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Performance lança "SOS ao mundo da moda"

16 mar, 2017 - 09:40

Director do Museu da Moda de Paris estreia no Porto "Couture Essentielle", que faz uma viagem no tempo.

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“Couture Essentielle”, de Olivier Saillard, tem estreia mundial no Porto. Esta performance alerta o “império da moda” que “pode fazer mais com menos” e “não precisa de mais roupas”.

“A ideia é mostrar que qualquer pessoa pode fazer qualquer coisa sozinha. Sinto nostalgia por quando as pessoas costuravam as suas próprias roupas. Não acredito na ideia de novidade na moda. Esta concepção é errada. A moda já não pode trazer nada de novo, esse é um falhanço da indústria. Não precisamos de roupas novas. Precisamos de fazer roupas. Isso é diferente de fazer moda”, explicou, em entrevista à Lusa, o autor que vai apresentar o trabalho na sexta-feira e no sábado.

Nesta primeira co-produção internacional do Teatro Municipal do Porto, o Palácio da Bolsa recebe um desfile “das mais efémeras roupas que podem existir” porque, no palco, quatro ex-modelos internacionais celebrizadas nos anos 1980 vão transformar em roupa pedaços de tecido, sem botões ou costuras, e assim passar em revista a história da moda.

“Pedi à minha assistente para contar todos os desfiles de moda em Paris, Milão, Roma, Nova Iorque e Milão. Em cada colecção, ou seja, duas vezes num ano, existem 400 desfiles de moda. Isto corresponde a mais de 14 mil peças de roupa. Não acredito que precisemos deste número de roupas em cada estação”, notou Olivier Saillard.

Para o autor, é possível "fazer algo com menos”. “Nestes números surrealistas, podemos considerar talvez 10 designers de moda que mostram algo novo, que indicam um trabalho, e estou a ser generoso”, observou.

Viajar no tempo

O convite para o autor de “Models Never Talk” levar ao Porto uma das suas performances partiu de Tiago Guedes, director do Teatro Municipal do Porto, e Olivier Saillard fez questão de preparar um trabalho novo, porque a sua não é uma “companhia de teatro normal”.

“Estamos mais próximos de uma casa de moda, que não quer repetir um desfile”, explicou.

Com a história da moda sempre na cabeça, Saillard começou a pensar “Couture Essentielle” a partir do longo vestido preto que, no século XIX, “era usado pelas modelos nas primeiras grandes casas de moda”, por razões “de higiene e simbólicas”.

“Um cliente famoso não podia ver um vestido em contacto com a pele das modelos”, explica.

Isso acabou no século XX e, na performance, as intérpretes Christine Bergstrom, Axelle Doué, Claudia Huidobro e Anne Rohart também o vão deixar no chão para “começar a trabalhar com os tecidos”.

Vão também encher-se de cor, ao contrário do que acontecia em "Models Never Talk", em que estavam vestidas de preto.

“Elas tentam improvisar para procurar formas e roupas, mas não temos botões, fechos, pontos ou costura. São as roupas mais efémeras que podemos encontrar no mais efémero desfile de moda”, descreve Saillard.

A intenção, descreve o criador, é também viajar até ao tempo em que “o verdadeiro início de um desfile se centrava nos tecidos”.

Um mundo estranho

“Estamos num mundo muito estranho. Estamos sempre a falar de moda, de criadores, etiquetas e marcas, mas nunca falamos dos tecidos, das cores. Para os mais importantes designers, esse é o verdadeiro início do trabalho”.

Saillard alerta que estas ex-modelos não eram apenas “modelos de passarela”, antes verdadeiras “colaboradoras de designers de moda” como Yves Saint Laurent ou Jean Paul Gaultier.

"Couture Essentielle" vive do movimento, porque é assim que deve ser quando se trabalha “com corpos vivos”, em vez de manequins de plástico.

A performance é, também, um “manifesto pela beleza natural”. A idade das modelos não interessa, “não é uma questão”, porque elas são “bonitas independentemente da idade”, explica o autor. “São naturais”, destaca.

O Porto é um “sítio interessante” para lançar este “SOS ao mundo da moda”: “Não é cidade de que se fale por causa da moda. Isso é tranquilo, fresco, calmo. Gosto da ideia de não estarmos demasiado dentro do império da moda”.

"Couture Essentielle" é apresentado no salão árabe do Palácio da Bolsa, na sexta-feira, às 21h30 e no sábado às 19h00.

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