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Parlamento de pé na homenagem a Soares. Ferro assinala perda e gratidão eterna

11 jan, 2017 - 20:00

Palmas, um minuto de silêncio, fotografias, música e lágrimas marcaram a sessão solene, com o plenário e as galerias de pé no "muito obrigado" ao falecido chefe de Estado. O texto foi votado por unanimidade.

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O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, assinalou esta quarta-feira o "sentimento de perda" e de "gratidão eterna" para com Mário Soares, que deixa um "legado de coragem política" num percurso em que também "cometeu erros".

"Se hoje Portugal se distingue na Europa e no Mundo pelo seu grau de coesão nacional, muito o deve ao contributo liderante de Mário Soares. O sentimento de perda é assim acompanhado por um sentimento de gratidão eterna", refere o voto de pesar lido pelo presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

O voto foi proposto por Ferro Rodrigues e pela Mesa da Assembleia da República, constituída por deputados do PSD, PS, CDS-PP e BE, e foi lido em plenário na sessão de homenagem ao ex-chefe do Estado, que morreu sábado aos 92 anos. Na abertura da sessão, e antes de ler o voto, Ferro Rodrigues salientou "os laços" que sempre o uniram ao histórico socialista e manifestou solidariedade para com a família.

"Se a política era a vocação de Mário Soares, a liberdade era a sua causa", sublinhou Ferro Rodrigues, frisando que o estadista "lutou até ao fim" num percurso em que, disse, "cometeu erros". "Cometeu erros, certamente, mas sempre entendeu a política democrática como uma actividade apaixonante, feita de vitórias mas também de derrotas, assente em escolhas claras e convicções fortes."

Palmas, um minuto de silêncio, fotografias, música e lágrimas marcaram a sessão solene, com o plenário e as galerias de pé no "muito obrigado" ao falecido chefe de Estado. O texto foi votado por unanimidade. Nas galerias marcaram presença a família, amigos e colaboradores do histórico socialista, bem como funcionários do parlamento. O filho, o deputado do PS João Soares, sentou-se no seu habitual lugar, na penúltima fila da bancada socialista.

Os discursos mais aplaudidos foram os das bancadas do PSD - da responsabilidade do líder parlamentar Luís Montenegro - e do PS, pela voz embargada e emocionada do seu líder parlamentar e presidente, Carlos César.

PSD: "Só os incautos e muito desatentos podem desdenhar" o papel de Soares

"No PSD divergimos muitas vezes de Mário Soares: não levem a mal que diga, com carinho cívico e político, que divergimos até ao fim, aos últimos escritos e intervenções. Mas nunca nos separámos dele no ponto fulcral do seu combate, defender a democracia e evitar qualquer tipo de ditadura e o primado do poder politico sobre o económico", afirmou Luís Montenegro.
"Em escassas 26 palavras se resume com soberba simplicidade um projecto político enorme, a nação portuguesa, foi esse projecto que mobilizou Mário no combate à ditadura, aos fascismo e também em 74 e 75 quando combateu o fanatismo ideológico que alguns desejavam e foi ainda esse projecto de democracia e desenvolvimento que o mobilizou quando pugnou pela abertura e adesão ao projecto europeu", disse.
"Só os incautos e muito desatentos podem desdenhar este papel", alertou, salientando o reconhecimento além-fronteiras da importância de Mário Soares.
Já o CDS-PP sublinhou o papel histórico que Mário Soares desempenhou em Portugal "pelo menos no último meio século", mas fez questão de manifestar a sua discordância com a forma como foi conduzido o processo de descolonização pelo então primeiro-ministro.
"O CDS, neste momento de justa e merecida homenagem, não pode deixar de recordar a nossa discordância com um processo de descolonização apelidado por muitos de exemplar mas que, a nosso ver, foi apressado e trouxe sofrimento a milhares de portugueses", salientou o líder parlamentar Nuno Magalhães.
Para Nuno Magalhães, uma "homenagem respeitosa" a Mário Soares implica assumir "com frontalidade" estas divergências. "As divergências que tivemos enquanto partido não ofuscam em nada o respeito e a consideração pelas suas qualidades indiscutíveis", reforçou.
Considerando que Mário Soares "personifica grande parte da História do Portugal contemporâneo", a bancada do CDS destacou, pela positiva, "o contributo decisivo" que teve na construção de um Estado social e um Portugal democrático, a oposição ao Estado Novo e o "papel determinante" na Revolução de 1974 e no 25 de Novembro. "Se Portugal não se transformou então numa ditadura em muito se deve ao Dr. Mário Soares", disse.

