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Hillary recebe presentes de Trump no dia de aniversário

26 out, 2016 - 08:40 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque

Magnata inaugura hotel a 13 dias da eleição, na recta final de uma campanha em que não há estrelas a cooperar com ele.

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Hillary Clinton completa esta quarta-feira 69 anos e a melhor prenda que vai receber virá de… Donald Trump.

A 13 dias das eleições, o candidato republicano vai começar o dia com um evento fechado ao público e aberto apenas a convidados e à comunicação social. Nada mais, nada menos, do que a inauguração do seu novo hotel de luxo em Washington DC a poucos quarteirões da Casa Branca, cujas suites vão custar mais de dois mil dólares por noite.

Na terça-feira, Trump brincou com a inauguração do hotel – uma recuperação de um vetusto edifício onde durante muitos anos estiveram instalados os correios – dizendo que, de uma forma ou de outra, vai acabar na Avenida Pensilvânia. Uma piada que remete para o facto de a Casa Branca se situar também na Avenida Pensilvânia da capital federal.

Mas, na verdade, a avaliar por todas as sondagens, a única morada que Trump poderá ter na Avenida Pensilvânia de Washington será mesmo o seu hotel, porque a outra, do número 1600, onde se situa a Casa Branca, parece cada vez mais inalcançável.

E o que é surpreendente - e deixa muitos republicanos perplexos - é o facto de o magnata do imobiliário não parecer preocupado com a situação de enorme desvantagem que tem face a Clinton e a 13 dias das eleições prefira inaugurar um hotel a fazer campanha pura e dura junto do eleitorado.

Já na terça-feira, a acção mais notória da sua campanha foi numa estância turística de luxo, que lhe pertence, na Flórida, onde se reuniu com os seus empregados e os pôs a debitar elogios às suas alegadas qualidades de gestor e patrão.

Tentando tirar proveito de cerca de 80% deles serem latinos, o que na Flórida é comum, Trump criticou fortemente o sistema de saúde da administração Obama, conhecido como “Obamacare”, por causa do aumento de custos.

No mesmo dia foi anunciado que os seguros de saúde vão subir em 2017 cerca de 25% para alguns utentes, o que motivou as veementes críticas do candidato republicano, que deu os seus empregados como exemplo de vítimas do “Obamacare”.

No entanto, pouco depois um funcionário esclarecia que, no caso deles, não vão sofrer com os aumentos porque o seguro é pago pela empresa.

O anúncio do aumento dos prémios dos seguros de saúde veio em má altura para Hillary Clinton e permitiu a Trump reforçar os seus ataques ao “Obamacare” que tem classificado como um “desastre” e que promete substituir por um sistema “muito mais eficaz e mais barato”, mas cujos detalhes nunca especificou.

Contudo, os aumentos anunciados pelas companhias de seguros variam muito em percentagem e não atingem sequer a esmagadora maioria dos utentes. Nuns casos justamente porque o seguro é pago pelas respectivas empresas, noutros porque os utentes são subsidiados para fazer face à despesa com o seguro.

Canal de televisão?

Independentemente de o criticismo ao “Obamacare” se justificar, o facto de Donald Trump em dois dias desta recta final da campanha promover eventos ligados aos seus negócios privados acentua a suspeita entre os observadores – incluindo muitos republicanos – de que o multimilionário, no íntimo, já assumiu que a eleição está perdida e estará a pensar no seu futuro como empresário pós-candidato presidencial.

A mediatização de que dispõe agora é algo que, obviamente, desaparecerá nos dias seguintes à eleição perante a mais que previsível derrota. E Trump estará a aproveitar a gigantesca exposição mediática de hoje para insistir sobretudo na imagem de empresário de sucesso que lhe granjeou milhões de votos nas primárias e que lhe garante muito apoio ainda junto de inúmeros sectores do eleitorado.

Os observadores políticos especulam que o objectivo do magnata será agora criar condições para lançar um projecto televisivo no pós-eleições, que corresponda aos anseios do movimento político por ele lançado – um canal ou uma cadeia televisiva que concorra com a Fox News no campo conservador e mantenha a pressão sobre o Partido Republicano, exprimindo os pontos de vista populistas que o “trumpismo” trouxe para estas eleições.

Embora o próprio Trump tenha desmentido tal intenção, dois factores contribuem para esta convicção entre os observadores. Um deles é a obsessão do candidato com a forma como os media “mainstream” têm coberto a sua campanha, acusando-os de conspirarem permanentemente contra si e fazerem parte do sistema “viciado” de Washington que quer eleger Hillary Clinton.

