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"Operações encobertas". Ex-assessor de Cavaco acusa Sócrates de vigiar Belém

31 ago, 2016 - 21:24

Homem de confiança do antigo Presidente, Fernando Lima conta que “situações estranhas" só pararam com a queda do Governo de José Sócrates.

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A Presidência da República foi alvo de “vigilância” e “operações encobertas” que só pararam com a queda do Governo de José Sócrates, acusa Fernando Lima, o ex-assessor de Cavaco Silva em Belém.

Sete anos depois do polémico “caso das escutas”, que rebentou em Setembro de 2009, Fernando Lima decidiu escrever o livro "Na sombra da Presidência - Relato de 10 anos em Belém" (Porto Editora), a contar a sua versão de um dos períodos mais atribulados dos mandatos de Cavaco Silva.

Num depoimento divulgado à comunicação social pela editora, Fernando Lima começa por esclarecer que nunca falou de escutas, “mas sim de vigilância” a Belém e sublinha que a queixa era partilhada por “outras entidades”.

O ex-responsável pelo gabinete de comunicação de Cavaco Silva conta que lhe aconteceram “situações que ultrapassaram” sua “própria imaginação”. Mesmo depois de deixar a assessoria continuou “a ser alvo” de quem o “seguia”, garante.

E quem estaria por detrás destas operações? Fernando Lima considera que “só um poder bem organizado é que teria capacidade para fazer o que motivava tantas queixas”.

O tempo ajudou o ex-director do DN e ex-jornalista do JN dissipar “o mistério” e a “confirmar as desconfianças”.

“Situações estranhas, que descrevo no livro, foram-me acontecendo sem que encontrasse uma razão plausível. Só pararam quando o Governo de José Sócrates foi substituído”, declara o antigo homem de confiança de Cavaco Silva.

Com a queda de Sócrates, sublinha, “deixaram-se inclusivamente de ouvir as queixas daqueles que suspeitavam também de serem vigiados”.

Neste depoimento, Fernando Lima explica que no livro “Na Sombra da Presidência” está a “sequência dos factos de um processo político que pretendia, naquela altura, desqualificar a Presidência da República e o seu titular”.

“A Presidência era o único poder que não se deixara submeter à lógica de quem governava em 2009, pelo que era necessário desgastá-la para que, perante os portugueses, fosse perdendo prestígio e autoridade. Surgiram situações da vida pessoal do Presidente, como o BPN e a casa no Algarve, que o marcaram para sempre”, argumenta.

O “caso das escutas” deixou marcas profundas na relação entre o assessor e o Presidente. “A minha relação com Cavaco Silva ficou afectada”, conta Fernando Lima.

“Ainda hoje, não compreendo que tenha tido comigo comportamentos que considero inexplicáveis, depois de termos convivido ininterruptamente, desde que comecei a trabalhar com ele em 1986. Confesso que não o esperava”, lamenta.

Lima foi afastado da assessoria de comunicação, mas continuou em Belém, na Casa Civil da Presidência.

O antigo assessor diz que respeitou, “até ao fim” o convite para prosseguir na equipa de Cavaco Silva durante o segundo mandado, mas agora “é tempo de usar o direito à defesa” e decidiu escrever um livro a contar a sua versão dos factos.

O "caso das escutas" começou em Agosto de 2009, quando o jornal “Público” fez manchete com suspeitas da Presidência da República de estar a ser "vigiada" pelo Governo.

No mês seguinte, o “Diário de Notícias” revelou que quem "encomendou" a notícia foi Fernando Lima, que depois deixou a assessoria da comunicação social e passou para a Casa Civil da Presidência.

O livro "Na sombra da Presidência - Relato de 10 anos em Belém" chega às bancas a 8 de Setembro.

Comentários
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    03 set, 2016 Lx 12:22
    Claro que este senhor é uma pessoa idónea e nem sequer pensou em tirar vantagem da situação e a Editora muito menos, aliás esta editora é conhecida pela sua veia filantrópica... o facto de ser jornalista também abona a seu favor. Tudo boa gente...
  • lv
    02 set, 2016 Loures 15:20
    Nunca uma notícia esteve tão bem actualizada!
  • fanã
    01 set, 2016 aveiro 17:44
    Perfeito exemplo de Narcisismo agudo !
  • lv
    01 set, 2016 Loures 15:30
    Coisa muito bem engendrada entre o Jornaleiro prestador de vassalagem e o seu amo Bolo Rei de Boliqueme. Não fosse a denuncia de um jornalista e seria o golpe perfeito em que a tralha cavaca se especializou!
  • graciano
    01 set, 2016 alemanha 11:44
    pois pois cavaco nao deixou saudades e natural ele nao andou por ai de terra em terra a fazer politica nem a destribuir beijinhos
  • paulo
    01 set, 2016 vfx 09:30
    De todos ao presidentes que Portugal teve,Cavaco foi sem sombra de dúvida o que deixou menos saudades.
  • Porconta
    01 set, 2016 Porto 01:50
    Basta ver a forma como se exprime em relação ao assunto das acções do BPN para perder toda a credibilidade, pois dá a entender que o negócio feito pelo Cavaco e família, foi negócio sério e completamente de acordo com o comportamento devido a um Presidente da Republica, pode tentar lavar o que quiser, mas nunca se esqueça que os Portugueses todos presenciaram e viram cenas a mais para terem opinião sobre esse presidente de má memória e dos seus apaniguados que saiu pela porta pequena, por muito que se pense acima de todos os outros, e o referido jornalista só demonstra que não é sério ao querer lavar o que não sai nem com lixivia.

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