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Encontro do Papa com luteranos serve “sobretudo para relembrar o que nos une”

31 out, 2016 - 17:03 • Ângela Roque

Eva Michel, pastora da igreja presbiteriana em Portugal e o padre Tony Neves, sacerdote católico e provincial dos missionários espiritanos estiveram na Renascença a debater o diálogo entre igrejas cristãs.

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A viagem do Papa à Suécia pelos 500 anos da reforma protestante trouxe esta segunda-feira à Renascença dois elementos da Equipa Ecuménica Jovem: Eva Michel, pastora da igreja presbiteriana em Portugal e o padre Tony Neves, sacerdote católico e provincial dos missionários espiritanos. Confiam ambos no diálogo entre as igrejas cristãs em Portugal e dizem que a unidade “vai-se construindo” e já deu frutos.

Desde 1997 que em Portugal as várias igrejas cristãs dialogam entre si e realizam em comum diversas actividades e iniciativas ao longo do ano, e é muito graças aos jovens, por serem menos preconceituosos.

“Os jovens nasceram num tempo onde as animosidades antigas já não existiam. Estão muito interessados em perceber como podem caminhar juntos”, explica o padre Tony Neves, que representa os católicos na Equipa Ecuménica. “Em ‘’99 realizou-se o primeiro Fórum Ecuménico Jovem, e a partir daí nunca mais parámos.”

O próximo FEJ é já o 18º, e está marcado para 12 de Novembro, em Aveiro. É organizado pelos departamentos juvenis das Igrejas Católica, Lusitana (Comunhão Anglicana), Metodista e Presbiteriana, as igrejas que em conjunto têm feito caminho.

O padre Tony Neves lembra que “há vários momentos ao longo do ano. Já gravamos dois CD ecuménicos, conseguimos reunir património cantado das diferentes igrejas, com músicos de todas elas. É um caminho muito interessante”.

A Declaração de Reconhecimento Mútuo do Baptismo, assinada em 2014, foi dos passos mais importantes conseguidos até agora. Mas, que outros passos poderão ser dados?

Eva Michel, da Igreja Presbiteriana em Portugal, que colabora também com a Igreja Metodista, diz que “o grande objectivo que os cristãos devem ter é o de chegar a um momento em que possamos partilhar o Pão e o Vinho à mesa do Senhor, celebrar juntos a Eucaristia, porque esta separação é dolorosa, magoa muito”. “Pensemos por exemplo nos casais mistos, de confissões diferentes.”

Reconhece que não será fácil, mas prefere sublinhar o bom momento que se está a viver, e do qual a visita do Papa é já reflexo: “relembrar a história é muito importante. Relembrar o que nos separou, mas sobretudo relembrar aquilo que nos une. É a primeira vez que o dia da reforma está a celebrar-se em comum”. “É uma coisa nova, é um sinal do Espírito”, diz.

Sinais positivos que vê no seu próprio país natal, a Alemanha. “O presidente da conferência episcopal e o mais alto representante das igrejas protestantes fizeram juntos uma peregrinação a Jerusalém e à Galileia, lendo juntos a Bíblia e orando juntos durante uma semana. Dois homens tão ocupados na sua vida! Isto é um sinal, uma coisa nova que nos obriga a nós também, dentro do possível, contribuirmos e deixarmo-nos inspirar nesta caminhada.”

Para o representante católico na Equipa Ecuménica Jovem, esta visita do Papa à Suécia “pode aumentar a esperança de que a unidade não só é possível como é importante, mas é preciso ter paciência. A esperança e a paciência são duas armas fundamentais na construção do ecumenismo”.

O padre Tony Neves lembra que há mais coisas a unir do que a separar os cristãos e que em muitos locais do mundo se assiste a um “ecumenismo do martírio”: “Quando os cristãos são perseguidos e mortos não é por serem católicos, protestantes ou ortodoxos, é por serem cristãos, e aí estão unidos, não pela sua confissão cristã, mas por serem genericamente vistos pelos outros como cristãos”.

O sacerdote e missionário acredita que o caminho da unidade vai continuar a ser trilhado porque, como escreve o cardeal Walter Kasper no livro sobre Martinho Lutero, “a obra da unidade é sempre uma obra do Espírito, não pertence a nós estarmos a marcar datas e contextos. A unidade dos cristãos vai ser a unidade que Deus quer, e não a unidade que nós queremos”.

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