O outro é o facto de ter contratado para seu conselheiro mediático Roger Ailes, que foi até Julho passado o todo-poderoso presidente da Fox News, donde foi despedido na sequência de várias acusações de assédio sexual a jornalistas e outras vedetas da casa.

Ailes, que esteve 20 anos na Fox News e é considerado o verdadeiro “pai” do projecto e responsável pelo seu sucesso comercial e de audiências, foi um dos fundadores do canal em 1996 e a sua experiência neste tipo de negócio dificilmente será igualável.

E, à luz do que se tem ouvido de e sobre Trump, as acusações de assédio sexual não serão seguramente factor inibidor para o seu putativo novo patrão o contratar.

Daí que o multimilionário possa estar a criar as condições, em plena campanha eleitoral, para garantir um poderoso meio de manter activo e coeso o movimento político criado em torno da sua candidatura e que representa, em certo sentido, uma revolta das bases do Partido Republicano contra as suas elites mais “mainstream”.

Uma campanha sem vedetas

Entretanto, quem sofre é a própria campanha, que vai dando sinais de desorientação e de falta de fundos financeiros. E que, além disso, tem um problema incontornável – a falta de vedetas nacionais com impacto que possam distribuir-se pelo país a promover o candidato.

A Trump restam muito poucos apoiantes com verdadeira projecção nacional que corram o país autonomamente a angariar votos. Além do candidato a vice-presidente, Mike Pence, que se tornou conhecido nacionalmente desde que integrou o “ticket” à Casa Branca no Verão passado, só o ex-mayor de Nova Iorque, Rudy Giuliani, o governador de New Jersey, Chris Christie, e o antigo speaker da Câmara de Representantes, Newt Gingrich, podem considerar-se figuras com impacto nacional.

Mas, à excepção de Pence, nenhum dos outros anda em campanha pelo país a angariar votos. Limitam-se a aparições televisivas nem sempre lisonjeiras para Trump, como no caso de Gingrich.

Nenhum dos anteriores Presidentes republicanos (Bush pai e filho), nenhum dos anteriores candidatos republicanos a presidente (McCain e Romney), nenhum dos candidatos republicanos nas primárias (e eram 16) tem feito campanha por Trump.

Entre os 16, a única excepção é Ben Carson, mas talvez até conviesse mais a Trump que estivesse calado, de tal modo desastradas têm sido as suas intervenções.

Compare-se agora este panorama com o do Partido Democrático. Hillary tem consigo a fazer campanha o Presidente Obama, a sua mulher Michelle (cujos índices de popularidade são muito altos), o vice-presidente Joe Biden, o ex-presidente Bill Clinton, a filha Chelsea, o candidato a vice-presidente Tim Kaine, o senador Bernie Sanders, a senadora Elizabeth Warren e vários outros senadores e governadores destacados do partido.

Pelo menos oito figuras de primeiro plano quase todos os dias têm actividades de campanha, geralmente comícios, nos mais diversos pontos do país e as suas deslocações obedecem à estratégia eleitoral traçada pela campanha.

Enquanto a própria Hillary se tem concentrado nos estados mais em disputa (os chamados “swing states”), as outras vedetas nacionais acorrem a estados que habitualmente votam republicano mas onde as hipóteses de vencer começam a sorrir nas sondagens.

É o que pode suceder no Arizona, no Utah ou até no Texas, onde os números autorizam os democratas a sonhar com tal possibilidade.

No caso do Utah, reina já a preocupação nas hostes de Trump, que decidiu enviar o seu vice, Mike Pence, fazer lá campanha esta quarta-feira. Num estado que tem sido o mais republicano da União, em circunstâncias normais seria impensável o partido perder tempo no Utah quando tem outras batalhas bem mais importantes a travar. E o mesmo se diga do Arizona, onde as últimas sondagens colocam Hillary à frente por margem ligeira.

Em suma, tudo isto são boas prendas de aniversário para a candidata democrática no dia em que completa 69 anos. Mas o verdadeiro presente, aquele por que ela tem lutado quase toda a vida, só deverá chegar dentro de 13 dias. Até lá, Donald Trump vai-se encarregando de a presentear dia a dia. Hillary talvez lhe agradeça na noite de 8 de Novembro.

Comentários
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  • António Pais
    26 out, 2016 Lisboa 11:45
    Esta reportagem foi copiada da CNN? A única morada vai ser o hotel, em crer nas sondagens? Que sondagens se referem?? Aquelas que dão ao Trump vitória de 1% sobre a Clinton não devem ser... enfim... mais do mesmo.
  • Miguel
    26 out, 2016 Paneira 11:40
    Este jornalismo " communista" e duma mentira nojenta, duma falsidade do tamanho do mundo Espero que haja suicídios pois não vão conseguir explicar a vitória do trump

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