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Segunda baixa em 48 horas. Candidato à pasta do Trabalho de Trump retira candidatura

15 fev, 2017 - 23:46 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque

Andrew Puzder apontado para secretário do Trabalho retirou candidatura perante acusações de violência doméstica, contratação de imigrante ilegal e fuga ao fisco. Senado ia chumbá-lo. Uma semana “horribilis” para Trump.

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Menos de 48 horas depois da primeira baixa na sua administração com a saída do conselheiro de Segurança Nacional, Donald Trump acaba de perder um segundo elemento na pessoa do secretário do Trabalho, equivalente a ministro.

Andrew Puzder ainda não era formalmente membro do governo, mas foi a escolha do presidente para o cargo e submetia-se ao processo de aprovação no Senado quando desistiu da candidatura a ministro.

Foi nesta quarta-feira que Puzder optou por se retirar do processo de escrutínio do Senado, na sequência de acusações de violência doméstica, contratação de imigrantes ilegais e fuga ao fisco.

Há vários dias que a aprovação de Puzder ficou em risco, sobretudo quando se soube que havia uma gravação da sua ex-mulher num programa de Oprah Winfrey em que se queixava de ter sido vítima de violência por parte do então marido.

O Senado pediu à empresa de Oprah uma cópia da gravação do programa, que foi para o ar em 1990. Nessa altura, a mulher surgiu disfarçada e acusou Puzder de repetido comportamento violento. Os senadores visionaram o programa em privado e, além dos democratas que já tinham manifestado oposição ao escolhido, vários republicanos disseram da sua relutância em apoiá-lo, o que punha em risco a sua aprovação.

Apesar de a ex-mulher ter escrito agora uma carta aos senadores a retirar as acusações e a dizer que Puzder era um bom homem, os eleitos não se comoveram e os cálculos apontavam para doze senadores republicanos dispostos a votar contra o candidato a secretário do Trabalho.

Um número que garantia o chumbo de Puzder, já que a bancada republicana dispõe apenas de uma maioria escassa – 52 contra 48. Face a este panorama, o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, comunicou à Casa Branca que não havia condições para aprovar o seu candidato.

Imigrante ilegal

Mas além da violência doméstica, Andrew Puzder teve ainda contra si o facto de ter contratado durante vários anos como empregada doméstica uma imigrante indocumentada e não ter pago os impostos relativos às suas remunerações. Só depois de ter sido escolhido por Trump para secretário do Trabalho, em Dezembro, e de o assunto se ter tornado público é que Puzder pagou os impostos em falta.

Uma atitude que também não apaziguou os ânimos contra si no Senado nem convenceu os senadores republicanos a mudar as suas intenções.

Uma audição na Comissão do Senado estava marcada para quinta-feira de manhã, mas a oposição firme que se esboçava a Puzder acabou por fazer com que ele retirasse a candidatura. Na carta em que anunciou a saída, afirmou-se honrado com a escolha, agradeceu-a a Trump e reiterou o seu “total apoio” ao presidente.

Dono de uma cadeia de fast-food, Andrew Puzder era desde o início uma figura bastante controversa, suscitando a oposição firme de sindicatos e dos democratas. Enquanto empregador era contra as leis de regulação laboral e contra o aumento do salário mínimo.

Vários dos seus ex-empregados vieram a público, aquando da sua escolha, denunciar práticas autoritárias de que ele seria responsável nas empresas, incluindo maus-tratos a funcionários.

Além disso, os anúncios que fez a promover a sua marca de fast-food foram acusados de sexismo porque colocavam mulheres em bikini a comer hamburgers.

A pasta do Trabalho parecia por isso pouco adequada para alguém como Andrew Puzder, mas o seu perfil corresponde aquilo a que Donald Trump procura ter na sua administração – gente com afinidades ideológicas, de preferência empresários multimilionários como ele com pouco respeito por regulações e outras normas de equilíbrio das relações sociais.

Puzder foi um generoso contribuinte para a campanha de Trump, desembolsando 332 mil dólares, um factor que, aliado às afinidades ideológicas, terá contribuído sobremaneira para a escolha. E que aparentemente terá prevalecido sobre um escrutínio eficaz do seu passado.

Mas que levanta questões legítimas quanto ao processo de fiscalização de cada candidato a ministro pela equipa presidencial. Quando escolheu Puzder, a equipa de Trump sabia que ele tinha contratado uma imigrante ilegal e não tinha pago os respectivos impostos? Sabia que ele tinha sido acusado de violência doméstica? Investigou estes factos ou não? Conhecia-os e Trump achou que não eram graves e avançou com a nomeação? Ou foi agora surpreendida por eles durante o processo de aprovação no Senado?

Perguntas para as quais provavelmente já não haverá respostas dado que agora a preocupação da administração será arranjar um substituto para Andrew Puzder. Mas o processo encerra duas grandes ironias.

A primeira é que Trump tem reclamado um escrutínio muito mais exigente de todos os imigrantes e refugiados que tentam entrar nos Estados Unidos e a sua equipa revelou-se incapaz de escrutinar devidamente um indivíduo entre cerca de duas dezenas de pessoas.

A segunda é que Trump tem feito dos imigrantes ilegais os culpados de (quase) todas as desgraças do país e escolheu para seu secretário do Trabalho um homem que teve como empregada doméstica durante anos uma imigrante ilegal.

Para todos os efeitos esta foi a sua escolha e era com Puzder que o presidente contava para a pasta do Trabalho. Por isso, esta é a segunda baixa na administração em menos de 48 horas.

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