Soares, o "militante número um da democracia"

Carlos César traçou uma retrospectiva da vida política do fundador do PS, lembrando aos presentes que Soares "viveu, até aos primeiros 49 anos da sua vida, sem conhecer, no seu país, o respeito pelos direitos, liberdades e garantias, públicas e individuais".
"Quer isto dizer que viveu a sua infância e juventude sob o signo da perseguição permanente ao seu Pai, o pedagogo distinto que foi o dr. João Soares. Quer isto dizer que, sendo quem era, desde que chegou à idade da razão, aos 17 anos, não deu tréguas à opressão durante os 32 anos seguintes. Quer isto dizer que o fez partilhando com a sua mulher, Maria de Jesus, e com os seus filhos, Isabel e João, antes e depois de 1974, os entusiasmos mais íntimos e os sofrimentos mais angustiantes dessas lutas", assinalou.
Sem o Mário Soares "antifascista, Portugal não teria o Mário Soares que "viria a ser o maior agente da consolidação da democracia política" portuguesa, sublinhou o líder parlamentar socialista.
As palavras história, liberdade, ditadura e democracia foram uma constante nos vários discursos dos partidos, nos quais se enalteceu a memória, mas não se esqueceram as divergências políticas.
Citando depois palavras do Presidente da Assembleia da República, Carlos César assinalou a "frase feliz" de Ferro Rodrigues em que este definia Soares como "mais do que o militante número um do PS, o militante número um da democracia portuguesa".
"É verdade. Como presidente do PS, isso orgulha-me", concluiu César.
Bloco destaca convergências recentes, PCP sem esconder divergências

"Cunhou na história o verdadeiro significado de animal político (vitoria sobre Freitas do Amaral nas presidenciais de 1986), criticou a terceira via de Tony Blair [primeiro-ministro britânico dos trabalhistas, da sua família política]. Levantou-se contra a invasão do Iraque e na defesa da Constituição Portuguesa contra as novas regras impostas pela 'troika', opôs-se às políticas de austeridade do Governo PSD/CDS e saudou a mudança imposta pelas eleições de 2015", disse o bloquista Pedro Filipe Soares.

O deputado do BE caracterizou o antigo Presidente da República como "obstinado, imprevisível, impaciente, frontal, controverso, mas sempre lutador", sublinhando que, depois do 25 de Abril de 1974, teve, "por vezes, as forças à sua esquerda como aliadas, por vezes como adversárias".
"O PCP divergiu profundamente de Mário Soares pelo papel destacado que assumiu no combate ao rumo emancipador da Revolução de Abril e a muitas das suas conquistas, incluindo a soberania nacional. Continuamos hoje a ser oposição a um conjunto largo das suas ideias e posições", vincou o comunista João Oliveira, "a começar pelas consequências da adesão à então CEE (União Europeia) em que assumiu" a liderança do processo.
Segundo o presidente da bancada do PCP, Soares "será lembrado como personalidade relevante na vida política nacional das últimas décadas, pela participação no combate à ditadura fascista e apoio aos presos políticos", além dos numerosos cargos políticos desempenhados, os quais elencou.

O deputado de "Os Verdes" José Luís Ferreira também reconheceu que, "ao longo deste tempo, o PEV nem sempre acompanhou as decisões ou opções políticas de Mário Soares, seja como primeiro-ministro, seja como Presidente, mas é também verdade que 'Os Verdes' sublinham e reconhecem a natureza inovadora das suas Presidências Abertas, nomeadamente sobre ambiente e qualidade de vida".

André Silva, parlamentar do PAN e citou o antigo líder sul-africano e combatente anti-apartheid Nelson Mandela: "'A morte é inevitável, quando um homem fez aquilo que considera ser o seu dever para com o seu povo e o seu país, poderá descansar em paz'."
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  • Gamelas
    12 jan, 2017 Arruda dos Vinhos 12:25
    AI COITADINHO !!!!!!!!!!!!!!!!!
  • natália gomes
    11 jan, 2017 sesimbra 17:32
    Para os filhos, em especial para a Isabel,saliento a coragem emocional porque mesmo com amor a hora da partida é triste. Ouvir de mansinho a voz da mãe/mulher, ausente mas sempre presente,renovando o seu amor ao companheiro de uma vida, e que continuará a sê-lo do lado de lá, que esperamos seja um paraíso com rosas e cravos. Que o vosso sofrimento enquanto crianças, seja reconfortado ao ver o país e a comunidade internacional grata perante o legado do vosso pai.. A "festa" foi bonita, o cenário ,o programa da cerimónia, a afetividade que a rodeou, até parece que a dor acalmou...a emoção foi enorme. Bem Hajam! continuem a ser grandes.abraço natália gomes

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