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Não fiquem no sofá, sejam protagonistas da História, pediu o Papa aos jovens

30 jul, 2016 - 22:05

Vigília da Jornada Mundial da Juventude juntou mais de um milhão de jovens no Campo da Misericórdia, onde vão passar a noite.

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Não fiquem no sofá, sejam protagonistas da História, pediu o Papa aos jovens

O Papa pediu aos jovens reunidos na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na Polónia, que sejam livres e protagonista da História, da história pessoal e da história do mundo. “É certo que a droga faz mal, mas há muitas outras drogas socialmente aceitáveis, que acabam por nos tornar em todo o caso muito mais escravos. Umas e outras despojam-nos do nosso bem maior: a liberdade”, afirmou Francisco na vigília que decorreu este sábado à noite no Campo da Misericórdia, nos arredores de Cracóvia.

Para Francisco há dependências piores que a droga e há uma situação que paralisa mais do que o medo. É o que chamou de “felicidade de sofá” e explicou: “Acontece quando confundimos a felicidade com um sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos, nem nos preocuparmos. Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar.”

E Francisco continuou a explicar o perigo aos jovens: “Pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos. Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; para muitos, isto resulta mais conveniente do que ter jovens vigilantes, desejosos de responder, de responder ao sonho de Deus e a todas as aspirações do coração.”

Depois perguntou-lhe se querem ser jovens adormecidos ou se querem ser livres e lutar pelo futuro, entrando num diálogo com a imensa multidão que a organização da JMJ já estima seja de milhão e meio de pessoas.

“Para seguir a Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada atitude de misericórdia. Caminhar pelas estradas seguindo a ‘loucura’ do nosso Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no faminto, no sedento, no maltrapilho, no doente, no amigo em maus lençóis, no encarcerado, no refugiado e migrante, no vizinho que vive só. Caminhar pelas estradas do nosso Deus, que nos convida a ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores sociais; que nos encoraja a pensar uma economia mais solidária”, exortou Francisco.

Alguns, continuou o Papa, podem pensar que “isto não é para todos, mas só para alguns eleitos”, mas é para “todos aqueles que estão dispostos a partilhar a sua vida com os outros”. E o pecado também não é desculpa, porque Jesus, quando chama, “está a ver tudo aquilo que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar” e “aposta sempre no futuro, no amanhã”. “Jesus olha-te projectado no horizonte, não num museu”, acentuou Francisco, que também usou uma metáfora futebolística.

“O tempo que hoje estamos a viver não precisa de jovens-sofá, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, com as botas calçadas. Este tempo só aceita jogadores titulares em campo, não se pode ficar no banco”, disse o Papa, fazendo eco do convite: “Jesus convida-te, chama-te a deixar a tua marca na vida, uma marca que determine a história, que determine a tua história e a história de muitos.”

Francisco disse ainda que os adultos precisam que os jovens os ensinem a viver na diversidade e no diálogo, os ensinem que mais fácil construir pontes do que levantar muros e convidou todos a darem as mãos como sinal de que essa é a primeira ponte a construir.

Noite ao relento

A vigília começou com os testemunhos de três jovens: uma síria, uma polaca e um paraguaio. Rand Mittri veio de Aleppo, uma das cidades sírias mais atingidas pela guerra, para contar como se vive numa “cidade esquecida” e mesmo assim se tem esperança e alegria.

A polaca Natalia contou como, tendo uma carreira de sucesso, acordou um dia sem encontrar sentido para a vida, entrou numa igreja, confessou-se e a sua vida se começou a transformar num Domingo da Misericórdia.

Miguel relatou como para si o conceito de família era inexistente e começou uma vida de toxicodependência, delitos e prisões aos 11 anos, até que foi visitado por um padre na prisão que o convidou a recuperar na Fazenda da Esperança, no Brasil. Hoje é responsável por uma parte da Fazenda da Esperança no Uruguai e há dez anos que está recuperado.

“Sois um sinal vivo daquilo que a misericórdia quer fazer em nós”, disse-lhes o Papa no seu discurso a que se seguiu um momento de oração, com Adoração do Santíssimo.

O campo, onde foi anoitecendo à medida que o Papa falava e rezava, encheu-se depois de luzes das velas que os jovens seguravam.

A grande maioria dos participantes da JMJ passa a noite no Campo da Misericórdia, onde este domingo de manhã tem lugar a missa de encerramento da jornada, também presidida pelo Papa Francisco, que irá anunciar onde e quando se vai realizar o próximo grande encontro dos jovens católicos.

A Renascença com o Papa Francisco na Polónia. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Comentários
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  • M.Amelia Silva Pinto
    31 jul, 2016 Lisboa 00:51
    Grande Obrigada por este serviço à missão, espectacular.

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