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Carlos Carreiras. "Fernando Medina também não tinha grande notoriedade"

23 mar, 2017 - 00:01 • Raquel Abecasis (Renascença) e Sónia Sapage (Público)

Carlos Carreiras, 55 anos, é vice-presidente do PSD e coordenador autárquico do partido. Também preside à Câmara Municipal de Cascais, à qual é recandidato, arriscando-se a ter uma das vitórias mais expressivas da noite eleitoral.

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Carlos Carreiras. "O actual presidente [da câmara de Lisboa] também não tinha grande notoriedade"
Carlos Carreiras. "O actual presidente [da câmara de Lisboa] também não tinha grande notoriedade"

Está tão seguro que o PSD vai ganhar as eleições autárquicas que Marcelo Rebelo de Sousa pré-anunciou para o dia 1 de Outubro, que combinou com a Renascença e o "Público" uma entrevista para o "day after". Se não for a vitória do PSD, será pelo menos a sua.

Recandidato à câmara de Cascais, cuja presidência herdou em 2011 e conquistou em 2013, Carlos Carreiras deverá ser um dos sociais-democratas vencedores na noite das eleições locais. Mas será também um dos rostos a responsabilizar pelos resultados do resto do país. "O resultado é partilhado porque a decisão é partilhada", assume.

Começando pela escolha de Teresa Leal Coelho para a Câmara de Lisboa, não é demasiado arriscado apostar num nome que as pessoas em geral desconhecem?

Nós privilegiámos apostar não só em vitórias quantitativas, mas também em vitórias qualitativas: colocámos o foco em preparar projectos e estratégias de relançamento dos próprios municípios. Por isso, consideramos que a par do candidato, o programa que será apresentado, e a equipa, será cada vez mais importante. Um presidente de câmara tem hoje uma multiplicidade de assuntos a que tem de se dedicar e precisa de ter uma equipa muito competente.

Faz sentido, desde que as pessoas tenham uma motivação para ir votar. Quando há um cabeça de lista desconhecido, isso não existe.

Já lá vamos, à motivação. As vitórias quantitativas são fundamentais porque é preciso ter mais um voto do que a lista adversária, mas o mais importante são as qualitativas: nós sabermos o que queremos fazer com o mandato que recebemos dos munícipes.

Nesse sentido, Teresa Leal Coelho é uma profunda conhecedora da cidade, dos problemas e das oportunidades, tem uma paixão por Lisboa muito grande, tem uma enorme competência e um enorme rigor do ponto de vista intelectual e da sua capacidade de intervir e é nesse sentido que consideramos ter uma excelente candidata a Lisboa.

Diz que a candidata conhece a cidade, mas ninguém em Lisboa conhece uma ideia dela para a cidade...

Mas vai conhecer agora, por isso é que estou a colocar o enfoque no programa.

Teresa Leal Coelho vai herdar um programa que nem sequer foi feito por ela.

Não, repare: Teresa Leal Coelho é vereadora em Lisboa, tem conhecimento dos temas da cidade. Estamos em crer que há argumentos mais do que suficientes para podermos ir às eleições para disputá-las, tendo a noção e a consciência de que seriam sempre eleições difíceis, porque também está estatisticamente comprovado que presidente de câmara que se recandidate tem sempre uma vantagem maior.

Estamos muito confiantes de que Teresa Leal Coelho vai fazer uma grande campanha e vai poder apresentar aos lisboetas um programa que faça essa mobilização. Em Lisboa, 55% dos eleitores não votaram, nas últimas eleições. Há um grau de progressão grande.

Não reconhece que há um problema de notoriedade em relação a Teresa Leal Coelho? Ontem apanhei um táxi e o motorista, percebendo que eu sou jornalista, aproveitou para me perguntar quem ela é.

Não sabe quem é, mas tem curiosidade. O actual presidente [Fernando Medina], que não foi a eleições, também não tinha grande notoriedade. Ninguém o conhecia. E já era vice-presidente. Ela é deputada, tem tido uma participação muito grande e muito competente a nível do Parlamento e já tem o seu grau de notoriedade. Uma campanha, naturalmente, vai fazer subir esse grau de notoriedade.

Em relação a esta escolha, foi consultado ou informado?

O PSD tem um processo estatutário que, nestas matérias, é muito partilhado, democrático e transparente. Qualquer processo autárquico começa pelo envolvimento das concelhias que fazem uma proposta às distritais que votam essa proposta. Depois, a comissão política nacional homologa, ou não, as propostas que vêm das distritais.

