27 out, 2016 - 23:18 • Eunice Lourenço , em Havana
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fez um balanço muito positivo da visita a Cuba declarando feliz com as circunstâncias únicas que o país vive.
“Cuba vê agora uma oportunidade única, também nas relações com Portugal. Foi uma felicidade vir a Cuba e estar com Fidel – que era uma imagem que eu tinha do meu passado de adolescente; estar com o Presidente e com os governantes, que é ver a transição do passado para o presente pensando necessariamente no futuro; estar convosco, que são mais futuro do que presente e passado. Não estive com uma Cuba, estive com várias Cubas durante a mesma visita – e podia não ter sido assim”, disse.
Foi o discurso mais político desta visita de Estado a Cuba. Na Universidade de Havana, o Presidente falou de direito constitucional, das relações entre os dois países, mas também respondeu a perguntas dos alunos. Uma delas foi sobre o embargo dos Estados Unidos.
“Se eu fosse comentador político, mas não Presidente de Portugal, este seria um momento fascinante para comentar a situação política internacional. Como vai ser a política norte-americana? Como vai ser o relacionamento norte-americano no mundo? Como vai ser o futuro das posições da União Europeia? Mas como Presidente não posso fazer de comentador. Só posso desejar que no futuro as relações entre povos e Estados de que nós somos amigos sejam também amigas”, acrescentou.
Foram declarações de Marcelo Rebelo de Sousa em Havana, onde, contudo, deixou cair uma referência ao multipartidarismo português que tinha no discurso escrito. Na versão escrita, distribuída em castelhano aos estudantes, o Presidente português fazia o elogio do sistema democrático português nos seguintes termos: “Os diversos governos nacionais, eleitos democraticamente pelo povo e num sistema político baseado no multipartidarismo, têm confluído na certeza de que Portugal é global, mundial e intercultural ….”. Na versão dita, Marcelo saltou a parte “num sistema político baseado no multipartidarismo”.
A existência de um partido único e a, consequente, proibição de outros partidos é uma dos problemas apontados a Cuba. No último congresso do Partido comunista cubano, Raul Castro até brincou com o assunto, dizendo que se existissem dois partidos em Cuba ele lideraria um e o seu irmão Fidel o outro.
Roteiro paralelo
O discurso na Universidade de Havana foi dos últimos “números” da agenda do Presidente, como o próprio chama aos pontos do programa. Marcelo cumpriu um roteiro cultural, mas também tradicional em Havana e que teve vários momentos de agenda paralela, ou seja visitas não divulgadas à comunicação social.
Foi o caso da manhã de quinta-feira, aproveitada pelo Presidente para passear junto ao mar, ir falar com pescadores e até ser conduzido num tradicional carro antigo daqueles que fazem parte do imaginário de Cuba. Marcelo percorreu a marginal e Havana, o Malecon, num Chevrolet vermelho de 1951. Um início de manhã que o próprio contou aos jornalistas no fim da visita a outro local do imaginário cubano, a Fábrica de Charutos Cohiba.
A despedida de Havana foi com uma visita à Fábrica de Arte Cubana, uma das poucas iniciativas privadas de âmbito cultural e que se tornou num centro de dinamização da cidade. O Presidente foi visitar uma exposição de filigrana portuguesa que decorrer naquele local e, assim, também simbolicamente dar um sinal de apoio a um dos símbolos da nova Cuba, a Cuba do futuro, um das “Cubas” que o Presidente gostou de ver nesta visita de Estado de dois dias.