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​Nem mulher nem de Leste. Vence Guterres

09 set, 2016 - 19:04 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque

Quatro votações, quatro vitórias claras na ONU para o antigo primeiro-ministro. Mas as votações decisivas só chegarão em Outubro.

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António Guterres voltou a ficar em primeiro lugar em mais uma votação para escolher o novo secretário-geral das Nações Unidas, que decorreu esta sexta-feira em Nova Iorque.

Guterres obteve 12 votos positivos (“encorajamento”, na linguagem da ONU), dois negativos (“desencorajamento”) e uma abstenção (“sem opinião”), regressando aos 12 votos a favor da primeira votação, que tinham baixado para 11 nas duas seguintes.

Ou seja, para além de continuar a liderar a corrida, Guterres mantém uma estabilidade notável nos quatro escrutínios realizados até agora. E em cada um deles aquele que parecia ser o seu principal rival foi mudando.

Agora quem surge em segundo lugar é o ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia. Miroslav Lajcak tinha subido a segundo na terceira votação, feita no dia 29 de Agosto, e consolidou essa posição neste escrutínio, obtendo 10 votos positivos, quatro negativos e uma abstenção.

Em terceiro e quarto lugar surgem dois candidatos dos Balcãs. O sérvio Vuk Jeremic com nove positivos, quatro negativos e duas abstenções, e o macedónio Srgjan Kerim, com oito positivos, sete negativos e zero abstenções. Só em quinto lugar surge a primeira mulher, a búlgara Irina Bokova, directora-geral da UNESCO, que manteve a votação anterior (7-5-3), mas que se viu ultrapassada pelos dois candidatos balcânicos.

Numa disputa em que tem havido pressões para que seja eleita uma mulher para o cargo – incluindo a preferência manifestada publicamente pelo actual secretário-geral Ban Ki-moon, além de uma moção assinada por 52 países a reclamar o mesmo – é curioso verificar que nos quatro primeiros lugares estão homens e nos quatro últimos estão mulheres. A única mulher que tem mantido alguma constância no número de votos obtidos é Irina Bokova, mas que mesmo assim nunca ultrapassou a terceira posição.

O Conselho de Segurança não parece ter ficado sensibilizado pela questão do género. Ou então os seus membros entendem que nenhuma das mulheres tem qualificações superiores às dos homens nesta corrida.

O escrutínio desta sexta-feira é o último antes da 71ª sessão da Assembleia Geral que começa na próxima semana. Como habitualmente em Setembro, chefes de Estado e de Governo de quase todos os países do Mundo vêm a Nova Iorque para abrir o ano político, uma tradição que e o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro António Costa cumprirão pela primeira vez este ano.

Durante os dias em que permanecerão em Nova Iorque, a actividade diplomática é geralmente frenética e parece inevitável que a sucessão de Ban Ki-moon seja abordada nos inúmeros contactos bilaterais entre os líderes mundiais. Se tais contactos alterarão ou não a opinião de alguns dos 15 países que compõem actualmente o Conselho de Segurança é algo que será avaliado na próxima votação já marcada para o dia 26, justamente o dia em que termina a 71ª Assembleia Geral.

Esse é um indicador que traz uma maior expectativa à “straw poll” (votação) do dia 26. O que não significa que seja decisiva. Segundo observadores experientes das Nações Unidas, as “straw polls” decisivas serão em Outubro, altura em que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França) usarão boletins de voto de cor diferente dos restantes dez membros não-permanentes.

Nessa altura, ficaremos então a saber se alguma das potências com direito de veto tem alguma objecção de fundo à candidatura de Guterres. Até agora desconhece-se a proveniência dos poucos votos “desencorajadores” que Guterres tem tido, mas isso mudará em Outubro, o mês em que o Conselho de Segurança quer arrumar a questão e apurar um nome para recomendar à Assembleia Geral.

Até lá, continua a aguardar-se que os candidatos menos votados desistam da corrida, algo que só dois fizeram até esta quarta votação. Geralmente, quando um candidato tem sistematicamente poucos votos, surgem pressões diplomáticas para que abandone, até para evitar humilhações. Mas a verdade é que até agora isso não tem sucedido e há um conjunto deles que nunca chegaram sequer aos primeiros cinco lugares.

António Guterres, esse, mantém-se no topo da corrida desde o início e isso constitui só por si a melhor garantia de que o cargo de secretário-geral está ao seu alcance. Mais dele do que de qualquer outro neste momento.

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