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Hospitais da Grande Lisboa com 50% de "falsas urgências"

18 ago, 2016 - 07:23

Em 12 unidades de saúde, os casos não urgentes representam 40% das idas às urgências e em oito a percentagem sobe aos 50%. “Falta de respostas” é a razão apontada.

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No primeiro semestre deste ano, as urgências dos hospitais portugueses registaram 3,2 milhões de atendimentos, mais 134 mil do que em igual período de 2015. Nos hospitais da Grande Lisboa, quase metade dos atendimentos (46,6%) são consideradas "falsas" urgências, o valor mais alto das cinco regiões de saúde do país. Os dados da Administração Central do Sistema de Saúde são divulgados esta quinta-feira pelo “Diário de Notícias”.

Dos 13 hospitais da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa, cinco viram aumentado o número das "falsas" urgências (pulseiras verdes, azuis e brancas). Entre eles estão o Centro Hospitalar de Lisboa Norte de Loures e o Garcia de Orta.

A Grande Lisboa é o caso mais flagrante, mas o recurso às urgências com casos não urgentes aumentou em 22 hospitais do país.

No Norte, a situação é menos acentuada, mas não está livre de problemas: três unidades de saúde integram o “top 8” das pulseiras verdes, azuis e brancas. São elas o caso do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim, Santa Maria Maior e Hospital Senhora da Oliveira.

Portugal é um dos países da OCDE com maior volume de idas às urgências.

"Falta de respostas", mais do que desconhecimento

A presidente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), Marta Temido, aponta a falta de respostas existente por parte das unidades de saúde como origem do problema.

“Penso que há um misto e esse misto, nalgumas regiões, será mais falta de respostas do que a questão de os utentes não terem conhecimento. Sabemos que Lisboa tem de facto falta de respostas. Conseguimos agora a colocação de um conjunto de novos médicos de família na zona da ARSLVT, mas é algo que ainda está em processo de montagem e implementação efectiva”, afirma à Renascença.

Marta Temido analisa ainda que, “nesta área geográfica, há uma concentração de população e de hospitais que levam a que a população, por razões culturais, se dirija ao serviço de urgência em vez de se dirigir aos cuidados de saúde primários”.

Certo é que “os números não estão a acompanhar aquilo que era o objectivo”, que era reduzir em 10% as urgências hospitalares, poupando assim 48 milhões de euros por ano.

A presidente da ACSS mostra-se, contudo, esperançada de que as medidas já tomadas pelo Governo possam inverter a tendência. “Há, decorrente do último concurso de colocação de médicos de medicina geral e familiar e da atribuição de mais médicos de família aos portugueses, uma expectativa de que algumas destas situações venham a ser corrigidas no curto prazo”, destaca.

"É abusivo e culpa os doentes"

Ao DN, o presidente da Associação dos Médicos de Família lembra que 20% da população lisboeta não tem médico de família e que que faltam 400 médicos na área de Lisboa e Vale do Tejo.

Também ouvido pelo jornal, o bastonário da Ordem dos Médicos critica falar-se em "falsas urgências", pois coloca o ónus no doente. “É abusivo e culpa os doentes”, afirma José Manuel Silva, dado que “as pessoas não têm capacidade para avaliar a sua situação”. É a triagem de Manchester "que define prioridades e não urgências", sublinha.

[Notícia corrigida às 15h33]

