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Ser fiel à operadora compensa, mas cuidado com os divórcios

17 ago, 2016 - 18:14 • João Carlos Malta

Operadoras oferecem vantagens que podem ir quase até aos 1.500 euros em dois anos. Mas a Deco alerta para a nebulosa que ainda existe em relação à cessação de contratos antes do tempo e as consequências.

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As operadoras de telecomunições estão a usar grandes promoções para seduzir os clientes a assinar contratos de fidelização por dois anos. Esta é talvez a consequência mais visível do impacto da nova lei das telecomunicações, que entrou em vigor na terça-feira.

O novo enquadramento legal permite aos consumidores fazerem contratos sem qualquer período de fidelização, com períodos mais curtos (de seis e 12 meses) ou com os tradicionais 24 meses.

Nos pacotes mais elaborados, em que há ofertas de televisão, telefone fixo, internet e telemóvel, as promessas de poupança da Meo, da Zon e da Vodafone começam por volta dos 600 euros e podem chegar aos 1.500 euros nos contratos de 24 meses.

Mas há ainda outras ofertas. No caso da Vodafone são ainda oferecidos outros serviços, como três meses exclusivos de Netflix (canal de séries pago). Na Meo são dados ao cliente 500 "megabytes" de internet por cada cartão de telemóvel durante seis meses. A Nos agracia os clientes com um cartão de descontos para o cinema.

Já nos contratos sem fidelização as mensalidades são em regra mais caras. As diferenças podem chegar aos 45 euros por mês. A este acréscimo há ainda que somar o custo de activação do serviço, que pode variar entre 350 e os 400 euros.

Operadoras estão a "penalizar" consumidores

Estes dados levam o jurista da Deco Paulo Fonseca a concluir que as ofertas para os contratos sem fidelização “têm valores bastante avultados”.

“Preocupa-nos que as operadoras estejam a penalizar os consumidores que não querem ter um período de fidelização”, afirma.

O jurista percebe que se o consumidor não tem uma fidelização não pode beneficiar das promoções, mas também “não pode ser sancionado por ter um contrato sem fidelização.”

“Isso era estar a retroceder e obrigar os consumidores a fazerem contratos de 24 meses. Não é isto que se pretende”, sublinha o jurista.


AS TRÊS PRINCIPAIS MUDANÇAS DA NOVA LEI:

1. Mais liberdade: A maior parte dos operadores canalizava todos os consumidores para períodos de permanência mínima de 24 meses. Agora, são obrigadas a disponibilizar ofertas com períodos de 24 meses, de 12 meses, de 6 meses e sem fidelização. Há mais liberdade de escolha e o consumidor passa a poder escolher não só o produto a que se adequa o seu perfil, mas também o período de fidelização que pretende.

2. Fidelidade só com vantagem: A lei limita a fidelização à existência de uma vantagem, algo que não existia até agora. Desde que existisse a informação de um período de informação, o operador podia cobrar tudo o que quisesse. A partir de agora, o operador está limitado à existência de uma vantagem objectiva para o consumidor, que tem de ser identificada e quantificada, para cobrar uma possível cessação do contrato.

3. Refidelização: Esta é a palavra do dia para o consumidor. Até agora era normal que, quando o período de fidelização estava a chegar ao fim, o consumidor recebesse uma chamada do operador prometendo uma melhoria na velocidade da internet e um novo período de fidelização. Assim, os clientes acabam por estar agarrados ao mesmo contrato apenas por uma actualização do canal. Actualmente, isso só pode acontecer se houver uma renovação dos equipamentos ou da infraestrutura tecnológica, como, por exemplo, subidas na velocidade da internet. Novos canais não justificam, só por si, novos períodos de fidelização.


Paulo Fonseca apela a que o regulador, que diz ter os poderes reforçados com a nova lei, verifique o montante cobrado por entrada no contrato, e veja se essa quantia corresponde a uma vantagem idêntica a que teria se tivesse permanecido seis, 12 ou 24 meses.

A fase de mudança nos contratos dos consumidores com as operadoras, segundo Paulo Fonseca, é uma época em que “infelizmente” se deve estar particularmente atento.

“Quando entram em vigor novas leis que até visam proteger os consumidores, e em que devíamos estar mais descansados, aí é que temos de estar mais atentos. Muitas vezes, há leituras criativas ou interpretações criativas [das operadoras] e é preciso haver um cuidado redobrado para analisar os tarifários e o que se vai pagar”, afiança.

