02 jan, 2017 - 15:38 • Ana Lisboa
O presépio tradicional português é candidato, tal como outros presépios tradicionais europeus, a património imaterial da humanidade. Trata-se de uma candidatura conjunta que inclui, além de Portugal, outros países como Alemanha, Suíça, Espanha e Itália.
Outros mais podem vir a aderir à iniciativa. O processo é demorado e, provavelmente, só no início de 2018 será apresentado, definitivamente, aos órgãos da UNESCO.
A ideia desta candidatura partiu da Federação Mundial dos Presépios. Da parte portuguesa, a iniciativa de aderir foi do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.
As razões que levaram Portugal a associar-se a esta candidatura internacional tiveram a ver com o “grande património presepístico que existe no nosso país, pela grande tradição, pela grande história que rodeia esta manifestação artística e espiritual entre nós”, explica o director deste organismo, José António Falcão, responsável pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.
Um presépio com "identidade"
Tal como o conhecemos hoje, o presépio tradicional português “é, sobretudo, o resultado uma síntese entre os períodos do barroco e o período do rococó, ou seja, o presépio terá nascido ainda entre nós, como noutros países, no final da Idade Média. Sofreu, depois, uma grande evolução nos séculos XVI e XVII, mas foi sobretudo a partir deste último que encontrou a sua própria identidade”, conta José António Falcão.
Actualmente, este património tem estado “um pouco ameaçado, porque esta arte tradicional de realizar todos os anos o presépio começa a ter cada vez menos espaço de manobra. Mas, por outro lado, também notamos que há várias pessoas, famílias, instituições que estão interessadas e manter e em valorizar esta manifestação, se quisermos, quase colectiva, porque é algo que diz respeito a toda a sociedade”.
O presépio é feito a partir de vários materiais característicos de cada região do país, como o barro, a madeira ou a cortiça, no caso do Alentejo.
Embora não existam “regras escritas, há uma forma muito estrita de se montar o presépio. E é isso também que é preciso assegurar a transmissão e envolver as novas gerações, o que tem sido uma das nossas principais preocupações”, confessa José António Falcão.
A preservação do presépio tradicional português é "importante" tanto para os católicos como para pessoas de outras fés ou sem ela. "Não se trata aqui de manter o presépio como era no tempo de António Ferreira ou de Machado de Castro, esses grandes mestres presepistas. O que se pretende é que mesmo fazendo presépios nos nossos dias, eles respeitem aquilo que é a tradição nacional”.
Nesse sentido, o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja quer apostar na criação de oficinas de presépios para transmitir esta tradição às novas gerações.
"Conjecturámos que talvez fosse importante na nossa região pensar-se em anos futuros na realização de oficinas de presépios que com as escolas, com os grupos de catequese, com as paróquias e com outras instituições - os museus também podem desempenhar um papel importante – de alguma maneira em diversos pontos no Alentejo se pudesse articular um bocadinho o saber tradicional , o património e também uma visão mais contemporânea”, diz José António Falcão.
Até 6 de Janeiro, o público poderá ver e apreciar um presépio tradicional português que se encontra no Museu Episcopal de Beja, instalado na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.