Tempo
|
A+ / A-

Morreu o arcebispo que esteve preso por tráfico de armas

03 jan, 2017 - 15:22 • Filipe d'Avillez

Tinha 94 anos. Entre os bispos católicos, poucos tiveram um percurso tão polémico e acidentado como Hilarion Capucci, arcebispo da Igreja Greco-Católica Melquita.

A+ / A-

O Vaticano confirmou a morte do arcebispo Hilarion Capucci, da Igreja Greco-Católica Melquita, aos 94 anos de idade. O patriarcado Melquita também confirmou a notícia. O prelado morreu no dia 1 de Janeiro.

Capucci nasceu em Alepo, na Síria. Foi ordenado padre em 1947 e bispo em 1965, tendo participado em três sessões do Concílio Vaticano II. Tornou-se famoso, contudo, quando foi detido pelas autoridades israelitas, em 1974, por ter tentado transportar ilegalmente armas para as forças palestinianas que combatiam o Estado judaico.

O caso foi fonte de grande tensão entre Israel e Roma, uma vez que, na qualidade de Vigário Apostólico em Jerusalém, Capucci tinha imunidade diplomática, da qual teria tentado aproveitar-se para transportar as armas, no seu carro, para a Cisjordânia.

A Igreja Greco-católica Melquita é apenas uma de várias denominações cristãs com sede no mundo árabe, havendo consideráveis diferenças entre estas, não apenas no plano da liturgia e tradição, mas também na visão geopolítica. A Igreja Melquita, por exemplo, tende a enfatizar a identidade árabe dos seus fiéis. Na altura da detenção, Capucci recebeu o apoio inequívoco do seu patriarca, Maximos, que declarou: “Será que este bispo deve ser condenado se acreditou que era seu dever usar armas? Se olharmos para a história vemos outros bispos que traficaram armas, deram as suas vidas ou cometeram actos ilegais para salvar judeus durante a ocupação nazi. Não vejo porque devemos condenar um homem que está disposto a salvar árabes."

Condenado a 12 anos de prisão, Capucci acabou por ser libertado ao final de quatro e expulso do país.

Considerado um herói pelos governos de vários países muçulmanos, Hilarion Capucci envolveu-se em muitas polémicas e no activismo pró-árabe e pró-palestiniano. Em 1990, foi recebido no Iraque, após a invasão do Kuwait, onde tentou negociar a libertação de 68 italianos que estavam detidos por Saddam Hussain e, no ano 2000, viajou, de novo, para o Iraque para protestar contra as sanções ocidentais. Na altura, disse haver dois povos a sofrer no Médio Oriente, “os iraquianos por causa das sanções, e os palestinianos, que lutam pela sua dignidade”.

Em 2009, já com 86 anos, foi novamente detido por estar a bordo de um navio que procurava levar ajuda humanitária a Gaza, na altura bloqueada por Israel. Forças israelitas tomaram o navio de assalto. O mesmo aconteceu em 2010 com o navio “Mavi Marmara”, levando à morte de nove dos activistas a bordo. O arcebispo escapou ileso ao incidente.

Iraque, Egipto, Líbia, Síria e Sudão emitiram selos em sua homenagem, ainda em vida, e a sua morte foi lamentada pelo presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Mario
    03 jan, 2017 Portugal 19:11
    Não era trafico nenhum foi uma promessa de cessar fogo.
  • Manuel
    03 jan, 2017 Lisboa 17:05
    Enfim um "guerrilheiros" disfarçado de padre....e um bispo que errou na profissão

Destaques V+