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Há "trabalho escravo" no Alqueva

18 jan, 2017 - 07:46

Trabalham na apanha da azeitona e noutras colheitas sazonais. São alojados em espaços sobrelotados e sem condições sanitárias.

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“É uma vergonha para o Alentejo e para Portugal a forma como continuamos a receber os trabalhadores imigrantes vindos de países pobres”. A denúncia é do presidente da Câmara da Vidigueira que fala em trabalho escravo no Alqueva.

Há dezenas de homens e mulheres imigrantes a dormir todos juntos num barracão sem condições sanitárias, noticia o “Público”.

Escreve o jornal que o autarca Manuel Narra está revoltado com o que tem visto no seu concelho nestes tempos da apanha da azeitona. Mas a situação repete-se ao ritmo das colheitas sazonais, que exigem muito mais mão-de-obra do que o Alentejo consegue fornecer.

Esta necessidade e a falta de mecanismos adequados para a sua contratação “potencia a criação de redes mafiosas que alimentam novas formas de escravatura”, alerta o presidente da câmara.

Entre 80 e 100 pessoas “dentro de uma oficina e outras 30 pessoas dentro de um apartamento, com homens e mulheres misturados, dispondo apenas de um chuveiro e de uma sanita”, descreve.

O inspector da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) é peremptório: estamos a falar de novos escravos.

Carlos Graça, que coordena uma equipa nacional de combate ao trabalho não declarado no seio da ACT, disse “Público” que o caso da Vidigueira “infelizmente não é único”. Foi detectada em Serpa uma situação onde 55 pessoas estavam alojadas num T3 e “alguém” recebia pelo aluguer da casa 1.530 euros por mês.

Plano para evitar condições de vida deploráveis

A Câmara de Vidigueira quer criar um plano para permitir o acolhimento digno de imigrantes sazonais no concelho, onde foram detectados trabalhadores estrangeiros a viverem em condições "deploráveis", disse à agência Lusa esta quarta-feira o presidente do município.

Segundo Manuel Narra, "a ideia é que, até às próximas campanhas agrícolas" de vindimas e apanha de azeitona, que "atraem muita mão-de-obra imigrante" e começarão em Setembro e Outubro, respectivamente, o município e outras entidades competentes "possam criar um plano de acção para permitir o acolhimento digno e facilitar a vida e a permanência de imigrantes sazonais no concelho" de Vidigueira, no distrito de Beja.

O autarca explicou que a criação do plano foi proposta pela vice-presidente da Câmara de Vidigueira, Maria Helena D'Aguilar, numa reunião promovida pelo município para discutir com várias entidades as condições de vida de imigrantes sazonais no concelho, onde, recentemente, foram detectados casos de trabalhadores estrangeiros a viverem em "condições deploráveis e abaixo do mínimo que se pode exigir em termos de dignidade humana".

A Câmara quer "evitar este tipo de casos", que são comunicados como "factos consumados" ao município, que, "por si só, não tem capacidade para poder intervir e realojar as pessoas em habitações com condições dignas", frisou.

"Temos [município] gosto em ter imigrantes sazonais no concelho, porque são mão-de-obra essencial para a economia regional, mas não gostamos da forma como são tratados, explorados por máfias e estão a viver enquanto estão cá a trabalhar", disse o autarca.


[notícia actualizada às 11h00]

