27 out, 2016 - 13:50
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A degradação dos serviços públicos existe, mas não há um “coro sindical” que a torne visível, afirma, em entrevista ao programa Carla Rocha – Manhã da Renascença, a presidente do CDS.
Assunção Cristas critica o Governo e receia que o Estado comece a comprar terras no âmbito da reforma florestal que se avizinha.
A candidata do CDS à presidência da Câmara de Lisboa critica também a simultaneidade de obras na capital, acusando Fernando Medina de não olhar para as pessoas. E deixa um desabafo: "Tenho pena é que os antigos presidentes do CDS, muitos deles, por uma razão ou por outra, se tenham de alguma forma afastado."
O Governo prepara-se para anunciar o que considera ser a “maior e mais profunda reforma florestal”. À Renascença, o ministro da Agricultura revelou que entre as medidas está a criação de um banco de terras. Como vê esta reforma, tendo em conta que, quando esteve no Governo, também mexeu neste sector?
Em primeiro lugar, gostava de perceber porque é que o Governo não usa o instrumento que já tem, que é a bolsa de terras, e que foi precisamente pensado para as pessoas que não têm condições, não têm vontade ou já estão demasiado idosas para poderem trabalhar as suas terras.
E a bolsa está a funcionar bem?
A bolsa está a funcionar, mas precisa de funcionar mais. Começou com terras do Estado, já há muitas terras privadas na bolsa mas sobretudo precisa de ser uma plataforma mais divulgada e com mais estímulos. Aquilo que tínhamos previsto é que as pessoas que colocassem os terrenos na bolsa de terras teriam isenção de IMI.
Não encontra então novidade na medida anunciada?
Não conheço em detalhe o novo banco de terras. Aquilo que pude ouvir do ministro é que tencionava também comprar terras. Se a ideia é o Estado começar a comprar terras, acho muito mal.
Como vê este facto de o PS rejeitar tornar permanente o corte no financiamento aos partidos?
É uma questão interna do Partido Socialista, que está com muitas dificuldades financeiras e com grande endividamento – certamente, terá a ver com as suas circunstâncias próprias. Aquilo que vos posso dizer é que obviamente o dinheiro é sempre pouco para a quantidade de acções que queremos levar a cabo. Porém, todos nós temos que nos habituar a trabalhar com menos e hoje também temos a possibilidade, nomeadamente através das redes sociais, de chegar a mais gente com menos recursos. Por isso, achamos que devemos participar nesse esforço que continua a ser pedido a todos os portugueses.
O Orçamento do Estado para 2017 começou agora a ser discutido. Qual é a pior medida da proposta do Governo?
Para mim, a pior é o facto de deixar de fora a actualização das pensões mínimas sociais e rurais acima da inflação. Não está previsto. As pensões mais baixas das mais baixas não vão ter o aumento dos ditos 10 euros, que não são 10 euros. Os 10 euros, na verdade, são 10 euros menos aquilo que a própria inflação já iria corrigir e, portanto, o poder de compra vai melhorar muito ligeiramente naqueles que são aumentados 10 euros. Apesar de tudo, há os outros que têm ainda pensões mais baixas que não são aumentados de todo.
E uma medida do OE 2017 a que tire o chapéu?
Uma medida à qual eu tire o chapéu? Acho isso tão difícil. Olho para o Orçamento e só vejo medidas erradas, não vejo medidas para apoiar o investimento, não vejo medidas concretas que nos permitam convencer as pessoas que somos um país que está com vontade de dar estabilidade fiscal e que aqui invistam e que aqui criem postos de trabalho e riqueza.
Certo é que o Governo tem conseguido devolver algum poder de compra aos portugueses. Aumentou os funcionários públicos, reduziu a sobretaxa de IRS, com défice aparentemente dentro das metas. Está surpreendida com a actuação do Governo?
Não estou surpreendida porque olho para as outras consequências. O que eu vejo, por exemplo, é uma dívida pública a aumentar muitíssimo; os pagamentos em atraso a crescerem por exemplo no sector da saúde; vejo os serviços públicos a degradarem-se e, portanto, o contraponto de algumas dessas medidas que referiu e que são de uma agenda muitas vezes da esquerda radical.
Por exemplo, as 35 horas ou a devolução mais rápida dos salários da Função Pública têm como contraponto uma consequência ou várias consequências que são muito negativas: nós hoje vemos notícias todos os dias sobre a degradação dos serviços públicos, as escolas que têm de fechar porque não têm um auxiliar, as cirurgias que não são feitas, as polícias que não têm como meter gasolina nos seus automóveis.
Mas já ouvíamos essas queixas no governo anterior...
Agora ouve mais e ouve pior. Não ouve é com o mesmo coro sindical.
É candidata à presidência da Câmara de Lisboa. A cidade está repleta de obras. Reconhece isto como um impulso à renovação?
Creio que foi o caminho que o actual presidente escolheu para mostrar trabalho. É o caminho dele. Na nossa perspectiva, mostra desrespeito para com os lisboetas porque fez tudo ao mesmo tempo em todo o lado, a cidade está intransitável. No final, certamente que umas terão ficado bem, outras se calhar nem sequer eram tão urgentes ou necessárias ou prioritárias, mas a mim o que me interessa é olhar para a frente.
O que eu vejo é um presidente da câmara pouco virado para as pessoas e para as questões concretas do dia-a-dia das pessoas, nomeadamente dos idosos. Lisboa é a cidade europeia mais envelhecida. Um presidente de câmara que olha para o betão, para as coisas bonitas, e nem sequer é no sítio onde normalmente muita gente vive.
Em entrevista à Renascença, Freitas do Amaral que o PSD nunca lhe perdoou ter ido para um governo liderado por José Sócrates, mas que já não sente crispação no CDS, que ele fundou. As pazes estão feitas?
Acho que estamos sempre de pazes feitas com toda a gente. As pessoas saem, são livres, têm o seu percurso, são criticadas ou não por ele. O partido está onde sempre esteve e naturalmente...
E já perdoou a Freitas do Amaral ter feito parte de um Governo de José Sócrates?
Nem sequer é uma questão de perdoar, eu não julgo os outros dessa maneira, politicamente não julgo os outros. Cada um tem o seu percurso, acho que terá tido as suas razões, as pessoas gostarão ou não gostarão. Eu tenho pena é que os antigos presidentes do CDS, muitos deles, por uma razão ou por outra, se tenham de alguma forma afastado.