25 set, 2016 - 00:14 • José Bastos
Na Galiza e no País Basco, as mesas de voto abertas este domingo não escolhem apenas o nome dos próximos presidente da Xunta e o Lehendakari (designação do líder do governo da autonomia basca). Ninguém coloca em dúvida que os resultados das duas eleições autonómicas irão condicionar o rumo a seguir pelas principais forças políticas para desfazer, em Madrid, o bloqueio institucional em que se encontra o processo de constituição de Governo.
Nesta complexa equação, os números das eleições galegas serão previsivelmente mais determinantes que os das eleições bascas.
No País Basco, o independentismo perde força. Desde o período da transição do franquismo para a democracia que a pulsão soberanista não era tão débil. O Partido Nacionalista Basco (PNV, de centro) reage ao desmoronar sociológico do independentismo colocando a questão na gaveta. Apenas 20% dos bascos são atraídos por uma hipotética ruptura com Espanha num estudo do Euskobarómetro. Até o eleitorado da esquerda diz-se mais preocupado com o emprego e crescimento económico que com o desafio da independência.
Nas eleições deste domingo, Iñigo Urkullo, candidato do PNV define-se como “um nacionalista do seculo XXI” e, apesar dos números das sondagens o darem à frente, reconhece estar disposto a pactos com “os partidos espanholistas ”PP e PSOE “mas com condições”. “No País Basco nunca houve maiorias absolutas, sempre foi preciso chegar a acordo”, sentencia Iñigo Urkullo.
Quadro distinto é o da Galiza, onde apenas se debate a dimensão da maioria absoluta antecipada pelas sondagens ao PP do galego Mariano Rajoy. “O resultado das eleições da Galiza pode ajudar Espanha. Se os cidadãos galegos escolhem o presidente da Xunt, e optam pela estabilidade, isso pode contrastar com a paralisia política que se sofre em Madrid”, diz Alberto Núñez Feijóo o candidato à presidência do governo regional em Santiago de Compostela.
Em entrevista à Renascença, o escritor e jornalista galego Anxél Vence Lois sustenta que “a influência dos resultados eleitorais da Galiza será determinante” no actual impasse político espanhol.
Anxél Vence defende que “Rajoy irá sair reforçado” para a eventualidade de terceiras eleições gerais em apenas ano. Já o líder socialista Pedro Sànchez joga a sua sobrevivência política. “Se o PSOE for ultrapassado à esquerda pelo En Marea, poderá ter de se afastar”, admite Anxél Vence.
De que forma as eleições deste domingo na Galiza e País Basco podem influir no desbloquear do impasse institucional em que se encontra a Espanha? A Galiza vai ser mais determinante que o País Basco se o PSOE perder a segunda posição?
A influência da Galiza vai ser determinante. Todas as sondagens de opinião feitas anunciam uma maioria absoluta do PP, liderado na Galiza por Alberto Núñes Feijóo. As consultas também antecipam que a EN MAREA – a coligação nacionalista com a esquerda – vai ultrapassar o Partido Socialista, o PSOE. Se estes dados se confirmarem a influência sobre o cenário político nacional será, insisto, determinante, porque o mais provável é que os resultados reforcem Mariano Rajoy – há oito meses o primeiro-ministro interino – e lhe permitam encarar numa posição de força as terceiras eleições. Terceiras eleições que, na minha opinião, serão inevitáveis, qualquer que seja o cenário deste domingo na Galiza e País Basco.
Por outro lado, uma maioria esmagadora do PP na Galiza levaria a que o líder socialista Pedro Sánchez perdesse todas as possibilidades de formar um governo de coligação – de resto, altamente improvável – entre o PSOE, as forças de extrema-esquerda e os nacionalistas. Outra consequência bastante provável de uma derrota pesada do PSOE, este domingo na Galiza, é que Pedro Sánchez tenha de se demitir.
Rajoy mais forte e Sánchez mais débil serão as duas consequências mais prováveis destas eleições autonómicas.
As eleições galegas terão então maior influência em Madrid que as bascas?
Sim. Em princípio face às sondagens serão as galegas. Porque se a maioria do PP acabar por ser tão contundente e ampla como prenunciam todas as sondagens a Galiza será muito mais determinante que o caso do País Basco. Ainda assim os resultados eleitorais do País Basco vão ser também muito escrutinados na medida em que o Partido Nacionalista Basco (PNV) vai precisar de apoios para governar. Apoios que o PNV (conservador) pode obter indistintamente do PP de Rajoy ou do PSOE. Mas no caso de uma vitória esmagadora da direita na Galiza – como é provável – esse processo de intercâmbio de apoios Vitória ficaria anulado. Ou seja, ficaria afastada a possibilidade do PSOE apoiar o PNV no Parlamento de Vitória em troca do suporte do PNV a uma solução governativa liderada pelo PSOE em Madrid.
Nas últimas horas, Pedro Sànchez criticou Albert Rivera (Cidadãos) e Pablo Iglésias (Podemos) por não articularem uma maioria alternativa. Já Rajoy disse que uma solução sem o PP seria “um governo de um quarto de hora”. É inviável uma saída “à portuguesa”?
A verdade é que é uma solução praticamente inviável se bem que seja possível do plano da aritmética, mas inexecutável do ponto de vista político. Rajoy define como “um governo de um quarto de hora”, mas o próprio Alfredo Perez Rubalcaba, anterior líder do PSOE, descrevia-o como “um governo Frankenstein”. Será uma solução altamente improvável, mas, atenção, ainda que Sánchez diga que vai tentar explorar uma situação desse tipo.
Rajoy disse que seria um governo de extremistas para desmembrar Espanha. É uma referência tácita à Catalunha...
A linha vermelha que, até agora, não se podia transpor era a do referendo independentista na Catalunha. O que acontece agora é que Pedro Sánchez, o líder do PSOE, espera conseguir que durante alguns meses os nacionalistas da Catalunha abandonem a exigência da realização do referendo independentista e assim poder obter o seu apoio nas Cortes em Madrid. Em qualquer dos casos não creio que esteja em perigo a unidade de Espanha, nem que a Espanha se vá dissolver. A Espanha é bastante mais séria e bastante mais sólida do que todas estas brincadeiras de políticos.
Com a sobrevivência política em jogo Sànchez quer antecipar o Congresso do PSOE. As eleições galegas vão ser o canto do cisne do líder do PSOE?
Responder à questão requer dotes de adivinho. O mais aproximado a esse papel de adivinho é desempenhado pelas empresas de sondagens e, em boa verdade, nos últimos anos, as consultas de opinião não tiveram uma correspondência lá muito rigorosa nas urnas, sobretudo nas últimas eleições gerais em Junho passado. Mas, em qualquer dos casos, o futuro de Pedro Sànchez é bastante ‘negro’ como se diz em português. O futuro de Sànchez apresenta uma má cor. Sànchez está num beco sem saída. Está num “cul-de-sac”. Atenção: este dado também torna Sànchez numa figura política perigosa na medida em que - como nada tem a perder - poderá tentar qualquer saída.
Terceiras eleições são então o cenário mais provável?
Tal como as coisas estão as terceiras eleições são o desenlace lógico para esta situação de bloqueio absoluto. Estamos num beco sem saída em que nem a direita pode governar – precisava, pelo menos, da abstenção do PSOE – nem a esquerda está em condições de formar “um governo Frankenstein” que duraria “um quarto de hora”.