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Quarto mandato de Merkel? "Ela vai ter que pedalar por si própria"

23 nov, 2016 - 20:42

Os riscos de um novo mandato da chanceler são analisados pelos comentadores do programa "Fora da Caixa", Pedro Santana Lopes e António Vitorino.

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Fora da Caixa - Direita francesa a votos e Merkel - 23/11/16

Pedro Santana Lopes considera arriscada a decisão de Angela Merkel que avança para tentar um quarto mandato como chanceler alemã. O antigo primeiro-ministro admite que a governante democrata-cristã ponderou muito bem a sua posição face ao avanço da extrema-direita protagonizada pela AFD - Alternative fur Deutschland.

"Depois de ganhar várias eleições, é um bocado aborrecido se tiver que sair se as perder. Admito que o factor do crescimento da extrema-direita tenha pesado.

O interesse de toda a Europa, da Alemanha, é garantir que há força no espaço da tolerância democrática para ganhar as eleições. Julgo que ninguém melhor do que ela, por isso tiro-lhe o chapéu. Não vai ser nada fácil", antecipa o social-democrata que lembra que pelo meio há um referendo em Itália e eleições presidenciais francesas.

Já António Vitorino fala numa decisão sobretudo pragmática tendo em conta o panorama político interno.

"A senhora Merkel tem um pouco a síndroma do eucalipto, seca tudo á volta. Os bávaros bem tentaram mas perante a pressão da AFD o pragmatismo prevaleceu. Eles compreenderam que a única pessoa que, apesar de tudo, ainda podia garantir um resultado ganhador à coligação CSU-CDU não era de certeza um bávaro retirado agora do chapéu, mas a senhora Merkel", analisa António Vitorino no programa "Fora da Caixa" da Renascença.

Com humor, o socialista sustenta que Merkel "é a única estadista que a Europa hoje conhece. Podemos concordar ou discordar com ela ou , como eu, concordar numas coisas e discordar noutras. Mas há um ponto incontornável: ela é a única estadista que existe hoje em funções na Europa, exceptuando Portugal..."

Como será o quarto mandato de Merkel?

Vitorino antecipa problemas para a formação de uma maioria de centro-direita no parlamento federal alemão.

"Admito que a CDU/CSU não tenha maioria e terá que se coligar com outro partido. E pode não ser suficiente coligar-se só com mais um partido, tendo que coligar-se com mais dois para ter 50% no Bundestag", argumenta António Vitorino que identifica aqui um primeiro desafio para as fileiras democratas-cristãs na Alemanha.

O segundo desafio passa pelas políticas governativas de Merkel. "As grandes reformas que permitiram à Alemanha ter uma performance económica invejável foram feitas no tempo de Gerhard Schroeder, no último governo social-democrata com os Verdes. O que aliás lhes custaram a eleição seguinte", observa Vitorino para de seguida criticar o registo de Merkel como chanceler.

"Nos últimos três mandatos da senhora Merkel, a Alemanha foi um referencial de estabilidade mas não fez nenhuma reforma de fundo que a Alemanha também vai ter que fazer. O que é arriscado neste quarto mandato é que Merkel não vai poder continuar a viver á custa da herança que recebeu. Ela vai ter que "pedalar" por si própria. Uma questão fundamental para a Europa é saber se ela vai dar um sinal de relançamento da procura interna alemã que é fundamental para garantir o equilíbrio da zona euro", remata o antigo comissário europeu.

Fillon contra Le Pen em 2017?

É o homem do momento em França. François Fillon venceu a primeira volta das primárias do centro-direita para as presidenciais, afastando Sarkozy do combate de 2017. Santana Lopes e António Vitorino analisam an Renascença a corrida à direita no país dos gauleses.

O antigo primeiro-ministro francês François Fillon surpreendeu os analistas e os centros de sondagem e avança no próximo fim-de-semana para a segunda volta contra Alain Jupée. Também Santana Lopes e António Vitorino falam num resultado inesperado.

"Pensei de facto que as sondagens estavam certas e que o vencedor seria Alain Jupée. Ele não terá já hipóteses de ganhar a segunda volta. A primeira volta consolida o senhor Fillon", admite António Vitorino no programa "Fora da Caixa". O antigo comissário europeu reconhece que Fillon não é um político carismático, mas mostrou ter mais energia que Alain Jupée, que descreve como "um político muito clássico, bastante arrogante, bastante "francês".

No plano económico, por paradoxal que pareça, Fillon é comparado por Vitorino a Nicolas Sarkozy, na versão de 2008. " Tem uma ideia muito firme de uma política económica bastante mais liberal do que o normal da política francesa à direita", observa o antigo ministro socialista.

Para Pedro Santana Lopes, Fillon não desperta especiais simpatias tal como acontecia com Sarkozy ou Jupée. "Não me diz nada de especial mas pode vir a ser um "caso". E a vida está para as surpresas eleitorais, para ganhar quem não se espera ou vem de fora. O senhor Fillon não vem de fora, foi primeiro-ministro, tem muito tempo na vida política, mas não estava no primeiro lugar do pódio", acrescenta o antigo primeiro-ministro na Renascença.

Cisma na esquerda francesa

O socialista António Vitorino considera que Alain Jupée teria mais facilidade em congregar o voto à esquerda num eventual combate final entre dois candidatos para a Presidência de França. Mas Fillon poderá bem ocupar esse espaço se não houver candidatos de esquerda em liça.

"Admitindo que numa segunda volta, estará a senhora Le Pen e o candidato de centro-direita - provavelmente Fillon - acredito que Fillon vai poder congregar o voto daqueles que querem barrar o caminho a Le Pen", afirma Vitorino. O socialista concorda com Pedro Santana Lopes sobre um eventual ganho eleitoral que decorra de uma recandidatura de Hollande. "A questão da função tem um certo magnetismo. Não subestimemos o significado da candidatura do presidente em funções. Hollande ganhou por uma unha negra em relação [ao então presidente] Sarkozy", assinala o antigo comissário europeu.

Vitorino admite que se François Hollande se recandidatar, o actual primeiro-ministro Manuel Valls não se apresentará eleições. O comentador que milita no PS reconhece que a esquerda está bastante fragmentada do ponto de vista político.

"Há um cisma na esquerda francesa em termos de programa político. Entre os anti-mundialistas de Mélenchon, os Verdes que se distanciaram dos socialistas e toda a extrema-esquerda, cada um terá o seu candidato", anota Vitorino, ciente ainda de mais duas candidaturas "mais ou menos centristas que podem baralhar um pouco o jogo".

O antigo ministro do PS refere-se ao avanço de Emmanuel Macron, antigo ministro da Economia " que corre em pista própria" e François Bayrou " que já disse que se Jupée não for o candidato dos republicanos, admite apresentar uma candidatura centrista".

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