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Sexagenária Europa deve "traçar novos rumos"

24 mar, 2017 - 16:23 • Filipe d'Avillez

Aos 60 anos, disse Francisco aos líderes europeus, a Europa não está condenada a ser uma instituição em decadência. Francisco alertou para os perigos, mas disse que há esperança.

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Papa. UE "arrisca-se a morrer" sem ideais como a solidariedade
Papa. UE "arrisca-se a morrer" sem ideais como a solidariedade

O Papa Francisco traçou esta sexta-feira um retrato das instituições europeias, na véspera de completarem 60 anos, e apelou a que se percorram "novos rumos" para se revalorizar o património europeu "de ideais e valores espirituais", que é "único no mundo".

Francisco recebeu em Roma os líderes dos países da União Europeia, que se encontram naquela cidade italiana para assinalar as seis décadas da assinatura do Tratado de Roma, a 25 de Março de 1957, que lançou as fundações da actual União Europeia.

“Actualmente, com o aumento da idade média de vida, os 60 anos são considerados a idade da maturidade completa, um tempo crítico em que somos chamados a examinar a nossa vida. Também a União Europeia é hoje chamada a examinar-se, tratar das maleitas que inevitavelmente acompanham a idade e encontrar formas de traçar novos rumos. Mas, ao contrário dos seres humanos, a União Europeia não enfrenta uma velhice inevitável, mas a possibilidade de uma nova juventude”, afirmou o Papa.

“Enquanto líderes, são chamados a abrir o caminho do ‘novo humanismo europeu’, constituído por ideais e acções concretas. Isto passa por perder o medo de tomar decisões práticas capazes de resolver os problemas reais das pessoas e de resistir ao tempo”, concluiu.

O raio x e os perigos

Antes, Francisco tinha já feito um raio x da situação da Europa, apontando as suas fraquezas.

O Papa alerta para o perigo de se reduzir o ideal europeu a “um conjunto de regras a obedecer ou um manual de protocolos e procedimentos a seguir” e para a tentação de “reduzir os ideais fundadores da União às necessidades produtivas, económicas e financeiras”.

Francisco lamentou que os europeus se tenham esquecido de dois factores que marcaram os últimos 60 anos, a começar pela destruição das barreiras ideológicas que separavam os europeus do Oriente e do Ocidente.

"Onde gerações ansiavam ver a queda desses sinais de hostilidade forçada, hoje debatemos como manter ao largo as ‘ameaças’ do nosso tempo: a começar com a longa fila de mulheres, homens e crianças que fogem da guerra e pobreza, procurando apenas um futuro para si mesmos e para os seus familiares”, disse.

O outro facto de que a Europa se esqueceu, considera o Papa, é do valor de ter experimentado o maior período de paz da sua história desde a assinatura do Tratado de Roma.

Perigos de uma Europa a duas velocidades

Recordando que a génese da palavra “crise” é o grego para “oportunidade”, Francisco elenca pilares que, a serem tidos em conta, permitem à Europa ver o futuro com esperança.

“A Europa encontra nova esperança quando coloca o homem no centro e no coração das suas instituições”, disse Francisco, o que implica ultrapassar uma tendência de divisão entre os cidadãos e os órgãos da União e recuperar o “espírito de família”.

Francisco receitou a solidariedade como medicamento contra a ameaça do populismo e pareceu avisar para o perigo de uma “Europa a duas velocidades”, como tem sido sugerido recentemente. "Aqueles que conseguem correr mais depressa devem dar uma mão aos mais lentos e aqueles que têm mais dificuldade podem fazer por apanhar os que estão na frente da fila", defendeu.

"Medo" dos outros

A Europa deve, também evitar fechar-se e fiar-se em “falsas seguranças”. Mais uma vez, o Papa dá o exemplo da crise de imigrantes e refugiados que chegam agora à Europa.

“Que cultura é que a Europa propõe hoje? O medo que se torna mais e mais evidente tem na raiz a perda de ideais. Sem uma abordagem inspirada por esses ideais, acabamos dominados pelo medo de que os outros nos venham tirar os nossos hábitos, privar-nos dos nossos confortos familiares e pôr em causa um estilo de vida que, demasiadas vezes, assenta exclusivamente em prosperidade material.”

“A Europa”, diz o Papa, “tem um património de ideais e valores espirituais único no mundo, que merece ser proposto mais uma vez com paixão e vigor renovado, porque constitui o melhor antídoto contra o vácuo de valores do nosso tempo, que fornece terreno fértil para todas as formas de extremismo".

Por fim, afirmou Francisco aos líderes europeus, a esperança da Europa depende de um investimento no desenvolvimento e na abertura ao futuro, uma vez que não pode existir paz enquanto houver desigualdade, pobreza e violência nas periferias das sociedades. O investimento no futuro, para Francisco, passa por apostar na família, “primeira e mais fundamental célula da sociedade”, e no respeito pelas “consciências e ideais dos seus cidadãos”, permitindo que os seus cidadãos tenham filhos “sem medo de não os poder criar”.

Durante o seu discurso, Francisco referiu-se várias vezes, com citações, aos pais fundadores da União Europeia, recordando que os unia, entre outras coisas, a “consciência de que na origem da civilização europeia está o cristianismo, sem o qual os valores ocidentais da dignidade, liberdade e justiça seriam em grande parte incompreensíveis”.

Comentários
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  • Pinto
    24 mar, 2017 Porto 23:11
    Quais novos rumos? Isto está nas mãos de China e dos muçulmanos, o resto são bonecos.

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