Vodafone é excepção

Paulo Fonseca esteve a analisar os dados já disponibilizados pelas operadoras e critica que os consumidores que optam por uma fidelização de 24 meses não possam verificar quais os encargos que têm “se saírem ao terceiro mês ou o que acontece se saírem ao 11.º mês”. “Isto é uma falha muito grave”, enfatiza.

O único que o faz é a Vodafone, que escreve que, “em caso de desactivação durante o período de fidelização, o valor total dos encargos devidos será igual ao período de duração do contrato em falta, multiplicado pelo total das vantagens conferidas, repartidas pelo total de meses de fidelização. Este valor será proporcional às vantagens que foram conferidas na adesão ao serviço que, na proporção do período de duração do contrato fixada, ainda esteja por recuperar pela Vodafone.”

“O valor mensal de encargos depende das condições da oferta subscrita, como, por exemplo, os valores relativos à activação, instalação, portabilidade e desconto especial da campanha”, acrescenta a operadora no seu site.

Paulo Fonseca garante que, em qualquer contrato, o operador “tem de provar que informou sobre o período de fidelização e qual o valor a pagar [em caso de rescisão]. Se isto não suceder o consumidor não terá de pagar qualquer tipo de fidelização.”

Comentários
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  • Pastorinho dala
    19 ago, 2016 ANGOLA 09:43
    Gostei da a aprovação do parlamento, das TIC, pois ajudará no crescimento da telecomunicações, acredito que é uma escolha sábia .Teremos mais conhecimento, de manejar , a fidelização, não poderemos violar os principios ditos. Agora só nos vai restar cumprir com a ordem dita.
  • Vasco
    18 ago, 2016 Santarém 23:28
    E que tal obrigar as operadoras a baixar os preços e a aumentar as ofertas como em França por exemplo! Por cá continuam a roubar como querem e vão arranjar outras formas de o fazer porque a lei assim o permite e isto mais parece um presente envenenado.
  • AGS
    18 ago, 2016 AMADORA 17:09
    A minha maezinha já morreu há muitos anos .Mas lembro-me de ela dizer simplesmente PODE MUDAR DE MOLEIRO . MAS NÂO MUDA DE LADRÂO . Vejam como em 100 anos nada muda .
  • Rui
    18 ago, 2016 Lisboa 09:11
    Só acho piada, em casos como a MEO, o valor da instalação com esta nova "regra" passou de cerca de 120 Eur para cerca de 350 Eur. É como já disse um "forista", não é só atribuir valor às ofertas, tem de haver proporcionalidade. Como é que um serviço que quando contratado individualmente custa 5 ou 6 Eur, num pacote de serviço é valorizado em 30 ou mais por mês??
  • Tone Quim
    18 ago, 2016 Vila Chã 01:44
    Televisão é coisa do século passado. Os tugas ainda não perceberam isso e continuam com ideias bacocas de terem 100 canais todos a emitirem programas em simultâneo. Em pleno séc. XXI acreditem que a única coisa de que precisam é de uma boa ligação à internet e, ao contrário dos tugas, as operadoras já se aperceberam disso há muito e é por isso que só têm boas ligações à internet em pacotes que incluem televisão. Eu, sem ver TV consigo ter acesso a programas, filmes, séries e notícias muito mais rapidamente do que a grande maioria das pessoas que tem 100 canais em casa, e n estou a falar de pirataria. O facto de não existir oferta de contratos apenas com boas ligações à internet continua a ser um grave problema em Portugal. Mas as operadoras sabem o que fazem, só querem ver os lucros a aumentar e fazem tudo para que isso aconteça. Esta moda +/- recente do 4play, 5play, Nplay com telemóveis incluídos em que põem os clientes a pagar uma mensalidade fixa que inclui coisas (minutos infindáveis nos telemóveis, canais que ninguém vê, entre outras coisas) que a maioria nem vai usar (mas têm de ser sempre pagas na mensalidade fixa) é o espelho disso mesmo e beneficiam mais as operadoras do que os clientes, se assim não fosse não insistiam tanto para prenderem os clientes a esse tipo de contractos. Eu só tenho TDT, uma box que lê todos os formatos de vídeo e mais alguns e net do vizinho (ou de quem estiver mais perto) enquanto n existirem pacotes decentes só com internet em Portugal.
