09 dez, 2016 - 18:40 • José Pedro Frazão
O social-democrata Nuno Morais Sarmento considera que é a própria sobrevivência do Partido Comunista Português que se joga no apoio dado pelo partido à solução governativa do PS.
O antigo ministro da Presidência lembra que todos os outros partidos comunistas europeus que apoiaram soluções de poder acabaram por desaparecer. No programa Falar Claro da Renascença, Sarmento insiste na magnitude do gesto dos comunistas ao decidirem apoiar o Governo liderado por António Costa.
"A grande dificuldade do exercício é este passo que está muito para lá do significado que aqui no ‘politiquês’ do burgo se tem discutido. O significado último é o de correr o risco de vida", analisa Morais Sarmento na Renascença.
O social-democrata observa que o Congresso do PCP "não reagiu mal" ao quadro político, mais de um ano após o partido ter decidido dar "um passo absolutamente radical para si próprio".
"Está de bem com a solução e pode estar de mal com os resultados, como estaria sempre, achando que são curtos e que há bandeiras diferentes face ao PS. O PCP mostra-se confortável com a solução", conclui Morais Sarmento no debate com o socialista Vera Jardim, em que ambos concordam na tese de que Álvaro Cunhal não teria tomado a mesma decisão assumida pelo Comité Central e pela liderança de Jerónimo de Sousa.
Força de bloqueio aos populistas
O antigo ministro do PS Vera Jardim argumenta que o PCP é um partido do sistema, mesmo que com atitude crítica, o que resulta numa barreira aos populismos em Portugal.
"Não temos em Portugal um problema parecido com muitos daqueles que vemos aparecerem pela Europa fora porque temos um Partido Comunista organizado e que toma conta da reivindicação. Não é um partido fora do sistema. O PCP é um partido do sistema, embora se mantenha sempre com uma crítica ao sistema. Não é um partido como o de Beppe Grillo, por exemplo", sublinha Vera Jardim na Renascença.
Para o histórico socialista, a recente entrevista do primeiro-ministro, António Costa, à RTP trouxe um contraponto importante face às posições do PCP.
"O primeiro-ministro reafirmou com muita força e firmeza o compromisso europeu do PS e do Governo. Isso tem interesse na época em que estamos, depois do congresso do PCP ", afirma Vera Jardim.
Já Nuno Morais Sarmento fala num "passeio" de Costa na entrevista ao canal público de televisão e insiste na crítica à falta de estratégia do Executivo.
"O que resulta claro da entrevista, para lá deste compromisso com a Europa, é a ausência de estratégia do Governo. Se formos ao dicionário, estratégia quer dizer uma proposta de médio e longo prazo que em cada momento deverá ser concretizado atendendo às circunstâncias. Esta última é a parte táctica. Este Governo só tem parte táctica, só tem a execução em cada momento. Falou-se de reversão, redistribuição, vagamente de crescimento sem compromisso ou convicção. Estratégia seria identificar um conjunto de problemas estruturalmente negativos para o país, apresentar proposta de mudança e dizer qual o sonho e a visão do país após essa mudança estrutural", defende o antigo ministro social-democrata.