18 jan, 2017 - 08:25
“Há uma utilização excessiva deste medicamento em termos de automedicação e há riscos com o uso continuado da administração de omeprazol: pode desencadear infecções ao nível respiratório e pode agravar a osteoporose”, alerta o presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), Henrique Luz Rodrigues, na Renascença.
O fármaco, da classe dos inibidores da bomba de protões, pode ser vendido sem receita médica e tem como indicação clínica a úlcera gástrica e a doença do refluxo gastro esofágico. No entanto, os profissionais de saúde têm alertado para outros usos indevidos, como o simples alívio de sensações de enfartamento.
Em nove meses, os portugueses adquiriram mais de 2,1 milhões de embalagens de omeprazol.
Segundo Henrique Luz Rodrigues, esta é uma “preocupação mundial”. “As pessoas estão a automedicar-se com um medicamento que tem efeitos adversos importantes a prazo”.
Conheça os riscos
Para o presidente do Infarmed, a solução não passa tanto pela obrigatoriedade de prescrição médica, mas sim pelo conhecimento que os doentes devem ter sobre este fármaco e dos riscos que correm ao tomá-lo por iniciativa própria.
Apesar de reconhecer que existem outros medicamentos que também devem merecer a atenção do regulador, Henrique Luz Rodrigues diz que esta campanha vai ser a primeira e deverá começar ainda este mês ou em Fevereiro, com o objectivo de “alertar para os efeitos adversos e para as alternativas que possam ser benéficas”.
Em 2014, um estudo publicado na revista científica da Associação de Médicos Americanos (JAMA) atribuiu a ingestão prolongada de omeprazol e de outros semelhantes a uma carência da vitamina B12.
A investigação refere que as pessoas que tomaram diariamente um medicamento do grupo do omeprazol durante dois ou mais anos tinham 65% mais de probabilidades de ter níveis baixos de vitamina B12, que tem um papel importante na formação de novas células, do que os que não ingeriram o fármaco.
Já em 2016, um novo estudo publicado na edição online da “JAMA Neurology” confirmou a associação entre os inibidores da bomba de protões e um maior risco de demência em pacientes idosos.
Mais medicamentos inovadores a caminho
No ano passado, foram aprovados 51 medicamentos inovadores. Mais do que a meta prevista, que era de 50, diz o presidente do Infarmed na Renascença.
“Houve muitos processos analisados, foi feito um grande esforço da equipa do Infarmed e esse trabalho é para ser continuado. Há mais de uma centena de medicamentos inovadores à espera de serem aprovados”, revela.
Henrique Luz Rodrigues anunciou ainda a redução da comparticipação de alguns medicamentos para a diabetes – aqueles que não mostraram ter benefício cardiovascular.
“O que se esperava desses medicamentos em termos de redução das complicações cardiovasculares associadas à diabetes não foi verificado nos testes efectuados, foram menos eficazes do que se esperava”, explica.
Por isso, “iremos o que têm feito outros países, nomeadamente o Canadá, a Alemanha, a Bélgica, onde há um ajustamento do preço”.