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Recorde em 16 anos: 30 mil famílias endividadas pediram ajuda à Deco

24 jan, 2017 - 06:38

Número recorde de famílias pediu ajuda à Deco por não conseguir pagar dívidas. São famílias da classe média, cujo rendimento diminuiu face a uma situação mais precária no emprego.

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Perto de 30 mil famílias dirigiram-se, em 2016, à associação para a defesa do consumidor Deco por não conseguirem pagar as suas contas no final do mês.

É o número mais elevado em 16 anos de actividade do gabinete de apoio ao sobreendividado (GAS) daquela associação.

“Esta retoma económica a que estamos a assistir ainda não se reflectiu na vida das famílias e continuamos a ter cada vez mais em situação de dificuldade”, refere Natália Nunes, coordenadora do GAS, no programa Carla Rocha – Manhã da Renascença.

O número de pedidos de ajuda subiu de 29.056 (em 2015) para 29.530 (em 2016). O número só tinha baixado em 2014, para 29 mil pedidos, mas desde aí que tem subido consecutivamente.

Na origem destes números está, sobretudo, a precariedade do emprego. “Se até 2016 podíamos dizer que era essencialmente o desemprego [que estava na origem das dificuldades], em 2016 verificamos que as famílias que estão a conseguir voltar ao mercado de trabalho, mas de maneira muito precária, quer com recurso a contratos a termo quer com vencimentos próximos do salário mínimo nacional”, explica a responsável da Deco.

Em média, as famílias que pedem ajuda têm um rendimento de 1.070 euros por mês e prestações mensal de 716 euros. As dívidas ascendem, em média, aos 87 mil euros e são relativas a cinco créditos.

“Em 2007/2008, quando prestávamos apoio às famílias sobreendividadas, víamos que tinham, em regra, 1.700 euros de rendimento. Neste momento, estamos a falar de dois salários mínimos – aquilo que as famílias compostas por três elementos têm para sobreviver durante um mês”, destaca Natália Nunes.

“A verdade é que o rendimento das famílias em geral diminuiu e continua a diminuir. Os rendimentos que agora têm são muito inferiores àqueles que tinham quando estavam a trabalhar, antes da situação de desemprego e antes da crise. Agora, apesar de estarem [a trabalhar], o rendimento que têm não possibilita ainda honrarem os compromissos”, acrescenta.

A maioria das famílias que pede ajuda tem o ensino secundário (35%) ou o 3.º ciclo (22%) e pertencem à região de Lisboa e Vale do Tejo (43%), seguida do Porto e Norte (31%) do país. Alentejo e Algarve representam apenas 5% e 4% dos pedidos que chegam à Deco.

A taxa de esforço média dos processos de sobreendividamento nas mãos da Deco foi de 67% no ano passado, mostrando uma baixa face à taxa de esforço de 77% em 2015.

Da ilusão à acção atempada

Na recente época natalícia, os portugueses voltam a gastar mais. “É um contra-senso, porque, em bom rigor, as famílias ainda não têm o rendimento disponível para fazer aqueles gastos”, considera a coordenadora do gabinete de apoio ao sobreendividado.

Têm, contudo, a ilusão e a expectativa de que poderão vir a ter capacidade para pagar, um “movimento [que] está a ser acompanhado pelas instituições de crédito, que estão a promover essa ilusão”.

Natália Nunes pede, por isso, “algum cuidado com o recurso ao crédito”, até porque continua a ser muito elevado que chega à Deco em situação de desespero total. “E cada vez mais não podemos ajudar”.

Quando pedir ajuda, então? “Eu diria que é mal uma família tem a percepção de que está a ter dificuldade em honrar os pagamentos, desde a prestação do crédito ao pagamento da água e da luz”, diz a responsável.

Nesta fase, há que analisar o que está a acontecer e “tomar algumas atitudes para evitar chegar a uma situação drástica, de ser confrontado com um processo em tribunal, com acções de execução ou mesmo uma situação de insolvência”.

[Notícia actualizada às 10h15]

