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Dia “D” no clima. Acordo de Paris entra em vigor para tentar salvar o planeta

04 nov, 2016 - 07:46

Principal objectivo é limitar o aquecimento global a +2°C acima dos níveis pré-industriais.

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É o primeiro pacto universal contra o aquecimento global. O Acordo de Paris entra esta sexta-feira em vigor, menos de um ano após ser adoptado, mas há um longo caminho a percorrer até à sua aplicação.

A entrada em vigor ocorre após o Acordo de Paris, adoptado a 12 de Dezembro do ano passado por 195 países na capital francesa, ter sido ractificado pelo número suficiente de países que representem 55% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa.

Essa meta foi alcançada a 5 de Outubro, quando a União Europeia (UE), que representa 12% das emissões, entregou a documentação de ractificação do acordo na sede da ONU.

Até então, os 61 países que já tinham ratificado o acordo somavam apenas 47,7% das emissões globais.

Nas vésperas da 22.ª Conferência do Clima da ONU (COP22), que arranca na segunda-feira em Marraquexe, um total de 94 países, dos 192 signatários, já ractificaram o Acordo de Paris, um ritmo que ultrapassou as expectativas dos especialistas.

"Fizemos em nove meses o que demorou oito anos no protocolo de Quioto", afirmou a presidente da COP21, a ministra francesa Ségolène Royal, citada pela AFP.

A rapidez da resposta dos Estados demonstra a tomada de consciência, ao mais alto nível, da necessidade de limitar o aquecimento global a +2°C acima dos níveis pré-industriais.

São poucos os grandes emissores que ainda não ractificaram o acordo: a Rússia não deu indicação sobre uma eventual data para a ractificação, enquanto a Austrália e o Japão estão comprometidos em avançar com o processo.

Ainda assim, alerta o especialista Alden Meyer, da organização norte-americana União dos Cientistas Preocupados, "é importante manter a dinâmica de Paris e não apenas regozijar-se com a entrada em vigor".

Os negociadores ainda têm muitas matérias sobre as quais é preciso chegar a acordo, de forma a tornar o pacto operacional, nomeadamente a definição de regras de transparência, a apresentação das estratégias nacionais até 2050, a ajuda financeira aos países em desenvolvimento.

"A COP22 tem de ser uma reunião de acção e de implementação", afirmou Tosi Mpanu-Mpanu, porta-voz do grupo dos países menos avançados, citado pela AFP.

É preciso evitar "uma tragédia"

Destinado a substituir em 2020 o Protocolo de Quioto, o Acordo de Paris visa limitar o aquecimento global a +2°C acima dos níveis pré-industriais.

No entanto, o texto acrescenta que os países se comprometem a levar a cabo "todos os esforços necessários" para que não se ultrapassem os 1,5 graus Celcius, evitando assim "os impactos mais catastróficos das alterações climáticas".

Este último objectivo foi incluído por exigência dos países pobres e dos Estados insulares, mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, como a subida do nível do mar e a seca.

No entanto, os especialistas avisam que mesmo a meta de +2ºC será difícil de alcançar, implicando cortes mais drásticos nas emissões globais da queima de carvão, petróleo e gás.

Os cientistas avisam que, ao ritmo actual, o mundo ficará quatro graus mais quente, ou três graus, se os países cumprirem as metas auto-impostas de redução das emissões nacionais.

Já na quinta-feira, um relatório da ONU relembrou que o Acordo de Paris já vem atrasado e que é urgente agir para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa se se quiser evitar "uma tragédia".

A novidade do Acordo de Paris foi que, pela primeira vez, se juntaram os países mais contaminantes e os mais vulneráveis.

O Protocolo de Quioto, de 1997, estabelecia objectivos de emissões apenas para os países desenvolvidos, uma das razões por que os EUA não se quiseram vincular.

O Acordo de Paris é legalmente vinculativo no seu conjunto, mas não em parte do seu desenvolvimento ou nos objectivos nacionais de redução das emissões.

A sua força reside no mecanismo com o qual serão periodicamente revistos os compromissos de cada país, o que é vinculativo.

Cada Estado é obrigado a apresentar contas do seu cumprimento e a renovar os seus contributos a cada cinco anos e os países que o quiserem podem usar mecanismos de mercado (compra e venda de emissões) para cumprir os objectivos.

O acordo não estabelece sanções por incumprimento, mas prevê a criação de um comité que desenhe um mecanismo transparente para garantir que os compromissos são cumpridos e para alertar, antes do fim dos prazos, se os objectivos são ou não alcançáveis.

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Comentários
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  • José lmeida
    07 nov, 2016 Vila Real 12:23
    Quando chegarmos a 2020 estamos a discutir o que se não fez com o acordo de Qiuoto e com o acordo de Paris.....
  • António Costa
    04 nov, 2016 Cacém 14:05
    O problema é que só quando existia um único continente (Pangeia) é que o clima era "mais estável". Nessas épocas recuadas não existia gelo nos polos. Na atual "disposição" continental idades do gelo alternam com períodos mais quentes. Atualmente vivemos num período "interglaciário", entre duas idades do gelo. Pois é, o Saara já foi verde e a Gronelândia também. Cuidado, sim, com a "produção" de lixo, mas para isso não é necessário ser "cientista", pois não?
  • Vasco
    04 nov, 2016 Viseu 12:17
    Infelizmente o dinheiro a economia os mercados, irão quase de certeza falar mais alto, mas muitíssimo mais alto, e como muitíssima gente, só consegue ver dinheiro à frente dos olhos o mais provável é que tudo isso não passe mais uma vez de utopia tendente a tapar os olhos à humanidade.
  • Filipe
    04 nov, 2016 Almada 11:43
    O titulo é falacioso. O planeta não precisa ser salvo, a raça humana sim. O nosso planeta já sofreu por todo o tipo de catástrofes naturais e continua por cá e continuará bem depois da nossa raça desaparecer, disso não tenho duvida.
  • atento
    04 nov, 2016 Aveiro 10:23
    Infelizmente acho que vão ficar pela intenção!
  • Génesis
    04 nov, 2016 Porto 09:01
    Salvar o planeta????? Salvar a raça humana que no que toca à terra, senão tivermos cá regenerasse rapidamente.....
  • Pedro Andrade
    04 nov, 2016 Braga 09:00
    Salvar o planeta? Com o pacto contra o aquecimento global? O planeta oscila entre eras quentes e eras frias há milhões de anos e não se incomoda nadinha com os gases de efeito de estufa. O aquecimento global será mau para nós e algumas outras espécies, mas é temporário porque logo a seguir virá o arrefecimento global. O que está realmente a estragar o planeta definitivamente é o lixo que produzimos e que se vai acumulando nos oceanos. O que é urgente é um pacto para a limpeza do planeta.

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