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Um em cada cinco médicos recebe pedidos de baixas desnecessárias

22 mar, 2017 - 07:38

Estudo revela que todas as semanas, os clínicos prescrevem exames e fármacos desnecessários apenas porque o doente insiste.

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Um em cada cinco médicos de família recebem todas as semanas pedidos de baixas médicas desnecessárias e 8% confessam que acabam por ceder aos doentes, mesmo sem motivos clínicos, revela um estudo da Deco divulgado esta terça-feira.

Dados revelados em Janeiro pelo Ministério da Segurança Social revelam que, no ano passado, um em cada cinco trabalhadores com baixa médica podia trabalhar.

Somando as inspecções extraordinárias às inspecções regulares, no total foram feitas mais de 262 mil inspecções em 2016 (mais 19% do que no ano anterior), concluindo-se que 22% destes trabalhadores de baixa foram considerados aptos para o trabalho.

O estudo da Deco, feito entre Setembro e Outubro de 2016 e que obteve respostas de 1.013 pacientes e 281 médicos de família, evidencia “uma inconsistência de comportamentos”, com "o doente que exagera e o médico que não sabe dizer ‘não’”.

“Embora o estudo resulte da experiência dos inquiridos, as respostas foram ponderadas em termos estatísticos para reflectirem de forma fiel a realidade de pacientes e médicos portugueses”, sublinha a Defesa do Consumidor.

Citado no estudo, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, afirma: “É muito pouco frequente o doente insistir. O que não quer dizer que não haja doentes simuladores, que tentam e conseguem iludir o médico”.

Por outro lado, sublinha, “ainda se encontram doentes convictos de que a ‘baixa médica’ é um direito que depende da sua vontade. ‘Venho cá para meter baixa’ é algo que ainda se ouve”.

Exames e fármacos desnecessários

De acordo com o estudo, a que a agência Lusa teve acesso, quase metade (48%) dos médicos inquiridos assume que, todas as semanas, prescreve exames desnecessários apenas porque o doente insiste.

“Apesar de os clínicos afirmarem que são regularmente confrontados com estes pedidos, e que por vezes até cedem, a percentagem de doentes que admitem exagerar sintomas para obterem exames, medicamentos ou baixas é mínima”, refere a Deco.

Segundo o inquérito, o número de médicos que, também todas as semanas, cedem à prescrição de fármacos desnecessários, por insistência do doente, é de 27%.

Rui Nogueira defende que “os médicos não devem ceder, não com o simples argumento de sobrecarregar o sistema, mas por serem desnecessários, arriscados ou irrelevantes do ponto de vista clínico”.

Das respostas recebidas, a Deco concluiu também que os médicos gostariam que os pacientes “não se detivessem demasiado na net a pesquisar sintomas e a navegar por ansiedades antes do encontro [consulta]”.

Dedicar mais tempo aos doentes

Outro dos dados apurados no estudo da Deco indica que quase metade dos médicos confessa que gostariam de dedicar mais tempo aos doentes, mas têm uma agenda muito preenchida: “Seis em cada dez atendem mais de 20 pacientes por dia, sendo que, para dois em cada dez o número é superior a 30”.

O estudo sobre a relação doente/médico mostra que quase metade dos pacientes (43%) diz ter o mesmo médico de família há mais de uma década, mas nem sempre esta relação reflecte uma boa comunicação.

“Apurámos que 22% dos pacientes nunca definem ou organizam queixas para ajudar a conduzir a consulta e que 43% nunca tiram notas das recomendações do médico, comportamentos que podem potenciar os erros na execução do tratamento”, refere a Deco.

Comentários
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  • f sande
    22 mar, 2017 evora 09:08
    parem de brincar aos doentes mas os médicos nao sao os culpados. deixaram os grandes poderes fazerem o que quiseram e agora que paga sao os doentes e os médicos até dá graça.ex...BES...BPN.CGD.AEROPORTOS TGV BANIF .E até há 1 senhor a ganhar 5125 euros por dia em portugal.este s senhores nunca entraram no sns que para mim é do melhor.obrigado

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