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​Isilda Pegado: "Ferida" da eutanásia é "maldade que se está a fazer aos portugueses"

30 jan, 2017 - 19:40 • Sérgio Costa

A presidente da Federação Portuguesa Pela Vida diz que se abre um “caminho muito perigoso” se se legalizar a eutanásia. Uma petição que defende esse passo é debatida esta quarta-feira no Parlamento.

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Afirmou recentemente que a discussão sobre a legalização da eutanásia é uma “maldade” que estão a fazer aos portugueses. Como pode uma discussão ser uma maldade?

A eutanásia é uma matéria muito específica porque aparece como um direito e rapidamente se torna num dever. Internacionalmente é conhecido como efeito rampa: após a legalização, todo o aquele que se encontre numa situação de dependência, de carência, de se sentir um peso para a família para a sociedade, acaba por ter a “obrigação” de pedir eutanásia. E esta ferida que se abre na sociedade é uma maldade que fazemos a todos, pois todos podemos cair nessa situação. É uma maldade que se está a fazer aos portugueses

E acredita que a eutanásia pode ser aplicada sem critério?

Essa é uma segunda dimensão, outro tipo de consequência. A eutanásia começa sempre por ser legalizada para casos muito restritos, pontuais, muito limitados, mas rapidamente é aberta a possibilidade de se recorrer à eutanásia em casos, como na Holanda, em que os pais a pedem para os filhos porque são doentes do foro psicológico.

É uma porta que fica escancarada, um caminho muito perigoso de se fazer e que deve merecer profunda reflexão sobre o que está em causa, independente destas previsões que possamos fazer. O que está em causa é mesmo a decisão civilizacional, saber se o Estado tem legitimidade para decidir sobre vidas, se têm ou não valor. Será um retrocesso civilizacional se o Estado considerar algumas vidas descartáveis, como dizia o Papa Francisco. Um regresso a uma sociedade espartana onde o Estado se arvora do direito de eliminar pessoas. Percorrer esse caminho é mesmo uma maldade que se está a fazer a todos os homens e mulheres.

Mas o debate, pelo menos, não é por si só uma vantagem, um benefício?

Pensamos que sim, que de facto vale a pena falarmos dos problemas, não defendemos uma sociedade de obscuridade. Aliás, nós próprios avançámos com uma petição que já entrou no Parlamento, com o título “Toda a vida tem dignidade”. Essa petição, que recolheu quase o dobro de assinatura do que aquela que será debatida no dia 1, foi feita num quadro de esclarecimento. Debater cria esta consciência cívica sobre o que é a vida e que respeito devemos ter pela natureza ou se há um poder que elimina a natureza, como já aconteceu noutros domínios e que tanto nos arrependemos. Temos de voltar a uma ecologia humana, de protecção das características do ser humano. Protecção que deve ser função do Estado

Há, afinal, um défice de debate?

Esta é uma discussão que está agora a começar. Nada está decidido. É preciso que o país tome consciência disto e esperamos que haja um debate alargado, capaz de esclarecer as pessoas e que vai para além dos poderes dos próprios deputados. Portanto, parece-nos que há um caminho grande a percorrer. Recordo palavras do presidente da Assembleia da República, quando recebeu a nossa petição: esta petição terá de ter um percurso que enriqueça o debate, o país não está preparado para uma decisão destas.

É esse trabalho que espera do Parlamento e o apelo que deixa aos deputados?

Sim, que haja essa análise, uma vontade em ouvir especialistas e especialmente os médicos, toda a sociedade.

Que avaliação faz da capacidade do país para os cuidados continuados e paliativos. É uma matéria que deve entrar ao mesmo tempo no debate?

Esse debate deve ser feito na globalidade. A eutanásia aparece como resposta ao sofrimento, mas essa resposta não pode ser a morte. O que dizemos é que é preciso investir mais nos cuidados de saúde, paliativos e continuados, investir na mentalidade da solidariedade e da entrega. Não podemos permanecer numa sociedade de solidão. Este debate pode ajudar a encontrar caminhos neste sentido.

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  • LUA
    31 jan, 2017 OVAR 12:33
    Preparei-me para a minha morte e deixei claro que não desejo ser mantida viva a qualquer custo. Espero ser tratada com compaixão e que me seja permitido partir para a próxima fase da jornada da vida da forma que eu escolher. Graças a Deus que ele nos deu o "LIVRE ARBÍTRIO"!
  • Francisco
    31 jan, 2017 Xabregas 11:53
    A humanidade à beira da extinção... Os dinossauros (dizem os cientistas) tiveram o azar de levar com o meteorito na cabeça, no que respeita a estes seres que agora ocupam a Terra e se dizem muito inteligentes, não vai ser preciso esperar para que aconteça semelhante tragédia. O cérebro dos seres humanos vão encarregar-se de se auto destruir. A onde é que já se viu alguém pensar que pode decidir se pode voltar a nascer. Sim, fazia sentido eu decidir morrer se também podesse decidir nascer. Isso é possível? então, seres humanos, entendam de uma vez por todas. A vida é irrepetivel! É lixado, não é? Pois é!
  • FR
    31 jan, 2017 Portugal 01:37
    Tem que se pesar se vale apena ou não. Às 2ªs de manhã até fazia jeito uma eutanásia, mas depois passei me a deitar mais cedo e reparei que era má decisão
  • rosinda
    30 jan, 2017 palmela 21:55
    eutanasia , aborto, meios cirurgicos de contracepçao, sumando tudo daqui a pouco anos portugal nao vai ter ninguem! todos os que morrem diariamente tambem fazem parte da soma! Portugal esta nas maos dos medicos so eles podem meter um travao!
  • João Lopes
    30 jan, 2017 Viseu 21:37
    A eutanásia e o suicídio assistido são diferentes formas de matar. Os médicos existem para defender a vida, não para matar nem serem cúmplices do crime de outros.

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