26 out, 2016 - 21:07 • Eunice Lourenço , em Havana
Perto da porta ainda há uma “roda”, o local onde as famílias podiam pôr as crianças de que não podiam ou não queriam cuida. Mas à porta estão os abraços abertos e o sorriso da irmã Teresa Vaz, freira portuguesa da Congregação do Amor de Deus, que dirige a Guarderia Padre Usera, bem no centro de Havana, que recebeu esta quarta-feira a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em visita de Estado a Cuba.
Depois de uma visita pela parte central e histórica de Havana, guiada pelo historiador Eusébio Leal, e em que Marcelo pareceu como que recolhido, escutando muito e falando pouco, o Presidente soltou-se e soltou os seus afectos no infantário, onde beijou crianças, cantou com elas a Loja do Mestre André e até fez coro com as freiras e as educadoras a cantar Guantanamera.
A dirigir toda a obra está há década e meia a irmã Teresa que já conhecia Cuba por ter vindo à ilha como superiora geral desta congregação que regressou a Cuba em 1989. A congregação foi fundada pelo padre Jeronimo Usera, que dedicou boa parte da sua vida a Cuba e à valorização dos negros e das mulheres.
“Vim pela primeira vez em 1991 e, nessa altura, havia uma dignidade no povo, uma qualidade de vida que não correspondia às possibilidades económicas do país. Hoje mudou um bocadinho”, diz a irmã Teresa à Renascença, recusando, contudo, dizer se a mudança é para melhor. “A circunstância económica talvez, o resto não sei”, responde.
O “resto” conta com a ajuda desta instituição que, cada ano, recebe 50 crianças, saindo outras tantas. Mas nunca deixa de ter relação com elas e há mesmo um grupo de antigos alunos que há 11 anos se constituíram como Missionários da Alegria e da Esperança. “A missão deles é levar alegria, levar esperança aos que já não encontram um sentido para a vida”, afirma esta transmontana nascida em 1934, que faz questão de apresentar um desses jovens, “o mais antigo dos antigos alunos” ao Presidente Marcelo.
Um dos projectos, explicado pelo jovem de 21 anos, é constituir equipas de futebol. O Presidente logo pergunta se têm equipamento e ele responde que sim. Quanto aos treinos são à beira da catedral. “Isso é magnifico! Inspiração divina para o futebol”, exclama Marcelo, piscando o olho ao bispo auxiliar de Havana, que acompanhou toda a visita à Guarderia.
O Presidente ainda aproveitou alguns momentos da visita para falar a só com o bispo e esta quinta-feira tem um encontro com o cardeal Jaime Ortega, bispo emérito de Havana. Marcelo quis marcar, assim, o seu apreço pelo papel da Igreja na sociedade cubana.
Mas a atenção do Presidente foi, sobretudo, para a irmã Teresa, numa visita em que se reconheceu “um bocadinho emocionado” por ter vindo encontrar em Cuba “na outra ponta do mundo” uma congregação que conhece muito bem pelo trabalho de ensino em Portugal e à qual entregou uma parte da educação da sua filha Sofia.
“Conheço muito bem a congregação do Amor de Deus e o pensamento e a obra do padre Jeronimo Usera, que foi uma grande figura aqui em Cuba e que inspirou uma grande figura que é esta irmã Teresa Vaz e que com a sua juventude eterna representa Portugal na educação, chamaríamos nós pré-escolar, do povo irmão de Cuba”, afirmou o Presidente no fim da visita, em declarações aos jornalistas que acompanham esta sua visita de Estado.
Já antes, em conversa animada no refeitório, tinha vaticinado longa vida à irmã Teresa. “Os transmontando duram 120 anos, 140. São rochas”, disse o Presidente, frente a figura pequenina de Teresa Vaz, uma rocha no centro de Havana.