  • Luis
    18 ago, 2016 Beja 01:18
    Não estão a fazer grandes promoções para os 24 meses de fidelização (que por si só já são pacotes caros). Estão é a fazer marketing terrorista para as restante fidelizações...
  • Powerverde
    18 ago, 2016 Coimbra 01:13
    A confusão e raiva que se vê nestes comentários advém da falta de informação das operadoras aos consumidores. O serviço 3p na Meo já custa € 49,99 à anos; o problema é que com as várias campanhas (com fidelização) que foram lançadas, os preços que aparecem nos folhetos/site são os promocionais. Como o Zé Povinho nunca lê as letras miudinhas, nunca se apercebeu disto. Obviamente que na Nos, Vodafone e Cabovisao aconteceu o mesmo. Agora que há informação sobre pacote sem fidelização, o valor sem promoções é o que aparece, ou seja, o valor de tabela. Logo, meus caros, nenhuma empresa está a inflacionar preços; apenas estão a mostrar os preços tabelados e que ninguém pagava porque nem sabiam que havia opção sem fidelização.
  • Marques
    18 ago, 2016 Coimbra 01:08
    Com que fundamento aumentam contratos fidelizados 3 e tal % ao ano? Nos dois últimos anos a inflação foi de 0,5% e a MEO, por exemplo, aumentou o valor em cerca de 7% e ainda argumentou que foi aprovado pelo regulador. Porque é que a adesão à fatura aletrónica implica adesão a comunicações e notificações eletrónicas embutidas na fatura? Porque é que certas cláusulas do contrato dizem uma coisa e seguir vem outra a dizer o contrário: é o caso das referentes às penalizações por rescisão dentro do período de fidelização na situação em que a operadora altera o preço ou as condições. Porque é que quando a MEO informa, na fatura, que no dia 1 do Mês X+1 entram em vigor novos preços e condições e que saiba mais a partir do dia 1 do Mês X, nada se fica a saber com exatidão sobre as alterações ao contrato de cada um indo a MEO.pt ou ligando 16200, no prazo estipulado pelo contrato e a tempo e ativar a cláusula de rescisão sem penalização? Certo é pagar a chamada para obter informações (ou não) e a conta na fatura já com o novo preço. Por último, para quem trabalha afinal o dito regulador e o que faz de útil?
  • Bento Fidalgo
    18 ago, 2016 Agualva 01:03
    O nosso maior problema, em todos os setores, é que as leis não são feitas para atingir os objetivos para os quais foram propostas. Quando saem já vêm de tal modo adulteradas, esburacadas e marcadas de interesses que fermentam a confusão necessária para serem aplicadas a gosto e interesse encomendado, de quem faz, julga ou vota e aplica. De tal modo que é preciso, será mesmo !!? um tribunal constitucional para interpretar leis, que qualquer político ou governante deveria saber ler e interpretar leis para as fazer e implementar. As leis são camaleónicas, como quem as faz, interpreta e aplica, só servem interesses de quem está no sítio certo na hora exata, ou sabe onde estão os desvios ao objetivo das mesmas. Alguém gosta muito de nos ouvir(ou ler) a reclamar uns com os outros porque , não só as leis mas os ideários políticos são feitos de modo que justificamos sempre a nossa razão. Os nossos são sempre os maiores e os outros têm sempre a culpa. .Portanto, a lei está feita, mas por que estaremos todos tão desconfiados, sem sabermos o aí vem? Será que não sabemos ler? Ou vem escrito à portuguesa, que dá para ler conforme nos interessa e não segundo o objetivo para o qual ela foi feita?
  • Domingos Campos
    18 ago, 2016 Lisboa 00:21
    OÓ JOAO MAGALHAES, os donos das operadoras não querem saber dos salários das pessoas que trabalham na empresa e das pequenas empresas que trabalham com as operadoras, querem saber como disso de ter mais um Ferrari, ou iate, ou jacto particular. O que não deixa de ser legítimo, desde que não seja a pagar (exploração) e por tarifários inflacionados de modo a levar a maioria dos clientes irem para a fidelização de 24 meses, que é isso que elas pretendem, amarrar o consumidor. O resto é "estória", não existe argumentação face a isto, tudo o que disserem passa ao lado.

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