Comentários
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  • Bento Fidalgo
    09 jan, 2017 Agualva 12:19
    Quando os médicos dos serviços de saúde trabalharem de segunda a sexta nos ditos, não sendo permitido outro trabalh extra, com vencimentos equiparados aos privados e deixarmos de esperar 1 ou 2 meses por uma consulta e meses por um exame e um ano por uma consulta de especialidade vai haver menos gente nas urgências e mais camas disponíveis nos hospitais pois evitará este sistema que os doentes piorem e precisem de urgência, internamento e intervenção cirúrgica. Agora alguém terá que deixar de ser alarve e querer ser rico, depressa, e sem olhar a meios. Ah Pois!!!! Depois vai confessar-se e fica de bem consigo mesmo.
  • Manuel
    18 ago, 2016 Lisboa 17:36
    Pela parte que me toca este ano já fui umas 6 ou 7 vezes ás urgencias e a maioria das vezes com o mesmo problema. Muita gripe, dores no peito e costas etc, o que deu sempre pneumonia e realmente de inicio eram medicamentos para as dores, constipação etc. E porque a ida ao hospital. Primeiro o centro de saúde e medico de familia só tem vagas para daqui a não sei quantos dias, depois em caso mais agudo como foi o caso no centro de saúde enviam para o hospital realizar um rx (no hospital é na hora). O problema resolve-se dando aos centros de saude mais equipamento, mais médicos, um horário mais alargado e mais meios para se poder fazer uma avaliação, assim se evitaria ir ás urgencias. Com o sistema que temos é melhor ir logo a fonte segura onde bem ou mal somos atendidos..
  • Armando
    18 ago, 2016 Lisboa 11:33
    Fala-se muito no tempo de espera para uma consulta no Centro de saúde. Eu devo ser um privilegiado porque normalmente quando preciso de ir ao Centro de saúde (Lisboa - Sete Rios) sou atendido no mesmo dia, sem marcação prévia.
  • rosinda
    18 ago, 2016 palmela 10:52
    Nos postos de famila anda-se a mendigar uma consulta! Pelo menos no hospital quando nos da o badagaio a seria ficamos logo la!
  • Alexandra
    18 ago, 2016 Cartaxo 10:28
    É fácil de perceber o porquê quando os centros de saúde fecham cada vez mais dias e cada vez mais cedo nos dias que estão abertos. Os médicos de família são insuficientes para o número de doentes. Tem de se recorrer a algum lado, não?
  • Casimira Henriques
    18 ago, 2016 Santo Isidoro 10:03
    Também é muito complicado estar o doente internado há 12 dias ter um TAC pedido pela médica que operou o doente a um cancro na garganta, requisitado em Outubro do ano passado (2015) pela médica que o operou e novamente requisitado neste internamento e ainda não se saber quando vai ser executado. O doente está a ser alimentado com líquidos e soro por não conseguir engolir outros alimentos. O TAC demora cerca de 15 minutos a ser executado.
  • Alberto Sousa
    18 ago, 2016 Portugal 09:38
    Pudera, com a demora que há nas consultas nos centros de saúde. A minha médica só tem vaga para daqui a 5 meses!!! e quem for ás consultas de recurso (abertas) se tiver sorte e for cedo tem médico e vaga senão...que vá para o hospital. A incompetência governativa dá nisto.
  • João Gonçalves
    18 ago, 2016 Famalicão 09:33
    Bom dia Independentemente do rastreio nas Unidades Hospitalares e a atribuição da respectiva pulseira , ficam as minhas duvidas : Como pode o paciente Diagnosticar a Gravidade do seu caso ? somos aconselhados a Ligar para a Linha Saúde 24 , será que atendem ? No passado dia 6/8 liguei para a Linha saúde 24 onde estive mais de 15 minutos a ouvir gravações , ninguém atendeu ou não quiseram atender dirigi me ( com um Familiar ) a uma unidade de saúde foi diagnosticado uma Pancreatite aguda https://pt.wikipedia.org/wiki/Pancreatite_aguda , até ao dia de Hoje a Pessoa ainda está internada Senhores Governantes e afins deixem de ser Hipócritas e não passem atestados de estupidez ao Povo Português Pagamos os nossos impostos , temos o direito a saber a verdade , ou a vossa verdade é que os Portugueses vão ás Urgências fazer Turismo?
  • Mafurra
    18 ago, 2016 Lisboa 09:12
    Enquanto as falsas urgências não forem sujeitas a coimas isto vai continuar...
  • Filipe
    18 ago, 2016 Porto 08:35
    Tal é explicado pela falha na acessibilidade dos cuidados de saúde primários. Se demorar semanas a conseguir uma consulta num centro de saúde não é de admirar que quando a pessoa está com uma gripe acorra às urgências já que quer ver o seu problema resolvido. Quando houver boa acessibilidade aos cuidados de saúde primários, tal deixará de ser problema.

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