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Estudo. Escolas privadas continuam a inflacionar notas no secundário

21 fev, 2017 - 08:42

Documento aponta para assimetrias entre cursos, subsistemas e até entre as diferentes regiões do país, no que toca às práticas de avaliação interna.

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As notas atribuídas pelas escolas privadas em 2016 aos alunos do secundário foram mais altas em cerca de 0,67 valores do que as das públicas, segundo um estudo que compara as classificações internas no ensino secundário.

“Existe um desalinhamento persistente e especialmente marcado entre os subsistemas público e privado independente. Aos alunos de estabelecimentos públicos são, em média, atribuídas classificações internas mais baixas do que aos seus colegas do subsistema privado que, posteriormente, obtêm resultados iguais nos exames nacionais”, indica o estudo, publicado no site da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência (DGEEC).

Este desalinhamento acentuou-se entre 2011 e 2014, mas depois houve uma “ligeira correcção” nos anos de 2015 e 2016.

“Comparando alunos com resultados semelhantes nos exames nacionais, as classificações internas atribuídas nos estabelecimentos privados independentes foram mais altas cerca de 0,67 valores, em 2016, do que as classificações internas atribuídas nos estabelecimentos públicos”, indica o documento.

Contudo, a DGEEC afirma que esta diferença global entre os subsistemas não deve ser tomada "como uma realidade uniforme e aplicável a todos os estabelecimentos de ensino de cada subsistema”, sublinhando que “existe uma grande heterogeneidade dentro do subsistema privado e também, em menor grau, dentro do subsistema público”.

“Sendo a classificação interna do secundário uma componente importante da nota de candidatura ao superior, desalinhamentos sistemáticos e muito acentuados entre escolas podem desvirtuar o salutar princípio de igualdade de oportunidades entre todos os candidatos”, consideram os autores.

O documento assinala que em Portugal os grandes subsistemas de ensino público e privado estão longe de serem realidades homogéneas e que, dentro de cada subsistema, existem grandes variações em termos das características dos alunos, professores e escolas.

Estas diferenças, sublinha o estudo, “reflectem-se também nas práticas de avaliação interna, pelo que, mesmo comparando alunos com resultados semelhantes nos exames nacionais, é expectável que existam desalinhamentos das classificações internas entre as muitas escolas que formam cada subsistema”.

Assimetrias regionais

Além das assimetrias entre cursos e entre subsistemas, o documento aponta ainda “assimetrias significativas entre as diferentes regiões do país no que toca às práticas de avaliação interna”.

Assim, constata que “os estabelecimentos do concelho do Porto atribuem aos seus alunos classificações internas mais altas, em média, do que os estabelecimentos de Lisboa atribuem a alunos que, posteriormente, obtêm resultados iguais nos exames nacionais”.

“Este desalinhamento é substancial e acentuou-se de forma constante entre 2010 e 2014. No ano de 2015 observou-se uma correcção significativa, mas ainda insuficiente, dos desalinhamentos regionais, os quais voltaram a aumentar ligeiramente em 2016”, refere o documento.

Em termos de desvio bruto médio, os valores apresentados mostram que, no concelho do Porto, os alunos receberam classificações internas cerca de 1,44 valores mais altas, em 2014, do que os seus colegas de Lisboa que obtiveram os mesmos resultados nos exames nacionais. O mesmo desvio fixou-se em 1,31 valores no ano de 2016.

”Esta forte assimetria regional, e sobretudo o seu agravamento muito acentuado até 2014, sugere a hipótese de se ter estabelecido em algumas regiões do país uma dinâmica competitiva local que pressiona os estabelecimentos a atribuírem classificações internas cada vez mais elevadas aos seus alunos, de forma a acompanharem as práticas dos estabelecimentos vizinhos e, assim, evitarem potenciais perdas de alunos", conclui.

Comentários
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  • fanã
    22 fev, 2017 aveiro 16:55
    Não vejo onde está a novidade , sempre assim foi e sempre assim será . Em quanto os governos protegerem e ocultarem este facto !
  • Otário cá da Quinta
    21 fev, 2017 Coimbra 11:29
    Dizia-se que no tempo de SALAZAR, o filho do médico, nem que fosse burro, tinha de ser médico e o filho de um BEBADO tinha de ser BEBADO. Não havia hipótese de um filho de pobre entrar na universidade e o que conseguisse tinha de ter muita coragem para enfrentar o seu isolamento pelos filhos dos ricos, embora grandes burros. Hoje, claro que o ensino privado tem esse fim e só acredito que isto levasse uma volta, QUANDO A NOTA PARA A ENTRADA NA UNIVERSIDADE, CONTASSE UNICAMENTE A NOTA FEITA NUM EXAME DE APTIDÃO NO PÚBLICO E NADA MAIS, porque o modelo existente, é mesmo para entrarem os BURROS FILHOS DO DINHEIRO.
  • tugatento
    21 fev, 2017 Amarante 10:41
    Mas isso não é novidade para ninguém, que no privado, pagando tens a nota que queres. O rei dinheiro é que manda.
  • Dr Xico
    21 fev, 2017 Lisboa 10:05
    VERGONHA .. notas compradas, quadros de honra para meninos da mama, é assim que enganam as crianças e familias com notas inflacionadas nas privadas depois vêm cá para fora para o mercado de trabalho e são uns incompetentes. Os cursos das Universidades privadas e escolas privadas são uma treta e toda a gente sabe disso, basta ver os que passam para as publicas com médias de 18 e no ano a seguir tem 10 e vão para o psicologo.
  • André
    21 fev, 2017 Lisboa 09:23
    Foi e continuará a ser. No público uma média de 16 dá 16 na nota final. No privado dá 19, se o aluno for de uma família importante (ou que pague outras actividades para o jovem), se for um dos "normais" leva 17 para dar margem de erro.

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