19 jan, 2017 - 10:37
Vão enfrentar temperaturas negativas, são avaliados física e psicologicamente, fazem curso de primeiros socorros e foram avisados que o trabalho de campo "é bastante duro". Mas esta quinta-feira, 19 cientistas de instituições nacionais vão viajar para a Antárctida no âmbito do Programa Polar Português (Propolar).
Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), o Propolar, que apoia projectos de investigação e a ciência polar portuguesa, tanto no Árctico, como na Antárctida, organiza anualmente uma viagem de avião para transportar investigadores para o pólo.
Este ano a campanha tem partida marcada para quinta-feira e integra 122 elementos, dos quais 19 são cientistas portugueses, e faz a ligação entre Punta Arenas, no Chile, e a ilha de Rei Jorge, na Antárctida.
"O nosso voo vai permitir o transporte de vários investigadores portugueses, de búlgaros, chilenos, chineses, coreanos e espanhóis", nacionalidades que variam de ano para ano, e para a viagem de regresso já estão na lista 52 cientistas, avançou a directora executiva do Propolar.
Várias instituições em todo o país, de laboratórios de Estado a unidades de ensino superior, têm equipas que se dedicam à investigação polar e Teresa Cabrita refere que há investigadores, por exemplo das universidades da Beira Interior, Porto, Coimbra, Aveiro, Algarve ou Évora.
O Propolar financia a deslocação dos cientistas para os polos, assim como a criação de condições de alojamento e de trabalho, contando com a colaboração de programas parceiros de outros países, havendo também investigadores portugueses que se integram em campanhas estrangeiras.
Campanhas assentes em cooperação
Como Portugal não possui infra-estruturas na região antárctica, as campanhas portuguesas são baseadas na "forte cooperação internacional" com países como Argentina, Bulgária, Brasil, Chile, China, Espanha, EUA, República da Coreia e Uruguai.
Teresa Cabrita realça o espírito de colaboração entre todos os cientistas polares e lembra as condições difíceis em que trabalham, climatéricas, mas também de isolamento.
As missões podem prolongar-se por um a três meses, tempo em que os investigadores estão afastados do seu ambiente habitual, e por isso, o perfil destes cientistas tem de ser o adequado.
"Organizamos reuniões de preparação de campanha em que se explicam as características do projecto e condições em que se desenvolve o trabalho científico na Antárctida", explica a responsável.
Estes necessitam de uma certificação médica, respeitante a condições físicas e psicológicas, e de cumprir as normas de conduta para a investigação naquela zona, definidas no Tratado da Antárctida, visando não mais que um impacto ambiental mínimo. Todos os projectos são sujeitos a uma certificação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Os cientistas também fazem um curso de primeiros socorros e suporte básico para a vida.
Esta campanha realiza-se no período de Verão da Antárctida, correspondente ao Inverno em Portugal, quando as temperaturas variam entre zero e 10 graus negativos.
A directora executiva do Propolar refere que, por vezes, regista-se uma grande e repentina variação das condições meteorológicas, o que condiciona muito o desenvolvimento do trabalho dos cientistas.
O trabalho não se esgota na Antárctida e o material recolhido é analisado em laboratórios, em Portugal ou em parceria com equipas de outros países, e só depois preparados os artigos científicos a publicar em revistas internacionais, para dar a conhecer o resultado da investigação.