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Navio Bolama, 25 anos de dúvidas e 30 mortes por explicar

03 dez, 2016 - 10:30

O afundamento do Bolama permanece um mistério, havendo teorias de que poderia estar a carregar armas ou urânio para a Guiné Bissau.

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Naufragado em condições nunca esclarecidas o navio de pesca Bolama está no fundo do mar faz no domingo 25 anos, sem culpados, sem respostas e aparentemente sem vontade para as encontrar.

Ao longo de um quarto de século, apesar do muito que se escreveu, até livros, e se disse nunca pareceu haver da parte do Governo português vontade para esclarecer o que levou o navio a afundar a 4 de Dezembro de 1991, de acordo com informações na imprensa ao longo do tempo.

Há um ano foi o Bloco de Esquerda que voltou ao assunto, perguntando ao Governo,

“ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis”, se estava disponível para proceder ao desafundamento do navio “para que seja possível a averiguação de dados que justifiquem ou não a reabertura do processo”.

A resposta do Governo à pergunta não foi conhecida e questionado pela Lusa o partido também não deu qualquer esclarecimento em tempo útil.

O processo há muito que foi arquivado pelo Tribunal de Instrução Criminal que ditou a sentença: acidente de causas naturais.

O Bloco e nomeadamente famílias das vítimas consideram que, no entanto, ainda há muito por esclarecer sobre o que realmente aconteceu.

O desastre (não houve pedido de ajuda) provocou a morte de 30 pessoas, mas nem mesmo assim houve um esforço sério para perceber o que se passou nesse dia. O navio foi localizado dois meses depois pela Marinha a 130 metros de profundidade entre o cabo Raso e o cabo Espichel, e apesar de repetidos pedidos para que fosse trazido à superfície e se tentasse apurar as causas do afundamento tal nunca aconteceu.

De concreto apenas se sabe que o navio pesqueiro se afundou pouco depois de sair da barra do rio Tejo numa viagem para testar um novo sistema de recolha de redes. Das 30 pessoas que estavam a bordo apenas foram recuperados os corpos de oito.

Imagens recolhidas no local mostraram um buraco no casco do navio que indicava que teria sido feito já depois do naufrágio, segundo familiares das vítimas.

Ao longo dos 25 anos o assunto foi esmorecendo, mas nunca se deixou de aventar a hipótese de o navio transportar algo de valioso e que por isso foi propositadamente mandado ao fundo. O sindicalista Joaquim Piló (era presidente do Sindicato Livre dos Pescadores) admitia que o Bolama transportava ou armas ou urânio.

Oficialmente eram electrodomésticos a carga do navio, supostamente com destino à Guiné-Bissau. O navio pertencia a uma sociedade luso-guineense e na lista dos mortos contam-se 11 pescadores portugueses e nove guineenses. As restantes vítimas eram dois administradores e dois amigos, quatro metalúrgicos, um mecânico e um técnico de electrónica.

“Apesar de nunca terem sido conhecidas as causas para este naufrágio, um dos mais mortíferos da história do nosso país, nunca houve qualquer esforço do Estado português para trazer à superfície o navio afundado”, diz o Bloco de Esquerda na pergunta ao Governo, lembrando as 15 toneladas de electrodomésticos de carga oficial, que “o porão do arrastão não teria capacidade para equipamento desse volume”.

“A não ser que se tratasse de uma carga com muito grande densidade. Daí as teorias sobre suposta carga ilegal como armas ou urânio”, diz também o partido, que deixa ainda outras dúvidas: que causa natural podia ter levado ao naufrágio quando as condições meteorológicas e do mar eram boas? Que carga transportava realmente? Qual a explicação para o buraco oval e picotado abaixo da linha de água?

Tantos anos depois não há respostas e, como diz o Bloco de Esquerda, “as famílias das vítimas merecem o acesso à verdade”.

Comentários
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  • Francisco Barreto
    03 dez, 2019 Lisboa 13:06
    Há aqui muita coisa por explicar. E verdade que o barco partiu já com uma inclinação acentuada para um dos lados? Porque partiu nessas condições? A carga estaria mal distribuída? E não sendo eu perito em assuntos do mar, em 30 tripulantes, não teria havido tempo de, pelo menos um ter abandonado o navio?
  • mara
    29 jul, 2019 portugal 16:58
    Salesianos vendem colégio de Poiares, Cartuxa de Évora vai para Espanha que se passa nesta infeliz Nação????
  • ferrera
    12 ago, 2017 vila nova gaia 16:28
    será que em portugal há justiça comprometida e nao se pode saber-se a verdade será que o bolama esta no fundo do mar e ainda tem ameacas para os homens ligados há politicada e há justiça e ao poder nao interessa saber para nao mexer também nos políticos ja pensei que deve estar tudo misturado para o povo nada puder saber e chega basta vejam os podres do poder
  • Engº Costa e Sousa,J
    03 jan, 2017 12:29
    É vergonhoso que este País logo que se deu o crime ou o acidente não tenha iniciado as buscas com toda a urgência para salvar alguém ou resgatar os corpos !
  • Engº Costa e Sousa,J
    03 jan, 2017 12:19
    Apenas conheço uma família que perdeu os dois filhos (um dos quais foi vítima do Bolama e cujo corpo foi recuperado) eo marido !
  • Luis Ribeiro
    03 dez, 2016 Faro 22:03
    As condicoes de mar eram boas? Estao a falar de que naufragio?! O Bolama saiu sem autorizaçao do Porto e o mar estava muito agitado!
  • Nuno
    03 dez, 2016 V.N.Gaia 18:55
    Sr Luís, tem toda a razão.A verdade nunca se chegará a saber pela simples razão,haverá muito gente que não estará interessadas em que a verdade seja conhecida,já agora, gostava de saber a opinião e o paradeiro dos jornalistas que acompanharam este naufrágio.
  • Viuva Triste
    03 dez, 2016 Lisboa 16:55
    Aqui está um caso que me deixa muito intrigado. Então as autoridades Portuguesas e até estrangeiras não conseguiram desvendar o mistério do Bolama. Aqui há rato.E não deve ser pequeno. Este caso não abona em nada a seriedade das investigações se é que elas foram feitas.Eu por mim tenho vergonha que um País não consiga ter uma resposta para o que se passou.Por isso em eu pensar que aqui há marosca ou seja alto segredo de Estado.
  • Luis
    03 dez, 2016 Lisboa 14:36
    Ainda hoje não sabemos se o Sebastião morreu ou não a guerrear. De igual modo também não sabemos se o avião de Sá Carneiro caiu ou fizeram-no cair. Com o caso do Bolama a situação é a mesma. Nós não sabemos, mas há muita gente que sabe. Uma coisa eu sei, no local onde ele se afundou, que se encontra devidamente sinalizado, com tempo bom quase que dá para lá ir a nado.

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