Santana Lopes está “farto de Portugal ser cobaia na Europa”

Pedro Santana Lopes chama-lhe o “cobaísmo”. Uma estratégia em que há uma “cobaia” chamada Portugal num “laboratório” na zona euro de onde não saem respostas para a crise de crescimento económico. O antigo primeiro-ministro não concebe como Portugal não tem a mesma tolerância de outros estados-membros da União Europeia.

“França está a autorizada a passar o limite do défice. E nós temos sanções porquê? Pela iminência de não cumprirmos o objectivos, entre eles o do défice. E lá vamos nós como cobaias para o Parlamento Europeu. Estou farto de Portugal ser cobaia”, desabafa o antigo primeiro-ministro no programa “Fora da Caixa” da Renascença.

Santana diz que Portugal paga caro por esta estratégia europeia. “Portugal está sempre debaixo dos radares. Isto é grave do ponto de vista reputacional, do rating e tem reflexos na evolução da nossa economia, na condição de vida das pessoas. Tem consequências na possibilidades orçamentais, leva a mais impostos e a menos possibilidade de investimento”, elenca o comentador social-democrata.

Para António Vitorino a pressão externa não é má por princípio. “É sempre bom que exista alguém que alerta para riscos”, observa o antigo comissário. “Mas também é verdade que se fizermos a estatística – com este e com o anterior Governo – das vezes em que vieram previsões catastróficas que nunca foram confirmadas, erraram mais vezes do que acertaram”, contrapõe o comentador socialista.

Os números em dúvida

Pedro Santana Lopes assinala a grande divergência entre o Governo e a oposição sobre o rumo orçamental de 2016.

“Há lideres de oposição que continuam a garantir que não acreditam de todo que o défice de 3% seja respeitado”, constata o antigo líder do PSD, por contraste com a forma “absolutamente tranquila” com que António Costa vai garantindo que o défice abaixo de 2,5%. “Sendo os números verdadeiros ou não, a tranquilidade que o Governo português transmite é incontestável”.

O antigo primeiro-ministro continua a desconfiar do peso da capitalização da Caixa Geral de Depósitos no défice das contas públicas. “Faço notar que quando se falou do acordo da Caixa e garantiam que não contaria para o défice eu torci o nariz e disse ‘vamos ver, já vi muita coisa’”.

Santana diz que se os números do primeiro-Ministro estiverem certos, a frente externa poderá não ser muito difícil. Ainda assim, complementa Santana, “de alguma maneira sente-se que o cerco externo está um bocadinho mais intenso neste momento”.

O Orçamento de 2017 continuará a ser um marco na governação de António Costa. “Não são loas ou censuras antecipadas. Mas se o primeiro-Ministro e o Governo ultrapassarem esta hora da verdade da negociação em Bruxelas do Orçamento de Estado para 2017, sai-lhes um enorme peso de cima. Será, não direi uma proeza, mas o salto de um grande obstáculo”, remata Santana Lopes.