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Teolinda Gersão vence Prémio Vergílio Ferreira. "O meu compromisso é com um leitor abstracto”

21 dez, 2016 - 16:16

Para a autora de "A cidade de Ulisses", preocupar-se com as reacções ao que escreve "seria um entrave à liberdade de escritor". Entrega do prémio realiza-se a 1 Março na Universidade de Évora.

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A escritora Teolinda Gersão, distinguida esta quarta-feira com o Prémio Vergílio Ferreira 2017, da Universidade de Évora, diz que a sua “liberdade de escrita” foi conquistada “sem prazos” nem “espartilhos”, apenas com o seu “modo de ver as coisas”.

"Como eu não vivo da escrita, eu conquistei a pulso a liberdade de escrever de uma maneira totalmente livre, sem prazos, sem nenhuns espartilhos, apenas aquilo que o meu modo de ver as coisas, a minha consciência e maneira de ver as coisas me leva a escrever", afirmou Teolinda Gersão à agência Lusa.

"Escrevo o que acho que deve ser dito, um testemunho sobre a minha época, sobre o que consegui apreender do mundo e também as lições de vida que fui tendo", sublinhou, em declarações à Lusa.

Para a autora de "A cidade de Ulisses", preocupar-se com as reacções ao que escreve "seria um entrave à liberdade de escritor".

"Não estou preocupada com o público ou com os críticos, nem se o livro vai agradar ou não, só me interessa escrever aquilo que eu acho que faz sentido ser dito e que quero transmitir às outras pessoas", disse.

"As reacções das pessoas, de certo modo, passam-me ao lado", sublinhou, para acrescentar, em seguida: "O meu compromisso é com um leitor abstracto e que pode até ser muito posterior à minha morte".

Referindo-se ao galardão disse: "É sempre bom receber um prémio, ver o nosso trabalho reconhecido, e tenho imenso gosto e muita honra em receber o Prémio Vergílio Ferreira, até porque tive o privilégio de o ter conhecido e de quem fui amiga".

A escritora apontou o seu livro "Águas Livres", em que conta como conheceu Vergílio Ferreira e se tornaram amigos.

A autora de "Os Guarda-Chuvas Cintilantes" referiu o contraste que notou entre a figura que imaginava do escritor, que admirava, mas a seus olhos era "amargurado", e a que conheceu, "uma pessoa humana e próxima".

"Parecia-me um escritor amargurado, de luta consigo próprio, com Deus e com o mundo", uma situação à qual "reagia contra", e quando conheceu encontrou "uma pessoa humana e próxima".

"Fiquei maravilhada porque encontrei uma pessoa muito diferente daquela pessoa amarga que eu imaginava, até através dos Diários, e conheci uma pessoa humana, próxima, e criámos uma relação muito afectuosa", disse a escritora, que recordou que o escritor "gostou muito" do seu primeiro livro - "O Silêncio" -, que considerou "livro do ano", tendo vaticinado que só iria parar quando morresse, contou.

Teolinda Gersão foi escolhida por um júri presidido por António Sáez Delgado e que incluiu Pedro Ferré, Mário Avelar, Gustavo Rubim e Elisa Esteves, que realçou a sua "alta qualidade da arte narrativa expressa nos vários géneros de ficção clássica, em particular o romance e o conto".

O seu percurso, segundo o júri, "adquire especial relevo pela independência da escritora relativamente a todas as modas ou tendências, que, de alguma forma, condicionam os caminhos da literatura contemporânea".

A autora está a preparar um novo livro de contos, que deve publicar no próximo ano, mas que só entrega "quando estiver satisfeita com ele" e vir que não é capaz "de fazer melhor".

A este livro deve seguir-se um romance que ainda não começou, mas para o qual já tem uma ideia e juntou alguma documentação. Entretanto, devem também ser reeditados três livros seus.

Segundo a universidade alto-alentejana, esta edição do prémio foi a que teve mais candidaturas desde que foi criado, tendo sido apresentadas por instituições de Portugal, Espanha, Itália, EUA e Colômbia.

A cerimónia de entrega do prémio literário realiza-se no dia de 1 Março de 2017, na Universidade de Évora, data em que se assinala a morte do escritor Vergílio Ferreira.

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