23 fev, 2017 - 12:55 • Catarina Santos
Foi o grande tema político do ano passado. A predominância de homens brancos entre os nomeados para os Óscares incendiou polémicas e consolidou-se na “hashtag” #OscarSoWhite, deixando uma marca gritante na cerimónia apresentada por Chris Brown. A presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood prometeu agir e não perdeu tempo. Cheryl Boone Isaacs definiu como objectivo duplicar a presença de mulheres e de minorias até 2020.
A meio de 2016, a Academia anunciou a maior entrada de novos membros de sempre: 683 pessoas. Quase metade do naipe são mulheres (a presença feminina subiu de 25% para 27%), incluindo nomes como Emma Watson e Tina Fey. Dos convidados, 41% não são caucasianos, incluindo actores como Idris Elba e John Boyega (a presença de minorias subiu de 7% para 11%).
Para que isto fosse possível, foi necessário alterar as regras de eleição para a Academia. Até ao ano passado, 91% dos membros eram brancos, 76% eram homens.
Maior número de actores negros de sempre
Aparentemente, as alterações já tiveram impacto nas escolhas deste ano. Em 2015 e 2016 não houve um único actor ou realizador negro nomeado – ou nomeada. Da lista apresentada em Janeiro deste ano já constam filmes encabeçados e realizados por não brancos.
Bateram-se até alguns recordes, incluindo o número inédito de seis actores negros nomeados: Mahershala Ali e Naomie Harris (“Moonlight”), Denzel Washington e Viola Davis (“Vedações”), Octavia Spencer (“Elementos Secretos”) e Ruth Negga (“Loving”).
O recorde sobe mais um degrau se o aquartelarmos na categoria de “não branco”, que permite ainda somar o actor britânico de origem indiana Dev Patel (“Lion”).
Pela primeira vez, há actores negros nomeados para todas as categorias de representação e há nove filmes e documentários com histórias saídas de universos não-caucasianos: “Moonlight”, “Vedações”, “Elementos Secretos”, “Loving”, “Lion”, a animação “Moana” e os documentários “ The 13th”, “I Am Not Your Negro” e “OJ: Made in America”.
É também uma estreia ver-se uma mulher negra a ser nomeada pela edição – Joi McMillon (“Moonlight) – e três argumentistas não brancos com possibilidade de prémio – A dupla Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney (“Moonlight”) e August Wilson (“Vedações”).
O resultado não será só influência directa dos novos membros – até porque ainda são números muito baixos no todo dos votantes. Eventualmente, decorre também do efeito que a pressão intensa do ano passado poderá ter tido nos restantes membros.
Mas há ainda um longo caminho a percorrer. A presença de asiáticos, latinos e de outras minorias continua a ser muito deficiente e há muito poucas mulheres nomeadas em categorias fora da representação. E, sobretudo, o real equilíbrio só será palpável quando decorrer de uma normalização no acesso aos vários ramos da indústria de cinema.