espanha.

Aznar disse ainda que seria “muito importante” para a União Europeia que fechasse acordos com a Aliança do Pacífico e com os países do Mercosul (mercado comum do Sul).

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