30 ago, 2016 - 00:17 • José Alberto Lemos, correspondente nos EUA
Três votações, três vitórias. António Guterres voltou a demonstrar esta segunda-feira que é o candidato mais bem colocado para ocupar o cargo de secretário-geral das Nações Unidas.
Na terceira votação efectuada pelo Conselho de Segurança, o antigo primeiro-ministro português voltou a surgir em primeiro lugar destacado. Guterres teve 11 votos positivos ("encorajadores" na terminologia da ONU), três "desencorajadores" e um "sem opinião".
Em relação à votação anterior, Guterres piorou um pouco já que tinha tido apenas dois desencorajadores e dois sem opinião. Em teoria, um dos votos sem opinião transformou-se em desencorajador, mas na prática consolidou a sua posição de líder desta corrida a secretário-geral porque não só se mantém como o único candidato estável na primeira posição como vê os seus adversários mais directos mudar de votação para votação, o que o deixa muito mais à vontade na disputa pelo cargo.
A surpresa desta terceira votação foi o facto de ter surgido em segundo lugar um candidato que tinha passado despercebido nas votações anteriores. E ainda o facto de a argentina Susana Malcorra ter descido de terceiro para quinto lugar, quando se suspeitava que pudesse melhorar a sua posição relativa e ameaçar Guterres.
Na verdade, quando há cerca de duas semanas, o secretário-geral Ban Ki-moon manifestou a sua preferência por uma mulher para lhe suceder gerou-se a convicção que a sua ex-chefe de gabinete poderia ser favorecida pelas declarações, mas não foi isso que sucedeu.
Malcorra passou de oito votos positivos para sete e de seis negativos para sete, com um sem opinião, o que lhe valeu uma descida na tabela de terceiro para quinto lugar. Se esta votação poderia testar a influência de Ban Ki-moon na escolha do seu sucessor, o mínimo que se pode dizer é que o secretário-geral não conseguiu condicionar a opinião dos membros do Conselho de Segurança. Nem Malcorra logrou recolher mais votos no seu trabalho diplomático de bastidores.
A outra surpresa foi o facto de ter surgido em segundo lugar o ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, Miroslav Lajcak, que nas votações anteriores tinha tido resultados irrelevantes. Com nove votos favoráveis, cinco desfavoráveis e um sem opinião, o diplomata eslovaco subiu à segunda posição, naquilo que a primeira vista parece ser um epifenómeno idêntico ao de outros candidatos que estiveram bem colocados e que passaram entretanto a posições subalternas. O caso mais relevante é o do ex-presidente esloveno Danilo Turk que depois de surgir em segundo lugar na primeira votação aparece agora na oitava posição.
No entanto, esta votação em Miroslav Lajcak vem provar, mais uma vez, que os desígnios diplomáticos da ONU são insondáveis e que esta corrida a secretário-geral só estará resolvida quando o Conselho de Segurança indicar um nome - e apenas um nome - a Assembleia Geral para ser votado, talvez lá para Outubro.
Quem recuperou relevância foi a búlgara Irina Bokova, directora-geral da UNESCO, que depois de ter descido de terceira para quinta, regressa agora a terceira posição com sete votos positivos, cinco negativos e três sem opinião. Bokova terá o apoio da Rússia, o que poderá explicar alguma constância nas suas votações.
Mas a maior constância nas três votações foi até agora a de António Guterres, que após estes três testes relevantes se mantém como inequívoco líder da corrida. E se na sequência da votação anterior parecia que a argentina Susana Malcorra estava em ascensão e tinha trunfos importantes para jogar - designadamente o apoio implícito de Ban Ki-moon e um conhecimento detalhado do aparelho da ONU - agora com esta terceira votação não se vislumbra ninguém com consistência suficiente para bater Guterres. O antigo primeiro-ministro português e o único que mantém a mesma posição desde o início do processo de escolha - a liderança da corrida - e ninguém até agora conseguiu reunir votos suficientes para se tornar um rival sério de Guterres.
Apenas a búlgara Irina Bokova mantém alguma estabilidade nas votações, o que lhe permitirá talvez acalentar a esperança de disputar com Guterres o cargo de líder das Nações Unidas. Numa altura em que há uma considerável pressão para eleger uma mulher para o cargo, os 15 membros do Conselho de Segurança voltaram a mostrar pouca sensibilidade para o assunto.
Guterres agradece.