Comentários
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  • Maria Manuela Nunes
    25 jan, 2017 Queluz 10:49
    É a continuação da austeridade. Não sendo a mesma coisa, recebi a carta explicativa da CNP sobre a pensão. Lá diz que tirando-me 57,56 euros por mês vou receber mais este ano que no anterior. Alguém me explica como?
  • viva o xuxialismo!
    24 jan, 2017 Santarém 22:11
    Então mas a receita do atual governo não é mesmo o incentivo ao consumo? O zé povinho normalmente nestas coisas do gastar é bom aluno, portanto se amanhã surgirem de novo mais casas e bens penhorados e Bancos falidos tudo normal num país anormal.
  • Eborense
    24 jan, 2017 Évora 18:06
    Então mas a austeridade não acabou já? Viva a geringonça, a Dr.(a) Catrina, as irmãs Mortágua, o Sr. Costa e o Tio Jerónimo.
  • P/RR
    24 jan, 2017 Ponta da madrugada 14:40
    Como vem sendo habitual, o meu comentário ficou pelo caminho. Basta fazer algumas criticas à Desunião europeia, ao coelho, à grande parte de políticos, desde de 74, à globalização, que no fundo são responsáveis pela miséria que este país enfrenta, ou então ser irônico com quem vem para aqui dizer asneiras, para não o publicarem. Isto demonstra que este espaço não respeita a liberdade de expressão nem a democracia. E não me venham falar dos termos de condições. HIPOCRISIA, TRETAS!
  • COSTA ILUSIONISTA
    24 jan, 2017 Lx 14:15
    Pois é, a realidade é outra e não existe propaganda populista que valha aos geringonços.A realidade é dura e crua: não existe melhoria de vida das pessoas e elas voltara-se a endividar com esta falácia que o governo do pantomineiro e vendedor da banha da cobra do Costa diz quando fala na reversão de rendimentos...A maior mentira de que as pessoas saberão nio final do mês quando virem que o dinheiro não chega até ao fim do mês...
  • Luis B.
    24 jan, 2017 Para cá da muralha da China 12:54
    A comunicação social e o presidente da República andam com a geringonça às "costas" há 1 ano, publicando tudo que é positivo e desvalorizando tudo que é negativo, mas chega a uma altura em que não adianta tapar o sol com a peneira... Esta noticia confirma o que se esperava: a cassete de devolver os rendimentos originou uma busca às compras para equilibrar os anos de poupanças, e agora a situação de divida das famílias é a pior dos últimos 16 anos.. Parabéns Costa, Jerónimo e Catarina, vocês são uns tipos com grande visão... Mas acalmem-se que a festa ainda não acabou... A seguir, 2017 será o ano do aumento das falências provocadas pelo aumento do salário mínimo, que sendo relativamente baixo para quem precisa, ainda é alto para a competitividade das empresas... muitas não irão aguentar porque a concorrência estrangeira (viva a globalização) produz mais por menos, e as pessoas querem comprar o mais barato, seja nacional ou não... Depois o desemprego irá aumentar e os custos sociais também.. só que o tecido empresarial irá diminuir as contribuições porque a concorrência apertará, devido ao aumento de custos de produção do salário mínimo, a fuga aos impostos irá aumentar e o dinheiro que devia ir para investimento irá para tapar os buracos da gestão da esquerdalhada e do "comentador" "prof Martelo"... as taxas de juro dos empréstimos da divida pública aumentarão (já vão em 4%) e pronto, o "Prof. Martelo" terá de convocar novas eleições, apesar de apostar tanto em Costa...
  • mercedes e Bmws???'
    24 jan, 2017 é cada parvo! 11:34
    Oh M.Guimarães, pedidos de ajuda para pagar Mercedes ou BMW? e então o desemprego? A precariedade? Também a culpa é de quem vive nesta situação? E todos têm mercedes e BMW? Arranja uns óculos mais grossos para veres melhor. Só se for carros cheios de ferrugem e cheio de buracos, muitos com mais de 10 anos. Sinceramente ainda comparares isto com a alemanha, mostra cá uma falta de senso que até mete impressão. Fd"se é tanto burro que se vê por aqui.
  • Ora aí está!
    24 jan, 2017 Quem será muitas vezes os irracionais? 10:24
    O que é que tem a ver as habilitações acadêmicas para o caso da falta de trabalhos? Ou será que há empregos de secretária para todos os que tiram formação nas universidades? Se assim é porque é que anda muitos jovens que estudaram a saírem deste país miserável? Ou isto já chegou ao ponto que para varrer caminhos ou para trabalhar na construção civil terá que se ter o curso de doutor? Isto não passa de querer tapar o sol com a peneira, sempre para se desculparem o mal maior, e refiro-me às classes politicas ou de comentadores da treta. Se formos recuar para décadas anteriores, havia trabalhos, as pessoas ganhavam com mais dignidade e ainda tinham menos escolaridade do que têm hoje. Hoje em dia vive-se debaixo de regras europeias, debaixo de austeridade, a globalização também contribuiu bastante para o efeito. Com uma moeda de euro que só serviu para que se viessem aumentar os preços e se fazer arredondamentos sem controlo. Hoje o que tem acontecido muito é que para se fazer trabalhos que muitos com o 12 ano faziam estes passaram a serem feitos por universitários, mas contribui isto para melhorar alguma coisa? Fica tudo na mesma m@da, a não ser que os que têm dinheiro para tirarem cursos mais elevados, alguns passam a ser mais beneficiados. As máquinas também têm contribuído para que muito deste desemprego aconteça. Substitui-se as pessoas pelas máquinas, quando é do trabalho que se sobreviv O ser Humano usa da inteligencia mas é para destruir muitas vezes o seu semelhante
  • Mário Guimarães
    24 jan, 2017 Lisboa 10:17
    Pedidos de ajuda para pagar o Mercedes ou o BMW ? A quantidade de viaturas de luxo em Portugal é superior à Alemanha "per capita" . Os portugueses não abdicam de se fazer de grandes graças ás falsas conquistas de Abril em que os políticos enganam o Povo parvo!
  • Carlos Martins
    24 jan, 2017 Lousada 10:07
    Então a descrispação não reina? A austeridade não foi às urtigas? O número de desempregados não baixou? As famílias não têm mais dinheiro disponível? Ou isto será uma notícia patrocinada pelo Passos Coelho? O homem está em todas...

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