09 set, 2016 - 15:56 • José Pedro Frazão
O desacordo continua. Os espanhóis continuam a viver um impasse político, depois de Mariano Rajoy ter falhado a investidura no cargo de primeiro-ministro, na sequência das eleições de Junho que deram a vitória sem maioria absoluta ao Partido Popular.
E porquê? “A questão das personalidades – Pedro Sanchez, no PSOE, e Rajoy, no PP - é muito importante neste contexto. Talvez seja até excessivamente importante. O bloqueio resulta não apenas da falta de vontade política de encontrar uma solução, mas também da dificuldade que os interlocutores têm para se conseguirem entender”, analisa o antigo comissário europeu António Vitorino no programa “ Fora da Caixa” da Renascença.
O militante do PS considera que o Partido Popular (PP) podia ter ficado mais próximo ainda da maioria absoluta no Parlamento de Madrid, nomeadamente na negociação com o Partido Nacionalista Basco.
“Também acho que o PP não terá feito tudo. As partes do debate que vi, encontrei o PP muito morno, descrente e em baixo. Não sei se têm grandes esperanças numas terceiras eleições que lhes possam dar maioria absoluta”, complementa o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes.
As “lamentáveis” terceiras eleições
Emerge a possibilidade de umas terceiras eleições legislativas em Espanha. “É tão lamentável o cenário de terceiras eleições que me custa pensar nisso”, diz Santana Lopes.
“Não sei como é que os espanhóis resistem. Ponham-se no lugar deles: três campanhas eleitorais seguidas para o mesmo projecto? Santa Maria Madalena, é de fugir!”
Resta saber, remata o antigo primeiro-ministro, se os espanhóis vão votar no mesmo quadro político ou se alteram a sua posição de forma considerável.
Confusão em Londres
A semana fica também marcada pela primeira intervenção parlamentar do ministro britânico para o “Brexit”. David Davis esclareceu que Londres vai procurar o melhor acordo possível, incluindo uma negociação sector a sector em matéria comercial e aduaneira.
“Não estou convencido que os britânicos queiram acesso ao mercado interno”, diz António Vitorino.
“Há interesse dos britânicos em ter acesso ao mercado interno em alguns sectores mas não em outros”, complementa o antigo comissário europeu que tomou nota da intenção britânica de ter uma pauta aduaneira própria, “distinta da pauta aduaneira comum que é pressuposto do funcionamento do mercado interno”.
Para Pedro Santana Lopes, reina a confusão em Londres. “Tudo aquilo é uma desorientação absolutamente impressionante. Também aqui causa estranheza a falta de solidez com que um processo dessa dimensão é tratado e apresentado. O artigo 50 do Tratado de Lisboa continua para [ser accionado] um dia e na prática o ‘Brexit’ não se consuma”, conclui Santana Lopes.