Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Comunidade cabo-verdiana inicia tomada do poder na Amadora

19 fev, 2017 - 09:11

O MovinGDiáspora, liderado por Mário de Carvalho, vai abrir portas no próximo mês e diz que os cabo-verdianos têm de ter representação política onde as coisas acontecem. "Não podemos ter o complexo de reclamar como legítima a nossa organização política", defende.

A+ / A-

A comunidade cabo-verdiana em Portugal "vai assumir um novo desafio político" e iniciar o seu "assalto ao poder" através do lançamento, em Março, de uma cooperativa e de um movimento social na Amadora, disse um responsável dos projectos.

O veículo deste 'assalto' chama-se MovinGDiáspora, uma cooperativa de responsabilidade limitada, que irá albergar no seu seio o Movimentar a Amadora Para Acreditar (MAPA), apresentado em Setembro último e que se assumirá como o "braço social" da cooperativa, cuja sede, na Reboleira, Amadora, abrirá as suas portas no próximo mês.

"Vou assumir, sem complexos, um novo desafio político. Mas não é para estender a mão aos políticos ou pedir dinheiro. Vamos organizar-nos, vamos criar valores, vamos mostrar a nossa capacidade. E contra números, não há argumentos", disse à Lusa o presidente do MovinGDiáspora e atual presidente em final de mandato da Associação Cabo-verdiana em Lisboa, Mário de Carvalho.

O "argumento dos números" dão confiança a este cabo-verdiano de 44 anos que se apresenta como "jurista e politólogo": "A Amadora é uma cidade multicultural. Residem na Amadora 43 nacionalidades diferentes e 57% dos residentes são imigrantes - sem contar com a segunda e terceira gerações, que já têm a nacionalidade portuguesa -, sendo que a comunidade estrangeira mais numerosa é a cabo-verdiana", disse.

"O MAPA não é um projecto contra ninguém, é um projecto pela comunidade, de organização da comunidade", acrescentou Mário de Carvalho, que não esconde o desejo de vir um dia a lançar-se, ele próprio, numa candidatura a uma instituição do poder local que dê resposta a uma base eleitoral que sente disponível e propiciadora desse objectivo.

"Sabemos que temos uma comunidade pobre, sem poder para financiar uma campanha, um grande evento", explicou Mário de Carvalho.

Por isso, cada cooperante irá pagar um euro por mês e o objectivo da cooperativa é atingir até Outubro o número de 10 mil cooperantes na Amadora, uma meta que será alcançada tranquilamente, acrescentou.

Projectos para o futuro

"Depois, temos outra coisa: estamos fartos de falar, fartos de conversa. O pessoal quer dinheiro no bolso. Fizemos o levantamento de 111 microempresas, pequenos cabeleireiros, cafés, oficinas, e vamos criar uma rede dessas microempresas, a que daremos acesso a formação, microcrédito", entre outros serviços, explicou.

"Já temos uma dependência bancária que vai trabalhar connosco, a Universidade Lusófona vai trabalhar na formação, vamos criar uma rede de fornecedores, vamos ajudar a regularizar a situação fiscal e de segurança social de alguns, que, infelizmente, não pagam impostos... Vamos colocar esta gente a criar mais riqueza do que cria neste momento", resumiu.

A MovingDiáspora alojará na sua sede balcões, além de vender serviços de alguns parceiros centrais com os quais nasce - como a TIBA -- Portugal, Transportes Internacionais e Trânsitos; a Real Transfer, uma empresa online de transferência de capitais; a Casa do Cidadão; ou a Royal Air Marrocos.

É, no entanto, no domínio dos projectos, serviços e apoios à população que a lista de ideias é mais ambiciosa: "Vamos criar um projecto ligado às hortas comunitárias, vamos ter uma empresa de contabilidade para apoiar as nossas microempresas, vamos ter quatro médicos que irão dar consultas gratuitas à comunidade durante os fins-de-semana, vamos ter 12 advogados para dar todo o apoio jurídico na legalização dos imigrantes, vamos dar o salário a uma pessoa para bater porta às portas e angariar cooperantes", anunciou Mário de Carvalho.

"É preciso capacitar a nossa comunidade economicamente e mostrar a diferença nesse campo para depois atingirmos os patamares políticos", sublinhou o fundador da cooperativa.

"Somos uma comunidade trabalhadora, bem integrada, mas uma comunidade que não está representada politicamente. Não temos cabo-verdianos no círculo do poder. Não temos representação política onde as coisas acontecem. Não podemos ter o complexo de reclamar como legítima a nossa organização política. E estamos a dar os primeiros passos nesse sentido", conclui.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Joao
    22 fev, 2017 Sintra 19:44
    Martins vai tomar as gotas!
  • 22 fev, 2017 14:16
    Só acho que têm de se reger pelas normas e leis portuguesas. Isso já será muito bom.
  • 21 fev, 2017 15:19
    Topppp
  • Antonio
    21 fev, 2017 Lisboa 09:47
    Sem dúvida uma boa iniciativa.
  • vitor
    20 fev, 2017 lisboa 15:01
    Quando os africanos quando veem para a europa gostam muito do multiculturalismo. Mas na terra deles nem pensar. É só para eles.
  • Mauricio Gomes Da Co
    20 fev, 2017 Porto Salvo 13:02
    estou com vocês meus conter anos contem comigo neste projeto.
  • Martins
    20 fev, 2017 LX 10:47
    O que querem é uma espécie de Molenbeek... Multiculturalismo é um conceito muito na moda, mas não se deixem iludir! Olhem para a Suécia e outros países que o promoveram e que agora enfrentam problemas decorrentes da falta de capacidade de adaptação de gente que só vem para a Europa pelo interesse material. E Amadora já tem a sua dose disto. Ainda querem mais?
  • Alfredo Alfredo
    20 fev, 2017 Alenquer 07:47
    Quem tiver algum imóvel por ali é melhor despachar a vender já porque daqui a dez anos não vai valer dez por cento do que vale hoje . Daqui a dez anos nenhuma polícia portuguesa não vai conseguir entrar na Amadora .
  • Maria
    19 fev, 2017 S marcos 16:45
    E uma boa ideia
  • T
    19 fev, 2017 15:10
    Adorei esta notícia. ... eu estou com voces

Destaques V+