Comentários
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  • ze
    19 jan, 2017 lx 18:02
    Trabalho escravo é trabalhar sem receber ... o que tem o alojamento dessas pessoas a ver com o trabalho que fazem? Não é responsabilidade do empregador fornecer alojamento aos seus empregados. Vocês por acaso sabem em que condições vive um trabalhador com o salário mínimo em Portugal ? ... boicotem as lojas de grandes marcas multinacionais, os serviços de telecomunicações, os restaurantes, cafés, indústrias ... trabalhadores a receber menos do salário mínimo, a trabalhar mais horas do que estão no contrato, a ser chuulados por empresas de trabalho temporário ... portugueses que vivem em barracas ... isso já não indigna ninguém ! Esses trabalhadores estrangeiros vêm cá trabalhar durante 1 ou 2 meses, e ganham mais do que num ano de trabalho na terra deles ... infelizmente estão habituados a uma vida de esforço e dificuldades. O trabalho no campo é um trabalho difícil ... eles vêm cá para trabalhar, e querem voltar com o máximo de dinheiro possível, daí que pagar caro por um bom alojamento não está nos planos, inclusivamente até porque alguns deles serão imigrantes ilegais.
  • Olitox
    18 jan, 2017 Figueira 12:00
    pois é, quando comprem o azeite pensem na origem do mesmo e a forma ética como é produzido.
  • tugatento
    18 jan, 2017 Amarante 11:38
    Cadeia com todos esses esclavagistas. Fdp, aproveitam-se da miseria das pessoas para enriquecerem ilicitamente. Ainda devem pensar que estao no pre 25Abril.
  • joao
    18 jan, 2017 EU 11:29
    Pior que escravizar na sua terra e tentarem escravizar na terra dos outros.Em Portugal.As instituicoes nao funcionam porque os funcionarios sao escolhidos por conhecimento amizade partido,etc.Ate talvez acham uma ofensa sujar os sapatos para ir fiscalizar esses lugares.bando de anormais. Portugal precisa de uma lavagem de norte a sul na funcao publica.Farto de doutores secretarios ministro do ministro do ministerio assessors.E por sessa cambada toda a panhar azeitonas e batatas durante um ano para saberem o que e vida dura.
  • 18 jan, 2017 11:21
    Ó srª Odete, não é por motivo de existir ACT, que se praticam crimes destes. Estes crimes acontecem por falta de respeito pela condição humana e ganancia. Entendeu.
  • zé carlos
    18 jan, 2017 beja 10:52
    dos que mais exploram são alguns romenos e ucranianos que já habitam ca e fazem de cabecilhas exploram esses pobres que cá chegam para trabalhar e partem de mãos vazias e com dores no corpo e na alma e meia dúzia ficam com 30 ou 40000 euros por mês do trabalho desses pobres, pois do que ganham metade é para esses vigaristas que por cá ficam a passear o resto do ano sem fazerem nada, são mafiosos e ninguém lhes toca.
  • Judite Gonçalves
    18 jan, 2017 Barreiro 10:41
    Não há palavras para definir esta miséria humana! Como é possível que seja permitida uma coisa destas em Portugal? Já para não falar no resto do mundo. Gente gananciosa que achoa que pode fazer tudo e ganhar mais do que o que lhe é devido à conta do sacrifício humano. Como é possível? Parece que voltamos para o passado, os mais ricos e poderosos usam e abusam daqueles que são mais pobres e mais frágeis. Inacreditável que as pessoas vejam e não denunciem. Não interessa que os outros sofram, que esteja fora do seu país e da sua família, que precisem de ajuda e de trabalho, o importante é usa-los a qualquer preço encher os bolsos. Estes abusos deviam ser seriamente punidos e esta gente escrava devia ser ressarcida pelos danos que lhes foram causados e pelo abuso de quem não tem escrúpulos e passa por cima de tudo e de todos para atingir os seus objetivos. É o país de brandos costumes que temos, tudo passa impune e a justiça nunca é feita. Por isso é que ainda há este tipo de abusos que nos deviam envergonhar a todos.
  • Marlond
    18 jan, 2017 Portugal 10:24
    Uma coisa é trabalho escravo, outra coisa é trabalho sem condições. Não acredito que estas pessoas estejam contra sua vontade a trabalhar. Faltam fontes de trabalho em Portugal e cá entre nós os Portugueses não querem passar horas baixo o sol ou frio a colher azeitonas, fica para as classes menos instruídas ou imigrantes que precisam de um trabalho e talvez a única fonte que se abre é a da colheita na safra. O presidente da Câmara de Vidigueira com todo o respeito que sua posição e pessoa se merece, deveria denunciar a falta de apoio das autarquias para dar condições a estes trabalhadores. Talvez se as grandes corporações pagassem o preço justo pela azeitona poderiam permitir ao fazendeiro construir uma casa confortável para seus trabalhadores, muni-los de roupas adequadas e dar-lhes mais conforto. Com certeza devem existir poucos empresários de má índole que não se preocupa com os trabalhadores, mas que isso se transforme em trabalho escravo acho que o assunto toma dimensões equivocadas e passa um sensacionalismo errado ao leitor. Em todo caso, se a denuncia procede e é verdadeira, o que o governo fará ao respeito? vai ajudar ao fazendeiro a dar melhores condições de trabalho, ou vai puni-lo de forma tal que estes trabalhadores que recebiam um salário, por baixo que seja, ficaram sem emprego e terão que ir para rua pedir esmola?
  • Odete
    18 jan, 2017 Figueira da Foz 10:12
    E os senhores do ACT andam a dormir ?
  • Francisco António
    18 jan, 2017 Lisboa 10:11
    Uma vergonha ! A notícia está coxa. As propriedades têm donos. E os donos têm nomes ! Jornais e televisões andam mais preocupados com os penteados dos futebolistas e suas namoradas, carros e locais de férias do que com aquilo que é a dura vida de quem trabalha !

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