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Fora da Caixa

Santana Lopes. “Barack Obama vai andar por aí"

20 jan, 2017 - 01:58 • José Pedro Frazão

O balanço de oito anos de Barack Obama na Casa Branca passa pela análise de António Vitorino e Pedro Santana Lopes no programa “Fora da Caixa”. Os comentadores avaliam ainda os resultados da administração Obama nos planos interno e externo.

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O que vai fazer Obama a partir de agora? Os comentadores do programa “Fora da Caixa” não têm dúvidas que o futuro de Obama passa pela política, de uma forma ou de outra.

“Vejo-o a fazer conferências, como vários outros, mas não o vejo afastado da política. Obama vai andar por aí, acho que sim”, graceja Santana Lopes, aceitando usar a expressão que popularizou na política portuguesa. O antigo primeiro-ministro não acredita na possibilidade de uma candidatura de Michelle Obama à Casa Branca. “Esta experiência de Hillary Clinton pode ter arrumado o assunto. Não acho aliás muito salutar, então opta-se pela monarquia…”, afirma Santana na Renascença.

Já António Vitorino é taxativo. “Eu acho que o Presidente Obama não vai casa. Vai recuar agora mas tem uma tarefa importante a fazer: reconstruir o Partido Democrata”, antecipa o antigo comissário europeu.

“O partido Democrata sai de rastos deste resultado eleitoral. Vai ter aqui combates muito significativos porque está em minoria em todo o lado. Tem ainda governadores e estados federados americanos onde governa, mas a renovação do Partido Democrata, se os democratas alguma vez voltarão a aspirar à Presidência dos EUA, tem que ser feita sob égide de Obama”, argumenta o comentador socialista.

Santana concorda. “Obama tem essa grande missão, se quiser ajudar a reconstruir o Partido Democrata. Não sei quanto tempo vai durar este ciclo político nos Estados Unidos. Com esta revolução ou não-revolução nos EUA, tudo é imprevisível. Não sabemos o que se irá passar”, confessa o antigo primeiro-ministro.

Obama na galeria dos Presidentes

Outras questões emergem dos oito anos de Obama na Casa Branca. Que legado deixará? Como ficará na história dos presidentes dos Estados Unidos da América? Santana e Vitorino consideram que é possível concluir que foi, no mínimo, uma figura singular na política americana.

“Obama foi um presidente bom para o mundo, no geral. No que respeita à descompressão, ao ambiente, à boa educação e à afabilidade. Agora, para muitos eleitores - e vários foram votar Trump - Obama pode ter sido uma frustração porque não mudou a sociedade norte-americana”, analisa Pedro Santana Lopes.

António Vitorino fala num político sem paralelo num ponto em particular. “O que a história reterá é que houve um presidente afro-americano, eleito, chamado Barack Obama. Esse simples facto faz dele um personagem único na história americana”, complementa o antigo ministro socialista.

Um residente limitado

No plano interno, na opinião de Vitorino, a estratégia de Obama esbarrou nos obstáculos criados a partir da maioria republicana no Senado.

“Obama tinha um grande capital investido nele nos Estados Unidos da América. De alguma forma, a eleição de Trump revela que, em sectores importantes da sociedade americana onde essas expectativas eram muito elevadas, ele desiludiu. A partir do segundo mandato quando os democratas perdem a maioria no Senado. Os equilíbrios do sistema politico são altamente alterados. E ao serem alterados, isso limitou muito a capacidade de Obama levar a cabo a sua política”, afirma o comentador socialista.

Já Pedro Santana Lopes invoca os resultados positivos ao nível da economia norte-americana, recuperando da crise financeira de 2008. Juntando outros temas, o social-democrata salienta “posições correctíssimas em matéria de controlo do porte de armas”, ainda que sem resolver o problema de fundo. “O Obamacare avançou mas em termos não muito sólidos, o que permitirá uma reversibilidade fácil”, insiste Santana.

Um não-incendiário na frente externa

Na frente externa, o balanço da administração Obama é mais generoso pela mão de António Vitorino do que pela de Santana Lopes.

“Obama é uma pessoa com boas intenções com bons princípios e boa fala. Fez bem ao mundo em muitas matérias, mas deixou muita questão para resolver”, afirma o antigo primeiro-ministro. Santana admite que Obama deixa alguns “marcos” na sua acção externa. “Mas sabe a pouco face a todo o potencial que se lhe alinhava”. Acima de tudo, conclui o social-democrata, “já não foi mau ter sido um presidente não incendiário. E nesta fase da história do mundo já é positivo”.

Já António Vitorino sublinha de forma positiva os acordos sobre o Irão e sobre alterações climáticas e a mudança de posição sobre Cuba.

“Houve ainda um acordo de limitação de armas nucleares com a Rússia. E refiro isto porque toda a gente já percebeu que este pode ser uma das reversões do senhor Trump. E esta é uma questão de que depende a vida de cada um de nós”, acrescenta o antigo comissário europeu.

A visão ‘obamiana’ da Europa

Visto a partir do Velho Continente, Obama foi muito popular. A conclusão é partilhada por Santana Lopes e António Vitorino, embora este assinale que Obama estava mais interessado no Pacífico que no Atlântico.

“A Europa para Obama era sobretudo a NATO. Ele foi sempre muito claro e firme nos compromissos com a NATO. Aí não houve tergiversação. Hoje em dia as coisas vão sofrer alguma alteração com o novo Presidente Trump”, sustenta António Vitorino.

O antigo comissário europeu admite que, longe de ser uma prioridade, a Europa terá mesmo perdido alguns pontos na agenda externa americana. “Foi repescada com a ideia do tratado de parceria de comércio transatlântico, que era o contributo mais importante para a relação entre os Estados Unidos e a Europa. Obama lançou mas nunca veria a luz do dia durante o seu mandato”, remata Vitorino.

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  • o trump de cá
    20 jan, 2017 sul 08:45
    è o PPCoelho

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