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"Não quiseram saber dos perdedores. Agora têm Trump e Brexit"

02 dez, 2016 - 19:52 • Sandra Afonso

Em entrevista à Renascença, o economista francês Philippe Aghion considera que a Europa "fez tudo ao contrário" para ultrapassar a crise.

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Os “perdedores” da sociedade devem ser compensados e as reformas realizadas pelos Governos premiadas para evitar novos Trump e “Brexit”, defende o economista francês Philippe Aghion, professor em Harvard e assistente no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla inglesa).

A possibilidade de os italianos chumbarem a reforma constitucional no referendo de domingo vai ganhando força, o que pode significar a saída de Itália do euro. Este é o risco que a Europa corre quando se esquece dos “perdedores”, alerta o reputado economista em entrevista à Renascença.

“Vocês querem compensar os perdedores. O problema é: quem não tem educação não tem esperança no futuro. Margaret Tatcher e Ronald Reagen entenderam que tinham que fazer reformas estruturais, mas operaram o doente sem anestesia, esse é o problema. Não quiseram saber dos perdedores. Agora têm que enfrentar o problema de frente”, afirma o professor.

“Os perdedores deram-lhes Trump nos Estados Unidos e ‘Brexit’ do Reino Unido. Têm que assegurar que investem em educação. Admiro os países na Europa que decidem que a educação deve ser de qualidade e para todos, como na Finlândia, na Escandinávia. É importante, quando ficam desempregados, terem acesso a subsídios, formação, ajuda para encontrar novo emprego”, defende.

Philipe Aghion elogia ainda as reformas do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e lamenta que não tenha recebido mais apoio.

“Devem premiar quem faz reformas. Renzi fez um trabalho muito corajoso com a reforma laboral. Ele precisou de ajuda para lidar com o problema do malparado nos bancos. Ele devia ter sido ajudado. Ele pode perder o referendo como resultado disso e isso é terrível, quando não se encorajam as reformas. Concordo com a Alemanha quando é dura com a França quando não faz reformas, quando são executadas devem ser encorajadas e premiadas. Mesmo que não optemos pelo federalismo, somos uma Europa de países e nações e nações devem encorajar-se umas às outras em acertarem com o pacote de políticas adequado”, defende o economista francês.

Segundo Philipe Aghion, o problema de países como Itália e Portugal é o fraco crescimento e a culpa é a cronologia das decisões tomadas pelas autoridades, que decidiram bem mas tarde demais.

“Europa fez tudo ao contrário”

O professor em Harvard aponta o bom exemplo dos Estados Unidos na forma como enfrentou e ultrapassou a crise.

“Os Estados Unidos fizeram testes de stress nos bancos, lidaram com o problema dos empréstimos maus, fizeram a desalavancagem, mas sem recessão, porque eles tinham os estímulos fiscais adequados. E tinham Obama a ajudar a General Motors, e o meu amigo Bern [Bernanke, na altura presidente da Reserva Federal] que ajudava na flexibilização”, argumenta.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a Europa não optou pela flexibilidade e “muito rapidamente começaram com restrições orçamentais”.

“Fizeram tudo ao contrário. Fizeram os testes de stress aos bancos muito tarde, e fizeram tudo de pernas para o ar. Isso é uma parte da história e por isso é que a Europa não está a crescer tão rapidamente”, resume o professor.

A Renascença falou com o economista Philipe Aghion na semana Europeia das PME, que este ano decorreu em Bratislava, capital da Eslováquia, que está agora com a presidência da União Europeia.

Comentários
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  • Vasco
    05 dez, 2016 Santarém 22:54
    Falamos de globalização que nos levou o emprego, falamos de emigração extracomunitária repleta de malandros e religiões de toda a espécie, falamos de valores morais espezinhados sobretudo por partidos de esquerda em nome de liberdade onde vale tudo e então parece estarmos nas causas certas para o forte desemprego, para a insegurança e para a libertinagem sem limites, que venham mais Trumps e Brexits . Nos USA o senhor Trump já ameaçou uma empresa de refrigeração que tentava escapar-se para o México na procura de baixos salários com um imposto de mais 35% caso o fizesse, falou com o proprietário e este desistiu da intenção, na Europa com a globalização incentivam-se as empresas a escaparem-se para a Ásia e não só e nem sequer já importa se há trabalho escravo ou infantil que há anos atrás tanto serviu de pretexto para desaconselhar a compra a essas empresas responsáveis.
  • couto machado
    05 dez, 2016 porto 13:44
    é tão bom o bem bom, que não apetece fazer as coisas direitas. quanto mais torto, mais tempo terão de emprego para endireitar.

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