24 out, 2016 - 18:24 • João Carlos Malta
Há momentos assim, em que pára tudo. As pessoas abrem a boca e depois clicam fervorosamente a partilhar na internet o novo vídeo viral. As conferências de imprensa de futebol não fogem à regra. Neste fim-de-semana, um novo capítulo: os desenhos do treinador do FC Porto, Nuno Espírito Santo, fizeram as delícias dos internautas.
Um microfone, uma caneta, duas folhas de papel, um jogador de três pernas, quase uma dezena de conceitos que todos somados dão um número: 65 metros, o espaço em que Nuno quer a equipa a jogar. Os condimentos estavam lá todos. O inusitado, a figura conhecida e o futebol, esse tema tão apetecido.
Toni, ex-treinador do Benfica, também já viveu um momento semelhante (pelo menos na viralidade na internet). Foi em 2012, no Irão, no início da caminhada no Tractor. Uma pergunta de um jornalista, sobre se o lateral esquerdo Esam (segundo o repórter tinha sido responsável pela derrota do clube iraniano no jogo anterior) ia jogar, fez Toni explodir.
Na conversa com a Renascença, o agora comentador desportivo começa por separar as águas entre o que lhe aconteceu e o que agora fez Nuno Espírito Santo.
— Banho de emerson (@banhodemerson) 23 de outubro de 2016
“Estamos a falar de coisas diferentes. Eu vivi uma experiência no Irão com o Tractor fruto até de razões culturais e de a língua ser diferente”, explica Toni.
Para o treinador com várias passagens no futebol asiático (China, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irão), Nuno "rompeu com o que é normal numa conferência de imprensa, daí este bruá que passa pelas pessoas”.
Como a pergunta não parava de se repetir, na óptica de Toni, Nuno aproveitou duas vitórias importantes (Brugge para a Liga dos Campeões e Arouca para a Liga Portuguesa) para fazer um desenho aos jornalistas e aos adeptos para que todos percebessem o que é um jogador à Porto.
“Acabou por tentar explicar não no plano táctico, mas com razões de ordem comportamental”, diz Toni, que afirma que aquelas são palavras e conceitos que qualquer treinador tenta aplicar a uma equipa que esteja a comandar.
"Não me lembrei que estávamos no século XXI"
Toni diz que há um poder “branqueador” destes momentos. Actualmente, são mais os que lhe perguntam e falam das “conferências de imprensa do Irão” do que os que se lembram que ele ganhou a Taça do Irão e esteve a dez minutos de se sagrar campeão.
“O que conseguiste do ponto de vista desportivo passa para um plano secundário porque o que fica são as conferências de imprensa no Irão, que foi o que passou para a internet. Os resultados parece que ninguém vê”, enfatiza.
Há quatro anos, a conferência de imprensa de Toni no Irão tornou-se viral
Toni arrepende-se da linguagem que usou. Vernáculo puro e duro. Não o faria se soubesse que teria o impacto que teve, apesar de o considerar um “momento genuíno”. Não lhe passou pela cabeça que saísse daquelas quatro paredes.
Como assim, achou que não havia câmaras na sala de imprensa? “Não, eu sabia que estavam lá, mas, por momentos, não pensei que estivéssemos no século XXI. Se fosse há 20 anos ficava lá e não se via”, explica Toni.
E depois há o contexto. O treinador que esteve no Benfica na década de 1980 e 1990 alerta para as particularidades de um campo que podia estar minado. “És um treinador estrangeiro e há treinadores de Tabriz que tinham amigos jornalistas e queriam-me fazer a folha”, remata.