No caso de Lisboa, o normal é logo no início do processo quer as concelhias quer as distritais passarem essa responsabilidade directamente para as instâncias nacionais. Desta vez, a concelhia entendeu desenvolver o processo. Quando chegou a uma fase posterior em que não encontrou a solução é que passou para o nível nacional. Nesse sentido, foi assim que trabalhámos e foi assim que escolhemos a candidata, informando quer a concelhia quer a distrital.

No final, o que interessa são os resultados. Esta semana disse que, mais do que quem ficava em primeiro ou em segundo, o que interessava era que as duas candidatas do PSD e do CDS ficassem nos dois primeiros lugares. É-lhe indiferente a ordem dos factores?

Eu expressei-me mal. Todos temos os nossos momentos em que saem frases que não são propriamente aquilo que queríamos transmitir, mas o resultado dessa afirmação cumpriu-se. Nós vamos disputar as eleições, há um potencial muito grande para ir motivar e mobilizar os eleitores - há 55% de abstenção - e o nosso adversário não é o CDS. É o PS.

Iria recordar uma diferença grande destas eleições para as de 2001, quando o PSD tinha deputados, dirigentes nacionais, gente de topo envolvida na campanha e em candidaturas. Fernando Seara em Sintra, Pedro Santana Lopes em Lisboa, Carlos Encarnação em Coimbra, Rui Rio no Porto, António Capucho em Cascais... Essa capacidade de mobilização das cúpulas já não existe?

Nós vamos apresentar 308 candidatos de topo, porque o que interessa é que sejam de topo nas suas terras, nos seus municípios.

Aquela foi uma das maiores vitórias do PSD a nível autárquico...

Foi a maior derrota do PS através de umas autárquicas.

Reconhece diferenças entre Rui Rio e Álvaro Santos Almeida, e entre Teresa Leal Coelho e Pedro Santana Lopes?

São bons exemplos, quer Rui Rio quer Pedro Santana Lopes, de candidatos em que ninguém acreditava que pudessem ganhar. Estamos a jogar com uma coisa que é fazer uma análise dos prognósticos depois dos finais dos jogos, que é sempre muito fácil. Mas se recuarmos, neste caso, a 2001, Rui Rio foi dado como um perdedor à partida, sem notoriedade. Toda a gente vaticinava que Rui Rio e Pedro Santana Lopes perderiam. Ganharam os dois, como se ganhou em muitas outras câmaras.

Nestes 16 anos muita dessa gente ganhou também notoriedade e hoje olha-se para eles com uma apreciação maior do que tinham.

Disse sempre que é o principal responsável pelo resultado destas eleições, mas tendo sido o processo de Lisboa gerido como foi, não acha que o resultado será mais da responsabilidade do líder do partido do que sua?

Não. Continuo a dizer que eu sou, de facto, o principal responsável, como tenho dito e como irei ter oportunidade de dizer no dia da vitória que vamos obter nas próximas eleições autárquicas, mas é uma vitória que vai ser partilhada, o resultado é partilhado porque a decisão é partilhada.

O que é para si uma vitória?

Sempre o afirmámos: ter o maior número de câmaras e de freguesias para ganhar a Associação Nacional de Municípios e a Associação de Freguesias.

Não sente uma agitação no PSD? O partido está com o líder?

Já fiz mais de dez mil quilómetros pelo país, na última contabilidade, contactei todas as estruturas do partido e o que vejo é um PSD bastante mobilizado, unido, com a capacidade de ter os tais argumentos que lhe vão possibilitar ter uma vitória em Outubro próximo.

Comentários
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  • Fernando nora
    02 abr, 2017 Lisboa 13:31
    Este tipo é muito mau!
  • Filipe
    23 mar, 2017 Lisboa 19:28
    O PSD a lutar pelo terceiro lugar em Lisboa. Adoro!
  • José Bonifácio
    23 mar, 2017 Países Baixoa 11:18
    Este Carreiras não passa de outro Dijsselbloem em versão tuga.
  • Luis
    23 mar, 2017 Lisboa 10:49
    O Carreiras não é Presidente da Câmara de Cascais? Dez mil kilometros é muito kilometro. As estruturas são muitas. De carro e a contactar as estruturas perdeu muito tempo. Também temos que pagar tanta viagem e tanto trabalho para o partido? Mas isto é tudo um fratar vilanagem? Ou será que o homem suspendeu a presidência na Câmara para fazer o trabalho para o partido?

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