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Os japoneses vivem mais tempo. Como podem os ocidentais conseguir o mesmo?

17 nov, 2016 - 10:39 • Marta Grosso

O segredo é o ikigai, uma filosofia de vida que dois espanhóis foram descobrir numa viagem ao Japão. Está tudo no livro “Ikigai – Viva Bem Até aos Cem”. A Renascença entrevistou os autores.

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O Japão é o país com a maior esperança média de vida do mundo. É lá que fica Ogimi, uma aldeia do arquipélago de Okinawa onde se pode encontrar as pessoas mais velhas do planeta e felizes.

O que os faz viver tanto? Qualidade de vida, baseada em alguns mandamentos, e boa alimentação.

Os espanhóis Héctor García e Francesc Miralles viajaram até ao Japão e revelam tudo no livro “Ikigai – Viva Bem Até aos Cem”, editado em Portugal pela Albatroz. "Não é bem um livro de autoajuda. O nosso livro aborda sobretudo uma filosofia de vida", dizem, numa entrevista por escrito, à Renascença.

Afinal, o que é o ikigai? Ao longo do livro, aparecem várias definições associadas ao termo japonês.

Ikigai é a paixão que nos move, a razão por que acordamos todas as manhãs.

Na introdução, dizem que ikigai significa “a felicidade de estar sempre ocupado”. Então, o que há de mal com o estilo de vida ocidental?

Não há nada de mal, mas por vezes concentramo-nos muito em fazer algo não por prazer, mas pela perspectiva futura de terminar a tarefa e não precisar de fazer mais nada. No Japão, concentram-se mais na tarefa em mãos e no processo em si, havendo sempre algo para fazer, em vez de se concentrarem nos objectivos, como nós, no Ocidente.

O que distingue este livro de tantos outros de autoajuda ou sobre os segredos da qualidade de vida?

Não é bem um livro de autoajuda. O nosso livro aborda sobretudo uma filosofia de vida. Trata-se de descobrir um modo de vida que possa conferir maior finalidade e sentido às vidas de cada um.

As circunstâncias ambientais, sociais e os (poucos) recursos existentes na região de Okinawa parecem desempenhar um papel fundamental num estilo de vida promotor do bem-estar. Será possível alcançar o ikigai no Ocidente? São estas orientações de vida compatíveis com as exigências do dia-a-dia ocidental, onde imperam o stress, as preocupações e a ansiedade?

São inteiramente compatíveis com o estilo de vida ocidental porque consiste numa atitude intrínseca em relação à vida e aos propósitos de cada um. Não se esqueça de que o stress e a ansiedade vivem em nós. São resultado da nossa interpretação da realidade.

A maioria das chamadas “zonas azuis” são insulares e com poucos recursos. É isto condição importante para uma dieta alimentar regrada e uma mente mais desafogada?

Sim, é importante viver com tranquilidade e ter um sentido de comunidade. Tem sido observado que a vida em pequenas comunidades, onde todos se conhecem, torna as pessoas mais felizes. Todas as zonas azuis se inserem em pequenas aldeias com fortes laços comunitários.

Acha que no Ocidente se investe mais na longevidade do que na qualidade de vida? Por norma, nos países industrializados, qualidade de vida é sinónimo de dinheiro – dinheiro para férias, ir a um spa, ir ao ginásio, não se preocupar com a conciliação da profissão com as tarefas diárias e a vida pessoal…

O dinheiro pode eventualmente prolongar-nos a vida, mas não a torna melhor. É uma tolice acrescentarmos anos à nossa vida se não tivermos nada por que viver. Ter um ikigai, um propósito para cada dia das nossas vidas, é o suplemento mais poderoso que podemos tomar. A motivação é o elixir secreto que o dinheiro não pode comprar.

Uma das coisas fundamentais para a longevidade e no âmbito do ikigai é ter um propósito de vida, um propósito vital. Toda a gente em Okinawa tem isso? Porque é que no Ocidente temos tantas questões existenciais?

Não falamos bem em objectivos, mas em propósitos. Um objectivo é algo que alcançamos e, depois de alcançado, passamos ao seguinte. Com o ikigai propomos que se procure um propósito que nos acompanhe a vida toda. Todas as pessoas entrevistadas em Okinawa tinham um ikigai, e mesmo algo tão simples como cuidar do jardim pode ser um poderoso ikigai que não se esgota no conceito de objectivo. O nosso ikigai pode mudar a forma como se concretiza, mas está sempre connosco.

Conseguem os autores aplicar no seu dia-a-dia as práticas reveladas no livro?

Ambos seguimos a dieta de Okinawa e gostámos de fazer exercícios leves todas as manhãs. E temos um ikigai forte que orienta as nossas vidas.

Pretendem visitar as outras zonas azuis? Comparar “ways of life”? São as “zonas azuis” um mundo à parte?

Vamos regressar a Okinawa, uma vez que o ikigai é um conceito japonês. As zonas azuis não são um mundo à parte. Na verdade, ajudam a interligar o melhor do passado com o tempo que lhe segue.

Podem elencar cinco práticas essenciais para ter uma melhor qualidade de vida, compatíveis com o estilo de vida ocidental?

  • comer 80% do que deseja
  • fazer exercício e movimentar-se suavemente
  • ter bons amigos
  • sorrir todos os dias
  • ter um propósito na vida
Comentários
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  • abanhos
    17 nov, 2016 são paulo 12:46
    tampouco está tão afastada da deles a nossa portuguesa http://www.datosmacro.com/demografia/esperanza-vida

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