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Estado Islâmico perde a "aldeia do apocalipse"

17 out, 2016 - 14:38 • Filipe d'Avillez

Estrategicamente Dabiq é quase insignificante, mas a aldeia iraquiana tem um significado enorme para a mitologia e a narrativa jihadistas.

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Durante o fim-de-semana um grupo rebelde apoiado pela Turquia conseguiu expulsar os militantes do autoproclamado Estado Islâmico de uma pequena aldeia no Norte da Síria.

Olhando para um mapa da região, Dabiq não tem uma importância muito significativa, mas a sua perda representa, de facto, uma enorme derrota para o Estado Islâmico, sobretudo em termos propagandísticos.

Segundo a mitologia islâmica, é em Dabiq que se dará uma batalha crucial no final dos tempos, entre os muçulmanos e os representantes do mundo cristão, do qual a força islâmica sairá vitoriosa. A crença tem origem num “hadith” – nome dado às sentenças atribuídas a Maomé e que foram passadas por via oral antes de serem registadas pelos seus seguidores – em que Maomé afirma que a derradeira hora não chegará sem que as forças muçulmanas derrotem as de Roma em Dabiq. Os jihadistas referem-se frequentemente a Roma de forma genérica, como representativa de todo o Ocidente e do mundo de influência cristã.

Quando o Estado Islâmico chegou à Síria, já durante a guerra civil, apressou-se a ocupar Dabiq e vários dos seus filmes de propaganda foram filmados no local, com militantes a desafiar as forças ocidentais a virem combatê-los por terra, aludindo à profecia.

"Dabiq" é também o nome da revista "online" produzida pelo grupo, usada sobretudo para dar a conhecer a sua ideologia e as suas vitórias militares, bem como recrutar militantes.

A conquista de Dabiq por rebeldes sírios, com o apoio de forças turcas, permite, por isso, virar a narrativa contra o Estado Islâmico. Já existem vídeos de grupos rebeldes, dirigidos ao Estado Islâmico, em que estes declaram que a sua fuga de Dabiq revela que eles não são “o povo de que falava o Profeta. São criminosos. São os cães do inferno”, como se ouve numa das gravações, feitas nos arredores da cidade.

Segundo testemunhas, os militantes do Estado Islâmico na aldeia não ofereceram grande resistência aos rebeldes que os atacaram, tendo fugido rumo a Raqa quando se tornou notório que não conseguiriam fazer frente ao assalto.

A Turquia, no entanto, pode contar a ocupação de Dabiq como uma importante vitória. O afastamento de militantes do Estado Islâmico não só permite assegurar o território sírio junto à sua própria fronteira, o que Ancara considera ser importante para se salvaguardar de ataques terroristas dentro do seu país, como fortalece a imagem de Erdogan como líder de uma importante nação muçulmana que está apostada em estabelecer-se como um jogador de peso no Médio Oriente, sobretudo numa altura em que parece cada vez menos provável uma integração na União Europeia.

A derrota estratégica pode ainda desmoralizar os militantes do Estado Islâmico, muitos dos quais dependem precisamente de uma crença cega na mitologia do grupo, numa altura crucial para aquela força jihadista, que se prepara para defender Mossul de uma invasão terrestre por parte de forças iraquianas, com o apoio dos Estados Unidos.

Comentários
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  • Mafurra
    17 out, 2016 Lisboa 17:07
    Atrasados mentais que ainda vivem no século XV...

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