24 mar, 2017 - 18:33 • Sérgio Costa , Isabel Pacheco
Quatro pessoas foram assassinadas esta sexta-feira na freguesia de São Veríssimo, em Barcelos. O homicida estava há seis meses a cumprir pena suspensa por agressão à filha e à ex-sogra, razão que levou o tribunal a interditar a sua aproximação da família.
Segundo os populares da freguesia e o presidente da junta da mesma, o episódio poderá ter levado a um ajuste de contas com estas quatro vítimas, que se recusaram a serem testemunhas a favor do homicida.
A Renascença falou com um investigador e sociólogo do ISCTE de Lisboa sobre o múltiplo homicídio em Barcelos desta sexta-feira. António Pedro Dores diz que a imagem que temos das relações familiares tende a não corresponder à realidade, e que, por vezes, as relações mais intimam são também as mais violentas.
“Vemos a imagem de família como uma relação amorosa entre as várias gerações, mas é uma imagem que não corresponde à realidade. Infelizmente, na prática, as relações mais íntimas são também - além da parte amorosa, que sempre existirá - as mais violentas”, observa o especialista.
O número de casos de violência não varia com a classe social, haverá, sim, diferenças que explicam e relacionam estes casos com os contextos sociais.
“Se os contextos sociais são importantes? Sim. Se me pergunta se há mais violência nas classes mais baixas e menos violência nas classes mais altas - a maior parte dos especialistas tendem a pensar que não há uma diferença extraordinária em termos familiares”, aponta António Pedro Dores.
“O que há é uma diferença de visibilidade. Mas, tanto quanto se pensa, a violência doméstica, ou em momentos familiares, é uma coisa semelhante em termos de incidência, embora possa ter aspectos diferentes - como por exemplo a violência ser mais psicológica, mais mental, do lado das pessoas que têm capacidade para o fazer; as mais bem formadas. Tende ser mais física e mais corporal do lado das pessoas que têm menos formação”, sublinha ainda o especialista.