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Diagnóstico do Papa. Mundo sofre de “cardioesclerose”, tem falta de ternura e misericórdia

20 nov, 2016 - 21:00 • Aura Miguel

Francisco lamenta uma cultura que descarta os idosos, os mais frágeis, as crianças por nascer e a insensibilidade dos que fazem a guerra. Reconhece ainda a sua "alergia aos bajuladores".

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Diagnóstico do Papa. Mundo sofre de “cardioesclerose”, tem falta de ternura e misericórdia

“O maior inimigo da Igreja - o maior de todos - é o dinheiro”, diz o Papa numa entrevista transmitida pelo canal de televisão católico TV2000.

“Pensem como Jesus dá ao dinheiro o estatuto de senhor e de patrão, quando diz 'ninguém pode servir a dois patrões e senhores: a Deus e ao dinheiro'. Santo Inácio ensina-nos que há três degraus: o primeiro é a riqueza que começa a corromper a alma; depois, é a vaidade - as bolas de sabão, com uma vida vaidosa, a aparência, a boa figura… - e, por fim, a soberba e o orgulho. Daqui derivam todos os pecados. Por isso, não é fácil; temos sempre de reflectir continuamente”, referiu.

Francisco acrescenta que “as tentações do Papa são as de qualquer pessoa, de qualquer homem, de acordo com as fraquezas de personalidade de cada um, que o diabo aproveita sempre para entrar e que são a impaciência, o egoísmo, um pouco de preguiça… entram todas, todas. E as tentações acompanhar-nos-ão até ao último momento, não é?”

O Papa mostrou-se também contente com a dimensão universal do Ano da Misericórdia, uma vez que o Jubileu não foi só em Roma, mas espalhado por todas as dioceses do mundo.

“Só posso referir as notícias que chegam de todo o mundo e o facto de o Jubileu não ter sido só em Roma, mas em cada diocese do mundo, nas dioceses, catedrais e igrejas que o bispo indicou, tudo isso universalizou um pouco o Jubileu. E fez um grande bem”, disse.

Reconhece, nesta entrevista de 40 minutos à TV2000, que o mundo tem falta de ternura e de misericórdia, porque temos o coração duro. Francisco usa a expressão “cardioesclerose” para definir esta doença da actualidade que está na origem da cultura que descarta os idosos, os mais frágeis, as crianças por nascer e a insensibilidade dos que vendem armas, os que fazem a guerra e bombardeiam, indiscriminadamente escolas e hospitais.

Nos tempos livres, Francisco telefona para algumas prisões e fala com detidos que conhece, esperando que o tempo passado no cárcere ajude à futura reinserção. Por isso, condena a pena de morte e também a prisão perpétua, classificando-a de “pena de morte disfarçada”.

O Sumo Pontífice diz que tem “alergia aos bajuladores. Sou mesmo alérgico. Não é virtude, mas é uma reacção natural porque bajular outro é usar a pessoa com um objectivo - disfarçado ou à vista de todos - para obter alguma coisa em proveito próprio. Isso é indigno. Lá em Buenos Aires usamos uma expressão da gíria popular, chamamos-lhe ‘lambe-botas’. É muito feio lamber as botas do outro, mas é uma expressão bem conseguida.

Confirma ainda que dorme que nem uma pedra e que é saudável, “apesar de alguns achaques na coluna”.

O Papa também se referiu ao aborto como “crime horrendo” e “pecado gravíssimo".

Papa refere-se ao aborto como “crime horrendo” e “pecado gravíssimo"
Papa refere-se ao aborto como “crime horrendo” e “pecado gravíssimo"
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  • Orabem!
    21 nov, 2016 dequalquerlado 10:59
    O mal do mundo é o egoísmo. Quantos e quantos não se vêm por aí cheios de bem estar mas querendo que os outros vivam sem dignidade, que não tenham direitos porque à custa destes beneficiará mais ainda os que têm mais. Quanto aos lambe botas, não poderia estar mais de acordo com António Ferreira. Infelizmente eles estão por todos os cantos, a falta de caráter é o que sobressai mais nesta gente. Políticos e quejandos... A inveja é outro grande mal. Trabalhadores do privado contra a função pública. Em vez de se manifestarem e lutarem por direitos e pela dignidade que lhes têm sido retirados e culparem os responsáveis, não, culpam os trabalhadores do público, que vivem como reis, quando também estes vivem na precariedade e têm os salários congelados e carreiras, mas esquecem-se que quem dá trabalho a muitos que o privado não emprega é muitas vezes os serviços da função pública, como Câmaras, juntas e outras entidades, o que seguem vergonhosamente o mesmo exemplo do privado, fazendo contratos temporários pelo salário mínimo. Enfim, se eu não estou bem, não quero que o outro também esteja. Quanto aos que desprezam os mais velhos, estes pensam que nunca vão chegar a velhos, deveriam pensar que um dia vão ser iguais e outros poderão fazê-los o mesmo. Ainda no que se refere àquelas que abortam, pena foi as mães destas não fazerem o mesmo, coitadas, muitas sabem abrir as pernas, mas criar um filho é que não.
  • José Carlos Ramalho
    21 nov, 2016 Almeirim 08:12
    Dinheiro...e poder maçónico ateu anti-Cristo, agnóstico e laico infiltrado na Igreja Católica para a destruir por dentro e dominar o Mundo, os Estados e controlar a humanidade com fingida caridade, promovendo as guerras e o sofrimento das pessoas. Jesus foi mandado torturar e assassinar na Cruz por esse poder que já nssa época manipulou a opinião do Povo. Que o nosso DEUS CRIADOR nos livre de todo o mal.
  • Antonio Ferreira
    21 nov, 2016 Porto 07:43
    O Papa Francisco toca nos pontos essenciais. São os pontos que fazem de nós pessoas incapazes de construir uma sociedade nova, com valores novos porque, de certa forma, nos deixamos corromper por esta sociedade que construímos. Na verdade, não temos saída, porque a única saída é a de sermos capazes de reconstruir uma nova sociedade com; valores e princípios condizentes com a dignidade humana que fomos abandonado ao longo dos tempos. Outra chaga social são, de factos, os ´´ lambe -botas ´´ ou bajuladores que existem em todos os sectores da sociedade, mas predominam na classe política e à sua volta. Esta chaga é responsável por muito do mal que vai acontecendo nas sociedades, porque a recusa das pessoas em serem frontais, em manterem a sua dignidade, e não se sujeitarem às atitudes inaceitáveis, são responsáveis por sociedades; doentes, falsas que vão degradando, pela ausência de atitudes dignas. Não tenho qualquer dúvida que se fossemos capazes de compreender e adoptar as atitudes que o Papa Francisco, aqui denúncia, teríamos , certamente, uma sociedade mais sã, liberta de; oportunistas, vaidosos, indignos, corruptos, onde fosse possível sermos mais dignos com nós mesmos. Teríamos, sem qualquer dúvida , uma sociedade melhor, sem avareza que mata o nosso interior e nos torna incapazes de ser,os ,mais felizes.

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